24 de nov. de 2011

EGITO
Os egípcios retornaram a Praça Tahrir
Os protestos no Egito contra o futuro do poder da cúpula militar desde a derrubada, há nove meses, do ditador Hosni Mubarak, ele próprio egresso da Força Aérea, entraram no sexto dia. Houve uma trégua, desde a madrugada de hoje, entre os manifestantes acampados na Praça e as forças de segurança, no intuito de normalizar a situação para a realização das eleições parlamentares na segunda-feira. Os militares foram a televisão pedir desculpas pelos quase 40 mortos e milhares de feridos. A alta comissária para Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Navi Pillay, condenou, a atuação das forças de segurança egípcias contra os manifestantes que protestam na Praça Tahrir, e pede investigação independente, dos incidentes. A primavera árabe segue o seu curso.

Foto: Goran Tomasevic/Reuters/Paris Match

Os confrontos na Praça Tahrir geram imagens que chocaram novamente o mundo. Dezenas de mortos, milhares de feridos

Postado por Toinho de Passira
Fontes:Reuters, BBC Brasil, , Estadão, Portal Terra, Notícias UOL, Paris Match UOL

Uma trégua entre a polícia egípcia e manifestantes durante a madrugada desta quinta-feira conseguiu aplacar a violência que matou 39 pessoas e mais de 2,5 mil feridos, em cinco dias, mas as pessoas que estão protestando na Praça Tahrir, no Cairo, prometeram ficar no local até que o Exército renuncie ao poder.

Em pronunciamento na TV, dois dos generais que comandam o país pediram desculpas à população pelas mortes de civis nos confrontos, ofereceram condolências às famílias dos mortos, e prometeu uma rápida investigação para descobrir quem estava por trás dos incidentes.

Foto: Goran Tomasevic/Reuters/Paris Match

A aparente paz possível em meio ao caos na Praça Tahrir

Manifestantes na Praça Tahrir, porém, disseram que uma trégua havia sido estabelecida à meia-noite. Ao amanhecer, a área estava tranquila pela primeira vez em dias.

Foto: Goran Tomasevic/Reuters/Paris Match

Por dentro da batalha, o improviso dos manifestantes, no meio de uma nuvem de gás lacrimogênio

Faltando menos de uma semana para as eleições parlamentares no Egito, marcada para segunda-feira, 28, o clima de revolta contra o governo aumenta em várias cidades, em especial na capital Cairo. Desde sábado, manifestantes pedem a renúncia da junta militar que controla o país e de seu líder, marechal Mohamed Hussein Tantawi.

Desde o último dia 19, quando as forças de segurança tentaram remover dezenas de manifestantes acampados na Praça Tahrir, no centro do Cairo, ativistas e simpatizantes de partidos políticos diversos compareceram em peso para ocupar o local.

Nas ruas, a população continua desconfiada dos militares e já não confia na instituição que, até a revolução que tirou Mubarak do poder, era admirada e respeitada pelos egípcios.

Em cafés e locais de concentração de pessoas para um momento de lazer, os rumores frequentes são de que os militares manterão seu domínio sobre o país, mesmo após a eleição de um novo governo civil.

Foto: Goran Tomasevic/Reuters/Paris Match

Uma lata e uma pedra: Capacete e arma improvisados pelo manifestante

O ministro do Interior do Egito, Mansour Al Essawy vem defendendo o adiamento do pleito, devido às condições de segurança do país, mais o Conselho Supremo das Forças Armadas, confirmou a realização das eleições na data marcada.

Em outros bairros do Cairo, como Zamalek, Dokki e Mohandisen, a vida segue normal. Para um desavisado, a impressão é de que as pessoas não se interessam pelo que ocorre na Praça Tahrir, símbolo da revolução que derrubou Mubarak.

Fotos: Goran Tomasevic/Reuters/Paris Match



Segundo a BBC Brasil existe um comércio ambulante, nas proximidades da Praça Tahrir, que vende máscara aos manifestantes, que vão enfrentar as tropas de segurança

Mas nas conversas em cafés e restaurantes, o assunto é o futuro político do país e os confrontos entre jovens e polícia nas imediações da Tahrir.

No editorial de ontem o Estadão comenta:

“De acordo com o combinado entre representantes civis e o Conselho Supremo das Forças Armadas depois da destituição de Mubarak, um governo civil deveria ser empossado em seis meses para conduzir a transição. O ciclo eleitoral a terminar em 10 de janeiro, aberto a tantos quantos quisessem disputar as preferências dos 50 milhões de egípcios aptos a votar, deveria gerar um Legislativo de 498 cadeiras.

A sua função mais importante seria escolher a comissão de 100 membros incumbida de redigir uma nova Constituição. Já sob a égide da Carta democrática, os egípcios voltariam às urnas o quanto antes para eleger o presidente do país. Só que os militares deram o dito pelo não dito. Subordinaram a si o governo provisório. Mantiveram a agenda eleitoral, mas se concederam a prerrogativa de nomear 80 dos 100 constituintes, esvaziando clamorosamente os poderes do Parlamento, e deixaram em aberto à data da eleição presidencial.

Foto: Goran Tomasevic/Reuters/Paris Match

Os manifestantes conduzem os feridos para hospitais improvisados nas proximidades da Praça Tahrir

O pior de tudo para as muitas centenas de milhares de jovens que removeram em 18 dias uma ditadura de 30 anos foi à decisão dos militares de se colocar acima das leis. Nem a Constituição nem a legislação que a ela se seguir poderão interferir na esfera militar - incluindo, entre outras coisas, o orçamento das Três Armas, as atividades econômicas sob o seu controle e a política de defesa nacional.

Foto: Goran Tomasevic/Reuters/Paris Match

Jovem manifestante preparado para lançar coquetel molotov contra as forças de segurança

As Forças Armadas egípcias estão no poder desde que depuseram o carcomido rei Faruk, em 1952, para livrar a nação da herança do colonialismo britânico. Ao longo desses quase 60 anos, nenhum aspecto da vida nacional do mais populoso país árabe ficou à margem de sua influência. Friamente, faz sentido que desejem preservar a sua hegemonia nas instituições de Estado, com os privilégios e as oportunidades de corrupção a isso associados. Não é tudo, porém.

Foto: Goran Tomasevic/Reuters/Paris Match

A alta comissária para Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, pediu que “as autoridades egípcias encerrem o uso claramente excessivo de força contra os manifestantes na Praça Tahrir e em outros lugares do país, incluindo o aparente uso indevido de gás lacrimogêneo, balas de borracha e munição".

Tiveram sensibilidade política para não reprimir (salvo numa ocasião) o clamor pelo fim da era Mubarak. Mas nas academias militares - da antiga URSS às dos Estados Unidos e Reino Unido - não lhes ensinaram a conviver com a algaravia inerente à política nas democracias nascentes. Fazendo lembrar o Iraque pós-Saddam, por exemplo, mais de 70 legendas e coligações lançaram milhares de candidatos ao Parlamento do Cairo. A favorita delas assombra a junta militar. Trata-se do Partido Justiça e Liberdade (PJL), codinome eleitoral da Irmandade Muçulmana, banida no antigo regime.

