RECIFE: Polêmica que brota do mangue
BRASIL – Recife - URBANISMO Polêmica que brota do mangue Paisagistas defendem a poda de árvores e do mangue para deixar mais visíveis o Capibaribe e o casario histórico ao longo do rio, junto ao projeto de drenagem do rio, que começa em outubro Foto: Divulgação Postado por Toinho de Passira Foto: Toinho de Passira/Passiranews A vegetação poderia ser mantida, na avaliação de Luiz Vieira, na parte mais larga do Rio Beberibe, logo após o Palácio do Governo até a Ponte do Limoeiro, que liga o Bairro do Recife à Avenida Norte. Nesse trecho, o efeito do mangue é positivo na paisagem, comenta. A dragagem do rio, para criar um canal de navegação no Capibaribe, seria a oportunidade ideal para debater o assunto na cidade, argumenta. O manguezal do Capibaribe, diz Ana Rita, foi registrado no século 17 pelo pintor holandês Frans Post (1612-1680), primeiro europeu a retratar as paisagens brasileiras. A pesquisadora concorda com a poda de manutenção de trechos da vegetação, para permitir a abertura de grandes janelas e dar mais visibilidade aos edifícios históricos.
Biólogo e pesquisador do Laboratório da Paisagem da UFPE, Joelmir Silva propõe a substituição gradual do mangue branco (Laguncularia racemosa) plantado na década de 80, que pode atingir 20 metros de altura, por outra espécie de menor porte. Um estudo de impacto ambiental pode orientar a substituição. Embora a contemplação dos monumentos esteja prejudicada, o mangue tem a função de limpeza do rio, afirma o biólogo.
Peixes, caranguejos e garças se alimentam no manguezal do Capibaribe. Há uma cadeia alimentar formada há cerca de 20 anos e que será prejudicada com a retirada da vegetação, alerta o biólogo. O mangue (coletado na área próxima à Igreja de Santo Amaro das Salinas, no Centro) foi plantado na gestão do então prefeito Jarbas Vasconcelos (1986-1988) na lateral da Casa da Cultura. Com o passar dos anos, espalhou-se pelo rio. Protegido por lei federal, o manguezal é uma Área de Preservação Permanente (APP) e não pode ser derrubado ou sofrer intervenções, exceto em caso de utilidade pública. (A Lei Federal nº 4.771/65 cria a APP e a Resolução nº 369/2006, do Conselho Nacional do Meio Ambiente, proíbe a derrubada da vegetação). Desde o século 16 havia mangue no Capibaribe, o ecossistema desapareceu com os aterros do rio, informa José Zanon Passavante, professor do Departamento de Oceanografia da UFPE. O mangue, diz ele, fornece alimento para crustáceos, peixe-boi e peixes de modo geral, contribui para a limpeza do rio e embeleza a cidade. A vegetação é típica do estuário, área onde a água do mar é diluída pela do rio. No Recife, o estuário vai do Centro até a Madalena, afirma Zanon. Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Estado, Sérgio Xavier aposta no equilíbrio. Os arquitetos poderiam apresentar um projeto que preservasse a área verde e abrisse a paisagem para os monumentos históricos. É possível ter o mangue e o casario, diz ele. O mangue na cidade captura dez vezes mais gás carbônico do que a vegetação terrestre e o Recife precisa melhorar a qualidade do ar. O projeto de dragagem do Capibaribe prevê a abertura de um canal com 36 metros de largura (o serviço não será feito de uma margem à outra) e 2,5 metros de profundidade, para criação do transporte fluvial. Uma rota de 11 quilômetros ligará o Centro até a BR-101. Outra, de 2,9 quilômetros, vai da Rua Sol à Tacaruna. A dragagem prevê estudos prévios e o mangue está contemplado, diz Ana Suassuna, secretária-executiva das Cidades. Segundo ela, o Plano de Controle Ambiental, que será licitado e levado a público, vai orientar a intervenções. É cedo para se falar em poda ou supressão do mangue. *Acrescentamos subtítulo, fotos e legendas ao texto original |
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