TUNÍSIA Atleta tunisiana, medalha de prata, acusada, por patrícios radicais, de ter corridor “nua” em Londres Habiba Ghribi foi a primeira mulher tunisiana a subir num pódio olímpico. A glória não foi bem aceita no seu país, por ela ter disputado a prova com braços, pernas, barriga e umbigo à mostra e sem véu. Pela internet foi dito que ele deveria inclusive perder a cidadania, por ter envergonhado o país Foto: Stu Forster/Getty Images
DIREITO DE EXIBIR O UMBIGO - Habiba, ao invés de ser motivo de orgulho, escandalizou conterrâneos por causa da indumentária de atleta que usou para competir e vencer Postado por Toinho de Passira Fontes: Aljazeera , Veja, Tunisia Live, El Pais - Blog, Folha de S. Paulo, National Post Sport
A atleta Habiba Ghribi não cabia em si de tanta alegria em ser a primeira mulher tunisiana a subir num pódio olímpico. Habiba foi medalha de prata nos 3.000 metros com barreiras e dedicou sua vitória a todos os compatriotas, em especial às mulheres. O problema é que muitos tunisianos não gostaram da forma como ela se apresentou na prova e chegaram a pedir a “cassação” de sua nacionalidade, pelas redes sociais, que se entupiram de mensagens agressivas e indignadas, contra a atleta. Foto: Reuters
PSICOLOGICAMENTE NUA - Habiba, disputou a prova como as outras atletas, calção curto, top colado ao corpo e com o umbigo à mostra: nua, na opinião de alguns dos seus conterrâneos Habiba, de 28 anos, disputou a final da prova no Estádio Olímpico de Londres, no dia 6 de agosto, como todas as outras atletas: de calção curto, sapatilhas e top colado ao corpo. A revolta dos mais conservadores ocorreu porque estava com braços e pernas à mostra, além, claro, de exibir o abdômen. “A Tunísia não precisa de mulheres que corram nuas”, escreveu um indignado leitor no Facebook, segundo publicou o site do diário espanhol El País. Outro “pecado” de Habiba foi competir sem o lenço que cobre a cabeça, o hijab.
Oficialmente o governo tunisiano comemorou o feito e elogiou a atleta:
"Pouco antes do Dia da Mulher, Habiba medalha de prata histórica veio como um presente a todas as mulheres tunisinas, enquanto eles celebram o dia importante. Ela provou que, apesar de todas as dificuldades mulheres tunisinas pode ganhar seu lugar como pioneiros em todos os campos ", declarou Sihem Badi, o ministro tunisino dos Assuntos das Mulheres, na página oficial do Facebook do Ministério da Juventude e Desportos. Fotos: Reuters
DESAFIO EM DOBRO - A judoca saudita Wojdan Shaherkani e a belocista afegã Tahmina Kohistani, lutando e correndo também e principalmente contra o preconceito Ainda segundo o El Pais, outras atletas árabes também foram insultadas nesta Olimpíada. A judoca saudita Wojdan Shaherkani – eliminada na primeira luta - foi chamada de prostituta e a afegã Tahmina Kohistani, que disputou a prova dos 100 metros rasos e ficou em último nas eliminatórias, foi classificada de “vergonha nacional”.
Mas a controvérsia sobre Ghribi exacerbou o debate sobre a igualdade de gênero na Tunísia um tema quente no país que deu origem à Primavera Árabe.
A Tunísia é um dos poucos países que protegem os direitos básicos das mulheres no mundo árabe. Ghribi, ao contrário de concorrentes sauditas e afegãs, pode competir sem o hijab.
Nesta segunda, 11, tunisianas foram às ruas para protestar contra o que veem como uma artimanha islâmica que inverteria o princípio da igualdade de gênero que fez da Tunísia, há seis décadas, o farol da modernidade no mundo árabe.
Um dos novos artigos propostos para a Constituição, segundo elas, poderá comprometer os direitos consagrados no Código de Estatuto Pessoal (CSP), promulgado em 1956 pelo primeiro presidente da Tunísia, Habib Bourguiba.
Nesse código foi abolida a poligamia, em que os homens muçulmanos poderiam ter até quatro mulheres, e a prática de repúdio, em que os maridos podiam se divorciar simplesmente dizendo isso três vezes.
Ao mesmo tempo, a norma instituiu o divórcio não só judicial, mas também o casamento civil. Foto: Getty Images
MULHERES COMPLEMENTARES - Protestos das tunisianas pela inclusão no projeto constitucional que afirma ser a mulher um “complemento” dos homens Embora nenhum desses princípios sejam perdidos sob o artigo proposto, as ativistas temem que a linguagem utilizada em sua elaboração pode representar um recuo em relação aos direitos das mulheres. No texto, o lugar da mulher na sociedade é definido em termos de sua relação com os homens.
O artigo diz que o Estado garante "a proteção dos direitos das mulheres (...) sob o princípio de que elas complementam, o homem e a família, além de estarem associadas ao homem para desenvolvimento do país".
Tudo parece estranho e absurdo, visto agora daqui, mas até bem pouco tempo, a legislação brasileira não era muito diferente na abordagem em relação a mulher. Até 1988, as relações familiares eram regidas pelo Código Civil de 1916, que preconisava:
“Art. 233. O marido é o chefe da sociedade conjugal, função que exerce com a colaboração da mulher, no interesse comum do casal e dos filhos
Como se vê a mulher brasileira era até então, legalmente tratada como um “complemento”. Só há 24 anos, um espaço de tempo exíguo, em termos históricos, a abordagem mudou, com a promulgação da constituição de 1988. A carta magna atual que tem como princípio que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza...”; sacramentou essa igualdade, especificando: ”... homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações nos termos desta Constituição.”
Claro que mesmo com o advento da lei, as mulheres não adquiriram automaticamente todos os direitos que humana e legalmente possuíam. Tiveram que lutar muito e mesmo assim, muitas delas ainda estão longe de exercem na plenitude esses direitos.
Pode-se dizer porém, que desde então essa relação evoluiu, tanto, que uma delas, uma tal de Dilma Rousseff, acabou assumindo a presidência da república. Foto: Reuters
ASSUSTANDO RADICIAIS - A vitória de Habiba, é muito mais que uma vitória olímpica, é uma simbólica vitória da mulher árabe contra o preconceito, daí ter assustado tanto os radicais. |
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