Foto: Goran Tomasevic/Reuters/Paris Match

Tentando minimizar os efeitos do gás lacrimogênio.

Como os seus camaradas de décadas atrás na Argélia, a oficialidade secular egípcia tem horror à ideia de ver os fundamentalistas no governo, ainda que se declarem tolerantes e pacíficos. Teme que se repita no país a vitória do partido conservador islâmico Nahda nas recentes eleições tunisinas. Por via das dúvidas, a Irmandade vem agindo como bombeiro no novo ciclo de conflitos de rua, a ponto de um dos dirigentes do PJL, o moderado Mohamed Beltagy, ter sido escorraçado da Praça Tahrir pelos jovens irados - e sem comando - que agora pregam a derrubada do marechal Tantawi.

No cenário político-religioso egípcio, a Irmandade parece uma organização agnóstica perto do Partido Nour, formado pelos zelotes da seita salafista. Para se ter ideia, seus cartazes mostram apenas os candidatos homens. Mas eles não constituem uma ameaça real e presente à democratização egípcia. Os militares, sim.”

Foto: Goran Tomasevic/Reuters/Paris Match


23 de nov. de 2011

Menina francesa estuprada e morta por colega da escola

FRANÇA
Menina francesa estuprada e morta por colega da escola
Em todo mundo ninguém sabe como tratar deliqüentes menores. O jovem estrupador e assassino francês, já havia sido condenado por outro crime sexual. A primeira vítima escapou com vida. Ele passou sob a tutela judicial apenas quatro meses e conseguiu ser matriculado numa escola, sem que a direção soubesse claramente a origem dos seus problemas com a justiça.

Foto: Paris Match

Agnés, a vítima da impunidade dos jovens delinquentes

Postado por Toinho de Passira
Fontes:Paris Match, BBC Brasil, Le Figaro, Le JDD, Le Parisien

Na França, a morte brutal de uma menina de 13 anos, estuprada e assassinada por um jovem de 17, condenado anteriormente por crime sexual, abriu um debate sobre o tratamento e as penas aplicadas a menores deliquentes pelo sistema judicial frances.

Na última sexta-feira, após dois dias de buscas, a polícia de Chambon-sur-Lignon (120 km ao sul de Lyon) encontrou o corpo de Agnès, 13, que havia sido estuprada e assassinada. O corpo estava carbonizado.

O acusado pelo crime, identificado como Mathieu M., era seu colega de escola e havia sido condenado, em 2010, em outro caso de estupro. Passara quatro meses na cadeia e estava em liberdade condicional sob supervisão judicial.

Foto: Philippe Desmazes/AFP

College-lycee Cevenol International, em Chambon-sur-Lignon, uma instituição presente em 30 países, abrigava, desavisadamente, um estuprador condenado entre os seus alunos.

A escola de ambos diz que sabia que o menino havia tido problemas com a Justiça, mas alega que desconhecia a natureza das acusações.

"Se soubesse, não teria aceitado (Mathieu) em nosso estabelecimento, porque não estamos equipados (para lidar com ele)", disse o diretor da escola, Philippe Bauwens.

Mas a escola está sendo duramente criticada pelos pais de Agnès. A mãe da menina, Paola Marin, disse à rádio Europe 1 que sua filha não teria morrido "se houvesse havido um pouco menos de negligência" por parte da instituição.

Foto: Paris Match

Os policiais franceses localizaram o corpo de Agnés num bosque, guiados pelo criminoso

Após uma reunião emergencial de gabinete na segunda-feira, o ministro do Interior da França, Claude Gueant, disse que houve uma "disfunção" no andamento do caso e que uma reforma no tratamento de menores pelo sistema judicial será "prioridade" após as eleições, no ano que vem.

O premiê François Fillon afirmou que, em casos de acusações sérias contra um menor, este deveria ser colocado em “um centro educacional seguro”.

Ele também pleiteou que, a partir de agora, o governo tenha a certeza de que os diretores de escola estejam corretamente informados sobre casos judiciais envolvendo seus alunos.

Segundo relatos da imprensa francesa, Mathieu havia sido acusado de estupro de uma amiga de infância e, após quatro meses na cadeia, a Justiça concluíra que ele não apresentava mais perigo à sociedade.

Considerado um bom aluno, ele conseguiu uma vaga no colégio Cevenol International, onde tinha Agnès como colega. Ela desapareceu na última quarta-feira, e seu corpo foi encontrado em um bosque nos arredores da escola. Segundo a polícia, Mathieu confessou o crime.

O colégio atribuiu a tragédia a falhas no sistema judicial. O promotor Jean-Ives Coquillat, por sua vez, defendeu-se dizendo que o sistema fez a sua parte, libertando Mathieu apenas sob a condição de que ele fosse tratado por um psiquiatra e fosse acompanhado por um psicólogo na escola.

Foto: Maxppp/La Montagne

Os familiares e os amigos organizaram uma marcha em homenagem a menina Agnés, que reuniu cerca de 4 mil pessoas nas ruas de Chambon-sur-Lignon


O SUBSTRATO DA CORRUPÇÃO

BRASIL
O SUBSTRATO DA CORRUPÇÃO
O patético caso do ministro Carlos Lupi dá à presidente Dilma Rousseff a oportunidade de corrigir uma prática que está na raiz da maioria dos escândalos: o loteamento de cargos com o objetivo de obter apoio ao governo

Foto: Wilson Dias/ABr

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, falando na Comissão de Assuntos Sociais do Senado sobre as novas denúncias que teria usado um avião pago por empresário beneficiado por convênios do ministério.

Postado por Toinho de Passira
Fonte: Veja - 21/11/2011

Na última quinta-feira, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, foi ao Senado jogar uma cartada decisiva para as pretensões dele de continuar no cargo. Acusado de mentir ao Congresso e acossado por denúncias de cobrança de propina pela cúpula do ministério e de irregularidades na execução de convênios firmados com ONGs, Lupi prometera à presidente Dilma Rousseff, na véspera, rechaçar cabalmente as acusações e provar sua inocência.

A audiência seria a redenção do ministro e presidente licenciado do PDT. Seria. Como na semana anterior, quando participou de uma reunião na Câmara, Lupi produziu uma farta quantidade de provas - todas contra si mesmo.

Diante dos senadores, o ministro recuou e admitiu ter viajado no King Air providenciado por – como é mesmo o nome? - Adair Meira, dirigente de duas ONGs que têm contratos milionários com o Trabalho. Foi a confirmação da primeira de suas mentiras.

O ministro também recuou e admitiu conhecer Adair, um parceiro que, sabe-se agora, chegou a oferecer um jantar em homenagem a Lupi em Goiânia. Jantar na casa do próprio Adair, aquele de quem o ministro não sabia nem o nome nem o endereço. Foi a confirmação da segunda de suas múltiplas mentiras.

