18 de ago. de 2012

Atleta tunisiana, medalha de prata, acusada, por patrícios radicais, de ter corridor “nua” em Londres

TUNÍSIA
Atleta tunisiana, medalha de prata, acusada, por patrícios radicais, de ter corridor “nua” em Londres
Habiba Ghribi foi a primeira mulher tunisiana a subir num pódio olímpico. A glória não foi bem aceita no seu país, por ela ter disputado a prova com braços, pernas, barriga e umbigo à mostra e sem véu. Pela internet foi dito que ele deveria inclusive perder a cidadania, por ter envergonhado o país

Foto: Stu Forster/Getty Images

DIREITO DE EXIBIR O UMBIGO - Habiba, ao invés de ser motivo de orgulho, escandalizou conterrâneos por causa da indumentária de atleta que usou para competir e vencer

Postado por Toinho de Passira
Fontes: Aljazeera, Veja, Tunisia Live, El Pais - Blog, Folha de S. Paulo, National Post Sport

A atleta Habiba Ghribi não cabia em si de tanta alegria em ser a primeira mulher tunisiana a subir num pódio olímpico. Habiba foi medalha de prata nos 3.000 metros com barreiras e dedicou sua vitória a todos os compatriotas, em especial às mulheres. O problema é que muitos tunisianos não gostaram da forma como ela se apresentou na prova e chegaram a pedir a “cassação” de sua nacionalidade, pelas redes sociais, que se entupiram de mensagens agressivas e indignadas, contra a atleta.

Foto: Reuters

PSICOLOGICAMENTE NUA - Habiba, disputou a prova como as outras atletas, calção curto, top colado ao corpo e com o umbigo à mostra: nua, na opinião de alguns dos seus conterrâneos

Habiba, de 28 anos, disputou a final da prova no Estádio Olímpico de Londres, no dia 6 de agosto, como todas as outras atletas: de calção curto, sapatilhas e top colado ao corpo. A revolta dos mais conservadores ocorreu porque estava com braços e pernas à mostra, além, claro, de exibir o abdômen. “A Tunísia não precisa de mulheres que corram nuas”, escreveu um indignado leitor no Facebook, segundo publicou o site do diário espanhol El País. Outro “pecado” de Habiba foi competir sem o lenço que cobre a cabeça, o hijab.

Oficialmente o governo tunisiano comemorou o feito e elogiou a atleta:

"Pouco antes do Dia da Mulher, Habiba medalha de prata histórica veio como um presente a todas as mulheres tunisinas, enquanto eles celebram o dia importante. Ela provou que, apesar de todas as dificuldades mulheres tunisinas pode ganhar seu lugar como pioneiros em todos os campos ", declarou Sihem Badi, o ministro tunisino dos Assuntos das Mulheres, na página oficial do Facebook do Ministério da Juventude e Desportos.

Fotos: Reuters

DESAFIO EM DOBRO - A judoca saudita Wojdan Shaherkani e a belocista afegã Tahmina Kohistani, lutando e correndo também e principalmente contra o preconceito

Ainda segundo o El Pais, outras atletas árabes também foram insultadas nesta Olimpíada. A judoca saudita Wojdan Shaherkani – eliminada na primeira luta - foi chamada de prostituta e a afegã Tahmina Kohistani, que disputou a prova dos 100 metros rasos e ficou em último nas eliminatórias, foi classificada de “vergonha nacional”.

Mas a controvérsia sobre Ghribi exacerbou o debate sobre a igualdade de gênero na Tunísia um tema quente no país que deu origem à Primavera Árabe.

A Tunísia é um dos poucos países que protegem os direitos básicos das mulheres no mundo árabe. Ghribi, ao contrário de concorrentes sauditas e afegãs, pode competir sem o hijab.

Nesta segunda, 11, tunisianas foram às ruas para protestar contra o que veem como uma artimanha islâmica que inverteria o princípio da igualdade de gênero que fez da Tunísia, há seis décadas, o farol da modernidade no mundo árabe.

Um dos novos artigos propostos para a Constituição, segundo elas, poderá comprometer os direitos consagrados no Código de Estatuto Pessoal (CSP), promulgado em 1956 pelo primeiro presidente da Tunísia, Habib Bourguiba.

Nesse código foi abolida a poligamia, em que os homens muçulmanos poderiam ter até quatro mulheres, e a prática de repúdio, em que os maridos podiam se divorciar simplesmente dizendo isso três vezes.

Ao mesmo tempo, a norma instituiu o divórcio não só judicial, mas também o casamento civil.

Foto: Getty Images

MULHERES COMPLEMENTARES - Protestos das tunisianas pela inclusão no projeto constitucional que afirma ser a mulher um “complemento” dos homens

Embora nenhum desses princípios sejam perdidos sob o artigo proposto, as ativistas temem que a linguagem utilizada em sua elaboração pode representar um recuo em relação aos direitos das mulheres. No texto, o lugar da mulher na sociedade é definido em termos de sua relação com os homens.

O artigo diz que o Estado garante "a proteção dos direitos das mulheres (...) sob o princípio de que elas complementam, o homem e a família, além de estarem associadas ao homem para desenvolvimento do país".

Tudo parece estranho e absurdo, visto agora daqui, mas até bem pouco tempo, a legislação brasileira não era muito diferente na abordagem em relação a mulher. Até 1988, as relações familiares eram regidas pelo Código Civil de 1916, que preconisava:

“Art. 233. O marido é o chefe da sociedade conjugal, função que exerce com a colaboração da mulher, no interesse comum do casal e dos filhos

Como se vê a mulher brasileira era até então, legalmente tratada como um “complemento”. Só há 24 anos, um espaço de tempo exíguo, em termos históricos, a abordagem mudou, com a promulgação da constituição de 1988. A carta magna atual que tem como princípio que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza...”; sacramentou essa igualdade, especificando: ”... homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações nos termos desta Constituição.”

Claro que mesmo com o advento da lei, as mulheres não adquiriram automaticamente todos os direitos que humana e legalmente possuíam. Tiveram que lutar muito e mesmo assim, muitas delas ainda estão longe de exercem na plenitude esses direitos.

Pode-se dizer porém, que desde então essa relação evoluiu, tanto, que uma delas, uma tal de Dilma Rousseff, acabou assumindo a presidência da república.

Foto: Reuters

ASSUSTANDO RADICIAIS - A vitória de Habiba, é muito mais que uma vitória olímpica, é uma simbólica vitória da mulher árabe contra o preconceito, daí ter assustado tanto os radicais.


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