Posando no papel de vitima de uma conspiração urdida por adversários. Lupi desferiu mais golpes contra si mesmo. Ao contrário do anunciado na véspera, não apresentou prova de que seu partido pagara os aviões usados na viagem, em dezembro de 2009, pelo Maranhão. Não o fez porque seus correligionários vieram a público para dizer que não pagaram. Sem querer, Lupi ainda abriu brecha para a revelação de que, durante as "atividades partidárias" realizadas no Maranhão, ele recebera cerca de 1 700 reais em diárias pagas pelos contribuintes.

"Eu só quero saber do que sou acusado", clamou o ministro, para o espanto da audiência. Coube a um senador do próprio PDT, o novato Pedro Taques, ex-procurador da República, resumir a situação. Diante de sucessivas mentiras. Lupi e o partido não gozavam mais da confiança da sociedade para continuar à frente do ministério, disse Taques. Politicamente, estavam condenados numa sentença justa e inapelável.

Ministro há quatro anos e meio, Lupi tem uma memória privilegiada, segundo seus auxiliares, mas que lhe faltou desde que VEJA começou a revelar, há três semanas, os ilícitos cometidos por pedetistas lotados na cúpula do Trabalho.

O ministro só reconheceu ter viajado no King Air depois da divulgação, na segunda-feira passada, de uma foto dele desembarcando do avião. E só reconheceu ter viajado ao lado de - como é mesmo o nome? - Adair Meira após o site de VEJA publicar um vídeo no qual os dois aparecem numa solenidade oficial no município de Grajaú. As fotos e os vídeos o desmascararam.

Tomaram-no um espectro sem credibilidade na Esplanada, mas ainda assim ministro. Até o fechamento desta edição, Dilma não havia demitido Lupi - e nem pretendia fazê-la. Uma postura surpreendente, seja pelas sucessivas mentiras do pedetista, seja pelo desempenho dele como gestor. Quando era chefe da Casa Civil, Dilma já não gostava do trabalho de Lupi. Quando assumiu o Planalto, pensou em trocá-lo, mas foi dissuadida por Lula. À frente do governo, tirou poderes dele. como a prerrogativa de negociar com grevistas, e estava decidida a rifá-lo na reforma ministerial, prevista para janeiro.

Depois de demitir cinco ministros acusados de corrupção e tráfico de influência, o natural seria a presidente antecipar o cronograma e exonerar Lupi imediatamente. Mas ela, como o antecessor Lula, decidiu, neste caso, render-se à lógica nefasta da "governabilidade". Render-se ao temor de que a demissão afastaria o PDT da base aliada.

A presidente que angariou apoio popular graças à faxina ética preferiu na semana passada, fazer vista grossa à sujeira. Isso. obviamente, tem implicações. Entre elas, suspender a saudável ofensiva, até então em curso, destinada a desmontar máquinas de arrecadação instaladas pelos partidos nos ministérios. Caso do PCdoB no Esporte, do PMDB na Agricultura e no Turismo e do PR nos Transportes.

São essas engrenagens partidárias que servem de dínamo para a corrupção e o desvio de verbas. Com o aval do governo, surrupiam dinheiro de programas sociais e de obras para os cofres dos partidos e os bolsos dos correligionários. Diz o historiador Marco Antonio Villa, professor da Universidade Federal de São Carlos: "O Brasil destoa das grandes democracias mundiais com este presidencialismo de transações que não são nada republicanas".

Desde a redemocratização, na década de 80, vigora no Brasil o chamado governo de coalizão. Funciona assim: o presidente da República de turno, para manter os partidos em sua órbita e receber deles votos favoráveis no Congresso, dá às legendas o controle de cargos importantes da máquina pública. De inicio eram ministérios. Com o decorrer dos anos, a fatura foi se tornando mais salgada. Agora, loteiam-se ministérios, autarquias, fundações e até os 23000 cargos comissionados à disposição do governo federal.

O rateio do butim garante a governabilidade mas, à custa, como mostram os recorrentes casos de corrupção, do suado dinheiro do contribuinte. "É possível governar sem o loteamento de cargos desde que sejam fechadas alianças programáticas", diz Villa.

Ou seja: desde que o amálgama da base governista sejam ideias comuns para solucionar os problemas do país. "É preciso extinguir a maioria dos cargos de nomeação política. O Brasil é a única grande democracia a ter essa quantidade exagerada", acrescenta.

A proposta é simples. Substituir os apadrinhados por servidores concursados. Trocar o QI - cínica abreviação do igualmente cínico "quem indica" - pela profissionalização e pela meritocracia. Dar uma visão empresarial a um estado tratado como bem privado por determinados setores.

Para o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB), a reforma ministerial dará à presidente Dilma a possibilidade de romper com o sistema atual, no qual o loteamento de ministérios e de mais de 20000 cargos serve para amarrar os partidos ao governo. Fleischer considera prioritário acabar com a adoção do modelo chamado de porteira fechada, aquele em que o partido comanda todos os postos de uma estrutura administrativa - do titular de um ministério ao degrau mais baixo da hierarquia.

Dilma já impediu algumas porteiras fechadas. Previdência e Minas e Energia, por exemplo, têm ministros indicados pelo PMDB, mas secretários executivos escolhidos pela própria presidente. São exceções.

Desde junho, Dilma demitiu cinco ministros por irregularidades. Em todos os casos, trocou-os por colegas do mesmo partido, que continua indicando desde a secretária que anota recados até o diretor que libera o dinheiro. Para o experiente deputado Miro Teixeira, no décimo mandato como deputado federal, a queda dos ministros não passa de um "jogo de distração", no qual se corta a cabeça dos titulares mas se mantém a estrutura corrompida dos partidos nas pastas.

"O ministério fica" com o mesmo partido e acaba por isso mesmo. Há um sistema organizado para roubar o dinheiro público. A presidente tinha de demitir antes de submeter os ministros à fritura e ir a fundo", diz o parlamentar do PDT. Cientes disso, partidos governistas operam para retomar espaços perdidos quando foram alvo da tal faxina ética.

O PMDB emplacou o novo ministro da Agricultura, indicou o sucessor de Pedro Novais no Ministério do Turismo e praticamente todos os demais diretores. O PCdoB ainda trabalha para reorganizar seus camaradas no bombardeado Ministério do Esporte. O PR, que amargou um prolongado período de desgraça nos Transportes, tentou no último mês reconquistar fatias de poder. No fim de outubro, nove deputados da sigla jantaram com o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos. Pediram rápida liberação de recursos para obras, mais trânsito no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e ascendência sobre a recém-nomeada diretoria da Valec, a estatal que cuida das ferrovias do país.

"Queríamos saber se o ministro estava ou não estava com a gente", conta o deputado Luciano Castro (PR-RR), anfitrião do jantar. Passos substituiu no ministério o senador Alfredo Nascimento, presidente nacional do PR. Desde a troca de comando, só tirou do partido o controle de uma das superintendências estaduais do Dnit. Os republicanos continuam, portanto, no comando das mesmas repartições denunciadas antes por cobrar propina de empresários.

Foram-se os anéis, ficaram os dedos. "Os ministros são cada vez mais desqualificados. Esses postos, que deveriam ser ocupados por estadistas, terminam sendo loteados por aqueles que têm interesses meramente partidários. Isso vem se agravando governo a governo, e não há perspectiva de que possa melhorar", critica o cientista político Octaciano Nogueira, professor da UnB. "Falta dar um sentido ético à política", conclui. É justamente o que esperam os brasileiros - mas, infelizmente, o contrário do que sinaliza o governo com a permanência do patético Carlos Lupi à frente do Ministério do Trabalho.


*Acrescentamos subtítulo, foto e legenda ao texto original

22 de nov. de 2011

Enéas, amigo para sempre

PERNAMBUCO - LUTO
Enéas, amigo para sempre
Usamos a saudade de Gustavo Krause para homenagear Enéas Álvarez

Foto: Blenda Souto Maior/DP/D.A.Press

Enéas Alvarez, 64 anos, jornalista, ator, poeta, advogado, escritor, bispo da Igreja Ortodoxa Siriana (Olinda) e como se não bastasse foi Rei Momo, duas vezes, do Carnaval do Recife.

Gustavo Krause
Fonte:Blog do Jamildo

Amigos de mais de cinco décadas são uma jóia rara. Tenho alguns que vêm da infância de Vitória de Santo Antão, da vida suburbana do bairro da Torre e da turma do admissão e ginasial do querido e inesquecível Colégio Padre Félix.

Não direi nomes. Fatalmente seria traído pela memória a não ser o de Antonio Enéas Barros Alvarez que, segunda-feira (21), seguiu o caminho do anjo que sempre foi e está a desfrutar a quietude dos céus, reservada aos bons de coração e alma pura.

Mas falarei de saudade, dor e, pasmem, de alegria.

Saudade da casa de meus pais no alto da Torre, abrigo democrático que recebia todos os moleques do bairro, independente de cor, sexo e posição social. Meu pai, diante da danação, dizia: isto aqui é “la maison de la liberté”. Bem que podia adicionar: da igualdade e da fraternidade, dístico revolucionário coerente com a mulher de vanguarda que era minha mãe.

Entre os freqüentadores, inveterados peladeiros e refinados presepeiros, Enéas foi uma presença da qual jamais desgrudamos. Não era moleque. Gordinho, religioso, bem comportado, tinha tudo para não dar liga com aquela incorrigível canalha. Mas deu. A diversidade (e a gente sabia lá o que era diversidade) encantava a todos, sobretudo, porque Enéas, de inteligência superior e requintado senso de humor, cativava todos contando histórias e antecipando o grande ator, escritor, jornalista, poeta, humorista, humanista que a vida adulta iria mostrar a Pernambuco e ao Brasil. Seu proselitismo religioso não converteu ninguém da turma, mas era reverencialmente respeitado.

Em junho, era lei: dia 10 na casa dele com dona Lucy, dia 19 na minha, comemorando a mesma idade, sem falhar uma só vez em mais de meio século.

Percorremos um longo caminho sem desvios ou encruzilhadas, sempre unidos num raro afeto fraternal de respeito, solidariedade e compreensão mútua.

Muito cedo, ele foi acometido pela doença da sociedade moderna: a obesidade, uma epidemia que, hoje, faz mais vítimas do que a desnutrição. Este é um dos sintomas da sociedade dos extremos: nunca se cultuou tanto o corpo e nunca tantos sofrem com a doença dos corpos pesados; nunca se combateu tanto as drogas e nunca se viu um mundo tão viciado; nunca se pregou tanta espiritualidade e nunca o mundo foi tão materialista; nunca se buscou tanto a paz e nunca se fez tanta guerra; nunca a natureza foi tão defendida e nunca o meio ambiente foi tão degradado. E por aí vai.

Entre meus amigos, ninguém revelou tantas potencialidades intelectuais e nenhum, como ele, foi prejudicado por tão cruel adversidade. Sofreu muito. Queixas? Raramente para ouvidos muito íntimos, quando a situação tornava-se insuportável. O fino humor era aperitivo e prato principal oferecidos à legião de amigos leais que nunca o abandonou. Imobilizado por anos numa cama, ainda assim, era o maestro da pândega que animava todos que batiam à sua porta.

Seu paraíso foi o Museu da Cidade no Forte das Cinco Pontas a quem entreguei a direção, quando prefeito. Fez um trabalho admirável, reconhecido por várias gestões. Embora tenha sido seu paraíso, o Museu foi também sua provação. Não me perguntem por quê.

A dor é grande. A saudade é maior. A danada da morte esconde definitivamente as pessoas dos nossos olhos e dos nossos sentidos. Mas não é invencível. Desafio, parca infeliz, que você apague a lembrança dos meus momentos de alegria, de escandalosas gargalhadas, compartilhados com Enéas; desafio que você me faça esquecer Sua Majestade, o Rei Momo, saudando o povão com charme e inteligência, uma espécie de deboche aristocrático que somente ele era capaz de praticar.

Enéas, amigo para sempre, dorme aqui no lado esquerdo do meu peito cada dia mais cansado com o peso das ausências queridas.


*Acrescentamos subtítulo, foto e legenda ao texto original

EUROPA
Crise economica já derrubou 10 governos, pode derrubar mais
Os eleitores espanhóis foram às urnas neste final de semana e derrubou o governo de Zapatero. Repetiu-se a história: desde maio do ano passado quando os trabalhistas ingleses sofreram uma derrota histórica, praticamente todos os governos que tem se submetido ao julgamento dos eleitores, vem sofrendo derrotas frustrantes, não importam a ideologia, nem a qualidade do adversário. O inimigo comum de todos é a economia, na versão de desempregos, redução de aposentadorias, aumento de impostos e poucas perspectivas de crescimento.

Foto: Getty Images

O primeiro ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, o décimo governante europeu vitimado pela crise econômica

Postado por Toinho de Passira
Fontes:El Pais, PSOE, Publico, Correio do Brasil, DCI

Neste fim de semana os espanhóis foram às urnas e fizeram o primeiro ministro José Luis Rodríguez Zapatero, apear do poder. O seu partido, o PSOE (Partido Socialista Obrero Español), perdeu mais de 4,3 milhões de votos, desde o último pleito. Por outro lado o líder do PP (Partido Popular), de centro-direita, Mariano Rajoy, celebra a retumbante vitória nas eleições legislativas: elegeu 186 deputados, maioria absoluta, mais da metade do congresso espanhol que possui 350 cadeiras. O PSOE, de Zapatero, elegeu apenas 110 deputados.

Repete-se o script de praticamente todas as últimas eleições ocorridas na Europa: a crise econômica vem derrubando, um a um, os atuais governantes, pondo a oposição no poder, responsabilizando, culpados ou não, os atuais dirigentes pelas agruras que tem que enfrentar.

Não há uma corrente politica em evidência. Derruba-se o governo de esquerda, para dá lugar a um de direita, e vice-versa. Conservadores ou progressistas, todos estão em risco, se estão no poder e tem que enfrentar um pleito.

Insatisfeitos com a maneira como os governos administram a crise, os eleitores ao irem às urnas mudaram os governos de oito países: Islândia, Dinamarca, Grécia, Grã-Bretanha, Holanda, Irlanda, Espanha e de Portugal. Fora das urnas, por pressão popular e política caíram ainda os governos centrais da Grécia, com a queda de George Papandreou e da Itália, que expeliu Silvio Berlusconi .

A comentarista politica, Sara España, do jornal espanhol, El Pais, realça que “os trabalhistas ingleses liderados por Gordon Brown foram ceifados nas eleições de 6 de maio de 2010". Obtiveram seu pior resultado desde 1983 contra os conservadores de David Cameron, que se tornou primeiro ministro.

Não foi diferente na Holanda: o então primeiro-ministro democrata-cristão Jan Peter Balkenende perdeu nas urnas 20 assentos. Amargou uma queda de eleitores nunca experimentada em 23 anos de vida de seu partido, a Democracia Cristã (CDA). Manteve-se no poder em um governo de coalizão. Pela primeira vez em 92 anos, um liberal ganhou o Executivo holandês.

Os resultados das eleições gerais na Irlanda em fevereiro deste ano confirmaram a queda do Fianna Fáil, partido dominante na política irlandesa desde a independência. Deixou de ser o partido mais votado para ser o terceiro lugar e perdeu 24% dos votos.

O Partido Socialista (PS) Português não tinha conhecido pior resultado nos últimos 20 anos até as eleições de junho. O primeiro-ministro José Sócrates, caiu após a derrota. Com apenas 28% dos votos em comparação com os 38,7% do Partido Social Democrata.

Em Setembro deste ano, os eleitores da Dinamarca encerrou a rotina de 10 anos dos sucessivos governos do Partido de centro-direita populista Povo Dinamarquês (DF). O bloco de centro-esquerda da oposição, liderada pelo socialdemocrata Helle Thorning-Schmidt, venceu a eleição geral ao conseguir 50,3% dos votos em comparação com 48,9% à direita.

Apenas na Suécia os conservadores conseguiram renovar seu mandato em setembro de 2010. A boa gestão econômica do Fredrik Reinfeldt e seu projeto de reforma moderada da previdência social convenceram os suecos a permitir que, pela primeira vez em sua história que a Aliança para a Suécia governasse por dois mandatos consecutivos.

A próxima vítima pode ser o governo francês: o presidente Nicolas Sarkozy, que vai tentar a reeleição no próximo ano, está atrás nas pesquisas lideradas pelo socialista François Hollande, adversário político de Sarkozy.

Há quem diga que destino semelhante espera o presidente americano Barack Obama nas eleições do próximo ano. Mesmo que os republicanos tenham encontrado até agora, um candidato viável para enfrentar o atual ocupante da Casa Branca, mesmo que ele tenha recebido do republicano George Bush, a herança maldita, assim mesmo corre o risco de perder, não derrotado pelos republicanos, mais pela economia mundial destroçada.


21 de nov. de 2011

Gamburtsevs, os Alpes da Antartida

PLANETA TERRA
Gamburtsevs, os Alpes da Antartida
Cientistas de sete nações, conseguiram mapear a cordilheira oculta do continente gelado, descoberta nos anos 50, por cientistas russos.

Foto: AGAP

A equipe de pesquisa com cientistas de várias nacionalidades

Postado por Toinho de Passira
Fontes: Sunday Mercury, BBC Brasil, Folha de São Paulo, Nature, Redorbit

Uma equipe de cientistas conseguiu mapear, com sucesso, grande parte da enorme cordilheira enterrada na Antártida, batizada como Gamburtsevs.

O peculiar é que é quase impossível de visualizar esse acidente geográfico da envergadura dos Alpes europeu, encobertos por incríveis quatro quilômetros de gelo.

Descoberta na década de 1950, por pesquisadores russos, causou grande alvoroço, pois, a maioria supunha que o continente fosse plano e sem grandes, ou quase nenhuma variação no relevo.

Segundo o trabalho divulgado na última edição da publicação científica Nature.os cientistas se propõem a tentar explicar a origem daquela que talvez sejam a mais extraordinária cadeia de montanhas da Terra. Segundo os dados colhidos a cadeia de montanhas formou-se há mais de um bilhão de anos.

As Gamburtsevs são importantes por serem o local onde sabemos hoje que o gelo iniciou sua expansão pela Antártida.

A descoberta da história das montanhas ajudará, portanto em estudos climáticos, auxiliando cientistas a descobrir não apenas mudanças passadas da Terra, mas também possíveis cenários futuros.

"Pesquisar estas montanhas foi um enorme desafio, mas fomos bem-sucedidos e produzimos um trabalho fascinante", disse Fausto Farraccioli,(Foto) da British Antartic Survey (BAS), que chefiava a equipe de pesquisadores do projeto AGAP (sigla em inglês para Província Antártida de Gamburtsev).

A equipe de cientistas de várias nacionalidades viajou algumas vezes durante os anos de 2008 e 2009 ao leste do continente gelado, mapeando o formato da montanha escondida usando um radar capaz de penetrar o gelo.

Outros instrumentos registraram os campos gravitacionais e magnéticos, enquanto sismômetros estudavam as profundezas da Terra.

A equipe AGAP acredita que estes dados podem agora construir uma narrativa consistente para explicar a criação das Gamburtsevs e sua existência através do tempo geológico.

É uma história que começou pouco antes de um bilhão de anos atrás, muito antes de formas de vidas complexas se formarem no planeta, quando os continentes estavam se atraindo para formar um supercontinente conhecido como Rodínia.

A colisão que aconteceu gerou as enormes montanhas.

Foto: Robin e Bell/Associated-Press.

A alteração do relevo escondido debaixo do gelo, detectada pelos equipamentos científicos.

No decorrer de centenas de milhões de anos, os picos sofreram gradualmente um processo de erosão. Apenas as "raízes", ou bases, das montanhas teriam sido preservadas.

Mas entre 250 e 100 milhões de anos atrás, quando os dinossauros habitavam o planeta, os continentes começaram a se separar em uma série de fissuras próximas à base gelada das montanhas.

Este movimento aqueceu e rejuvenesceu as "raízes", criando as condições necessárias para que a terra se elevasse mais uma vez, fazendo com que as montanhas fossem restabelecidas.

Arte de Zina Deretsky, da National Science Foundation, estudo topográfico de por Abdulhakim Abdi, Lamont-Doherty do Earth Observatory of Columbia University

Aviões sobrevoaram a área, mapeando com o radar especial, capaz de ultrapassar o gelo, captando o desenho da montanha fantasma da Antártida.

Seus picos cresceram ainda mais na medida em que vales profundos foram sendo cortados por rios e geleiras ao seu redor.

E teriam sido as geleiras que escreveram os capítulos finais, há cerca de 35 milhões de anos, quando se expandiram e se fundiram para formarem o Manto Antártico Oriental, encobrindo a cadeia de montanhas neste processo.

Na foto de Eric Philips o termômetro registrando a temperatura congelante na área externa da base
"Esta pesquisa realmente soluciona o mistério de por que você pode ter montanhas aparentemente jovens em meio a um velho continente", diz a pesquisadora principal do estudo, Robin Bell, da universidade de Columbia.

"As montanhas originais provavelmente foram erodidas, para retornar como uma fênix. Elas tiveram duas vidas", disse ela.

A ideia é agora conseguir financiamento para escavar as montanhas em busca de amostras de solo, que poderiam confirmar o modelo divulgado na Nature.

Os pesquisadores também buscam determinar o local mais adequado para fazer a escavação no gelo.

Ao examinar bolhas de ar presas na neve compactada, os pesquisadores podem determinar detalhes do passado, como condições ambientais, incluindo a temperatura e a concentração de gases na atmosfera, como dióxido de carbono.

Acredita-se que em algum local da região de Gamburtsev seja possível a coleta de amostras de gelo com mais de um milhão de anos. A amostra seria ao menos 200 mil anos mais antiga do que o gelo antártico já analisado por cientistas.

Foto: VALMAP

Vale do Taylor, um dos vales secos da Antartida, onde não chove há dois milhões de anos

Para se ter uma idéia da importância da Antartida, descoberta pelos humanos em 1820, basta se constatar que se o gelo da calota derretesse por completo, os oceanos subiriam entre 60 a 65 metros, fazendo com que os continentes, praticamente submergisssem.

As condições metereológicas da região, dos “Vales Secos” da Antártida são tão próximos aos de Marte que a NASA utilizou a região para fezer testes a missão Viking. Por incrivel que parece não chove nos vales secos, da Antartida, há pelo menos dois milhões de anos. O vento da região é o mais veloz do planeta, já foram registradas rajadas de até 327 km.

A calota glacial da Antártida tem 29 milhões de quilômetros cúbicos de gelo. Ou seja, 90% de todo o gelo do planeta e entre 60 e 70% de toda a água doce do mundo.

Antartida tem uma área de 13.900 mil km2 - quase o dobro do tamanho da Europa ou aproximadamente o mesmo tamanho como os EUA eo México juntos. Antartida é tão fria, que nada lá pode apodrecer.

Foto: AGAP

A pesquisa só foi possível com a colaboração de sete países: China, Japão, Alemanha, Austrália, Inglaterra, Estados Unidos e Canadá


19 de nov. de 2011

Venezuela
O combate secreto de Chávez contra o câncer
O presidente venezuelano declarou estar curado do câncer, mas 
fontes em seu país afirmam que ele pode 
não sobreviver até as eleições de 2012.

Foto: Ariana Cubillos/AP

Inchaço e fadiga - O presidente participa de uma cerimônia militar em Caracas, em 6 de novembro: câncer 
de próstata com metástases nos ossos 
e um tumor maligno no cólon

Leonardo Coutinho e Duda Teixeira
Fontes: Veja,Wall Street Journal

Há um mês, o presidente venezuelano Hugo Chávez beijou a imagem de gesso do médico José Gregorio Hernández (1864-1919), idolatrado como santo em seu país, em agradecimento à “cura” de seu câncer. Jogo de cena. A foto acima, feita duas semanas atrás, desvela a realidade. O rosto inchado, a pele ressecada, a ausência de cabelos e o aspecto cansado compõem o retrato de um homem doente, muito doente. “Sua aparência mostra que o tratamento continua, e que o câncer ainda está ativo ou poderá voltar”, diz o oncologista Ademar Lopes, de São Paulo. Essa avaliação é reforçada por um conjunto de relatos detalhados da evolução do câncer de Chávez, produzidos por fontes da Venezuela, aos quais VEJA teve acesso. Segundo tais relatos, ele não só segue doente como seu quadro clínico se complica a cada dia. O câncer, que estava restrito à próstata e ao cólon, há muito se espalhou, com metástases nos ossos. As fontes venezuelanas, apoiadas em exames médicos, afirmam que a sobrevida de Chávez dificilmente superará um ano. O tirano, que governa a Venezuela por doze anos, amarga um crepúsculo antecipado. Nas eleições presidenciais de outubro do ano que vem, ele poderá não estar presente.

O primeiro a alertá-lo sobre a gravidade de seu problema de saúde foi um médico espanhol, em janeiro. Na ocasião, Chávez já convivia fazia mais de um ano com sintomas que apontavam para a existência de um tumor na próstata. O venezuelano, contudo, postergou a realização dos exames sugeridos. Em maio, o primeiro sinal de saúde frágil se tornou visível. Chávez apareceu em público apoiado em uma muleta. De acordo com a versão oficial, a causa era uma lesão no joelho. A dificuldade para andar tinha outro motivo, segundo os relatos obtidos por VEJA: o avançado estágio do câncer nos ossos. No mês seguinte, Chávez foi internado em um hospital de Havana, em Cuba, para extirpar o tumor na próstata. A intervenção cirúrgica, não recomendada para casos de neoplasia nessa glândula com metástase, pode ter sido um erro médico gravíssimo que acelerou a disseminação do câncer. Uma segunda cirurgia foi feita dez dias depois, conforme disse o próprio Chávez. Desse ponto em diante, a terapia passou a ser comandada por médicos europeus, com equipamentos importados. Os cubanos foram relegados ao papel de observadores.

O visual inchado de Chávez dos últimos dias, com o queixo emendando no peito, pode ser lido como uma evidência de que o tumor da próstata já teria alcançado o reto (a parte final do intestino), comprimindo as vias urinárias, ou como um efeito dos corticoides usados na quimioterapia. O urologista Fernando Almeida, da Unifesp, e os oncologistas Sergio Azevedo, da UFRGS, e Samuel Aguiar Junior, do Hospital A.C. Camargo, em São Paulo, fizeram uma análise crítica dos relatos obtidos por VEJA. De acordo com eles, alguns procedimentos citados não condizem com o tratamento-padrão de um câncer de próstata. Tumores originados nessa glândula, por exemplo, não requerem quimioterapia — e Chávez já enfrentou quatro sessões. Segundo as fontes da Venezuela, o uso da quimioterapia se deve ao aparecimento de um câncer no cólon, que perfurou a parede do intestino e provocou uma infecção. O tumor no cólon também explica a segunda cirurgia. A possibilidade de aparecerem dois tumores simultaneamente é rara, mas não impossível. Como os sintomas foram menosprezados por mais de um ano, as células do câncer de próstata se espalharam para os ossos, o que foi detectado numa análise citológica. Em agosto, os médicos concluíram que o tratamento em duas frentes, com quimioterapia e radioterapia, fracassou. Cogitou-se, então, a transferência de Chávez para um centro de oncologia na Europa. Ele recusou a proposta. Em setembro, fez sessões em uma clínica montada na ilha La Orchila, onde está localizada uma casa de praia da Presidência.

No fim de outubro, Chávez tomou uma decisão surpreendente, segundo as fontes da Venezuela. Informado da gravidade de sua doença, preferiu não se submeter a um tratamento mais agressivo, que certamente o tiraria das atividades públicas. Optou por receber uma terapia mais leve. Ainda assim, teve de abandonar o programa dominical Alô Presidente e os discursos intermináveis. Agora, raramente sai de Caracas. Prevendo não concorrer às próximas eleições por motivo de saúde, Chávez escolheu como substituto o chanceler Nicolás Maduro. Ele é o único integrante do governo que conhece toda a verdade sobre a doença do chefe. Em 2012, Maduro deparará com uma oposição organizada e vigorosa. Sete candidatos na casa dos 40 anos participarão de uma eleição primária em fevereiro, para a escolha do nome a enfrentar o chavismo. Embora a doença tenha elevado em oito pontos porcentuais a popularidade do governo, a empatia não se converteu em apoio político. Para 52% dos venezuelanos, o preferido no próximo pleito é um opositor.

Em Havana, Chávez recebeu tratamento no Centro de Investigaciones Médico-Quirúrgicas (Cimeq). Seus leitos são reservados para membros do Partido Comunista, militares e artistas do país. Embora seja considerado o melhor da ilha, o Cimeq tem tomógrafos com mais de dez anos de uso e outros aparelhos que são pequenos “frankensteins”, montados com peças de equipamentos antigos holandeses e franceses. Há três anos, um cardiologista do Cimeq teve um tumor no pâncreas e veio a São Paulo se tratar. Suas despesas foram pagas por um mês pelo governo da ilha. Um telegrama da missão diplomática americana de 2008, divulgado pelo WikiLeaks, afirma que o chefe do Cimeq, um neurocirurgião, foi à Inglaterra fazer uma cirurgia no olho e, desde então, retornava periodicamente para acompanhamento.

Como presidente da Venezuela, país com a quinta maior reserva de petróleo do mundo, Chávez encontraria tratamento adequado em seu próprio país. Ou poderia seguir o exemplo do paraguaio Fernando Lugo, que trata um câncer linfático no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, desde o ano passado. No início de julho, o chanceler venezuelano Nicolás Maduro esteve no Brasil para consultar médicos brasileiros e preparar uma possível vinda de Chávez. O preço a pagar por essa opção seria que, muito provavelmente, os detalhes de sua doença não ficariam em segredo. Em uma democracia consolidada, eles quase não existem. A luta da presidente Dilma Rousseff e agora a do ex-presidente Lula são conhecidas em minúcias por todos os brasileiros. Chávez lida com sua doença da mesma maneira que administra seu país: sem transparência e ignorando os sinais de deterioração. No ano passado, a inflação foi de 28% e o PIB caiu 1,5%. Caracas tem a maior taxa de homicídios da América Latina: 122 mortos por 100 000 habitantes. Cartunistas são presos por fazer uma simples piada. Disposto a acelerar o que considera uma revolução inédita e apaixonado pela crença na própria infalibilidade, Chávez recorreu, na ideologia e na medicina, aos cubanos. Com isso, não curou seu país, nem a si próprio.


Após dez anos BENETTON volta a polemizar

ITALIA - PUBLICIDADE
Após dez anos BENETTON volta a polemizar


Após anos bem comportada a grife italiana Benetton reacende o debate com sua nova campanha, no estilo “publicidade de choque” que desagrada alguns e cria polêmicas uteis a divulgação da marca. Há riscos do tiro sair pela culatra e a marca sair chamuscada, dizem alguns, afirmando que a campanha pode acabar não despertando simpatia do consumidor final. Esses são os riscos da ousadia.
Foto: Blog Benetton
Obama beijando o presidente chinês Hu Jintao, exibido diante de uma catedral espanhola. O governo americano fez duras críticas à propaganda, na qual uma fotomontagem mostra o presidente americano beijando outros líderes mundiais.
Postado por Toinho de Passira
Fontes:Press Benetton, BBC Brasil, New York Daily News, The Fashionist, La Reppublica, Tribune de Genève

Uma série de peças publicitárias lançadas nesta semana pelo grupo italiano Benetton reacendeu o debate sobre os prós e contras das campanhas polêmicas.
Imagens Benetton
As imagens, que mostram beijos entre líderes mundiais como a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Nicolas Sarkozy, circularam rapidamente em portais de notícias e redes sociais, mas também foram alvo de críticas.
Imagens Benetton
A campanha também foi condenada pelo Vaticano, que qualificou a fotomontagem de um beijo entre o papa Bento 16 e o imã sunita egípcio Ahmed el Tayeb como "uma grave falta de respeito com o papa" e "uma ofensa aos sentimentos dos fiéis".
Tiziana Fabi/AFP/Getty Images
Cartaz do beijo Papal em frente à Fonte de Trevi, poucas quadras do Vaticano.
Horas depois do lançamento, a Igreja Católica ameaçou processar a empresa, que pediu desculpas e retirou a imagem de seu site, onde estava disponível para download.
Imagens Benetton
Obama-Chavez: “A Casa Branca tem uma polícia de desaprovar o uso do nome do presidente para propósitos comerciais”, disse o porta-voz, da Casa Branca, Eric Schultz à agência AFP.
Outras peças mostram o presidente americano Barack Obama beijando o líder venezuelano Hugo Chávez e o presidente chinês Hu Jintao, um beijo entre o premiê israelense Binyamin Netanyahu e o líder palestino Mahmoud Abbas e outro entre o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-Il e o presidente da Coreia do Sul, Lee Myung-bak. Em todas elas aparece a mensagem "Unhate" ("Não ódio").
Imagens Benetton
O primeiro ministro de Israel, Binyamin Netanyahu e o líder palestino Mahmoud Abbas


O líder da Coreia do Norte Kim Jong-II e o presidente da Coreia do Sul, Lee Myung-bak.
Desde os anos 80, com o fotógrafo Oliviero Toscani, o grupo Benetton usa imagens de impacto em suas campanhas, que tratavam de temas controversos como a discriminação de portadores do vírus da AIDS e violações de direitos humanos.
Fotos produzidas por Oliviero Toscani


Antigas campanhas polêmicas da Benetton
Por sinal o fotografo Oliviero Toscani, que não trabalha mais para a Benetton, há dez anos, fez questão de desaprovar a nova campanha da Benetton, UNHATE declarando-a "vulgar e patética". "Não há criatividade, estilo, ou poesia”. “Parece que o produto de uma escola de arte para iniciantes" declarou o famoso fotógrafo ao jornal La Repubblica.

Os especialistas chamam a estratégia de "propaganda de choque", que se tornou uma prática cada vez mais utilizada por publicitários, considerada uma maneira eficiente de ganhar a competição pela atenção do público.
"É uma volta da Benetton a suas origens", diz Darren Dahl, professor da escola de negócios Sauder, em Vancouver, no Canadá. "A marca sofreu um lento declínio e claramente quer voltar a chamar a atenção."

A estratégia de 'propaganda de choque' é utilizada pela Benetton desde os anos 80

No entanto, a estratégia pode ter efeitos contraproducentes, segundo Dahl. Ele lembra que há dez anos, o grupo lançou uma campanha considerada infeliz, que mostrava presidiários americanos condenados à pena de morte.

Em meio à polêmica, a empresa teve que pedir desculpas aos familiares das vítimas e retirar a campanha de circulação.

Especialistas em marketing advertem, por exemplo, que alguns consumidores católicos e muçulmanos podem rejeitar a marca após a foto do beijo entre o papa e o imã.

Alberto Jaén, o diretor de criação executivo da agência de publicidade SCPF América acredita que, apesar de campanhas como a da Benetton serem consideradas uma maneira fácil de atrair a atenção do público, poucas empresas adotam a estratégia por temer as consequências.

"Ganhar detratores ou criar conexões emocionais mais intensas com os consumidores é um risco que a Benetton teve a coragem de correr", disse à BBC.

Apesar das peças publicitárias audaciosas, o grupo Benetton parece ter sido relativamente cuidadoso na escolha dos líderes mundiais que apareceriam se beijando.
Fotos: Oliviero Toscani
Uma freira beijando um padre, a polêmica campanha de 1991
Os diretores da empresa admitiram que chegaram a considerar usar imagens dos líderes do Paquistão e da Índia, países em conflito há décadas, mas optaram por não fazê-lo para não ferir as sensibilidades culturais dos consumidores daquela região.
Fotos: Oliviero Toscani
Preto no Branco: campanha da Benetton, nos tempos do fotografo Oliviero Toscani
A Benetton tem 425 estabelecimentos na Índia e seus planos de expansão para 2011 incluem a abertura de outras 70 lojas.

No entanto, a professora de marketing da Universidade do Oeste de Oregon, nos Estados Unidos, Kristina Frankenberger, diz que o público que pode se escandalizar com as imagens da campanha não é o mesmo que consome as roupas da marca.

Apesar da audácia, a nova campanha pode não atrair o público jovem atual, segundo especialistas

"Há pessoas que farão um alvoroço nos meios de comunicação por isso, mas elas não são o público objetivo deles, que é de adolescentes e jovens adultos", diz.

Mesmo assim, Frankenberger diz ter dúvidas se a nova campanha conseguirá atrair este mesmo público.

"A Benetton não faz campanhas grandes desde 2000 e é possível que esta audiência potencial nunca tenha visto um anúncio da marca. Mas os jovens de hoje são muito diferentes daqueles do final dos anos 90."

"Eles estão acostumados a anúncios que promovem valores sociais. E há marcas que, neste aspecto, estão à frente da Benetton, como a marca de sapatos Tom´s. Cada vez que um cliente compra um par de sapatos deles, tem que se comprometer a doar outro par a crianças pobres", diz.
Fotos produzidas por Oliviero Toscani






Outras campanhas polêmicas da Benetton entre os anos 80 e 2000 – Imagens produzidas por Oliviero Toscani


17 de nov. de 2011

BRASIL
Lula, o barbudo eterno, sem barba
O presidente divulga as primeiras fotos do visual antecipando os efeitos da quimioterapia, que por certo já se pronunciava. Ninguém se lembrava como era o presidente sem barba.

Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

O presidente fez questão de divulgar as primeiras imagens sem os pelos. Por enquanto deixou o bigode, mas esse também não sobriverá ao tratamento. Se tudo ocorrer como o previsto, na campanha eleitoral, lá para os idos de agosto, o ex-presidente já estará recomposto, de barba, cabelo e bigode.

Postado por Toinho de Passira
Fontes: Instituto Lula , Veja

Na tarde de ontem (16), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva apareceu com a barba e o cabelo raspado, antecipando a queda causada pela quimioterapia usada em seu tratamento contra o câncer de laringe. Dona Marisa Letícia foi a barbeira que cortou o cabelo e fez a barba do ex-presidente.

Lula começou o tratamento no dia 31 de outubro último. Na primeira sessão de quimioterapia, os médicos do Hospital Sírio-Libanês responsáveis por seu tratamento contra o câncer na laringe diagnosticado no ex-presidente, dois dias antes, introduziram um cateter sob a pele na região do peito. O cateter ficará alojado na região até o fim do tratamento.

Em cada uma das três sessões de quimioterapia – com intervalo de 21 dias entre cada uma -, os medicamentos serão injetados, por meio de uma agulha acoplada a esse cateter, por até 120 horas em pequenas doses. Encerrado o período de 120 horas, a agulha é retirada do cateter.

No primeiro dia de tratamento, passou o dia no hospital, só na manhã de terça, após exames, voltou para casa.

Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula/Associated Press

Durante a primeira sessão, que se assemelha, em tese, a uma aplicação de soro, o ex-presidente, recebeu a visita da presidenta Dilma Rousseff, que se acompanhada do Ministro da Fazenda Guido Mantega.

A previsão é de que as sessões de quimioterapia terminem na primeira quinzena de janeiro. Após três ou quatro semanas, será iniciada a radioterapia. Nessa etapa, Lula ficará deitado dentro de um equipamento no qual é emitida uma radiação direcionada ao local do tumor. O procedimento será repetido durante sete semanas e deve ser encerrado até o final de fevereiro. Segundo os médicos, só será possível garantir que o ex-presidente está curado do câncer se não houver recorrência do tumor nos próximos cinco anos.

O cirurgião de cabeça e pescoço Luiz Paulo Kowalski explicou que, no caso de Lula, uma cirurgia para a remoção do tumor seria mais arriscada e só será cogitada caso o tratamento atual não faça efeito.

“O tumor não se fixou nas cordas vocais porque foi descoberto a tempo, mas está muito próximo, logo, não teríamos uma margem de segurança”, disse.

“Há 15 anos essa seria a alternativa mais provável, mas hoje está comprovado que a quimioterapia e a radioterapia oferecem as mesmas possibilidades de cura e minimizam a apresentação de sequelas”.

De acordo com o oncologista Paulo Hoff, as chances de sucesso do tratamento são muito boas, mas ele poderá provocar alguma alteração na voz de Lula.

“Estamos trabalhando para que seja uma alteração mínima e não haja nenhum impacto nas atividades normais dele”, afirmou.

Os médicos na ocasião avisaram que o ex-presidente iria perder também outra marca registrada: a barba. Os médicos relataram que a queda de pelos para pacientes com câncer que são submetidos à quimioterapia é inevitável.

A equipe médica que atende o ex-presidente confirma que as causas mais prováveis do câncer na laringe são o uso de cigarro e de álcool – duas substâncias que acompanham Lula há anos.

Segundo Luiz Paulo Kowalski, esse tipo de tumor é mais comum em homens e São Paulo tem a maior incidência do problema no país.

“Em todo o mundo, há de seis a sete casos em cada 100.000 homens por ano. Em São Paulo, o número anual é de 16 a cada 100.000, provavelmente pelo maior uso de tabaco e pela poluição."

Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Dona Marisa, uma fumante inveterada, dois maços de cigarros por dia, escanhoando o ex-presidente, que dizia que havia parado de fumar, e puxava um cigarrinho escondido dos médicos, até pouco tempo.


Tragédia italiana

11/11/2011

BRASIL - OPINIÃO
Tragédia italiana
“O cálculo da consultoria inglesa Capital Economics é que seriam necessários gigantescos 650 bilhões para tirar a Itália do mercado pelos próximos três anos para um ajuste nas contas do país. Poderia chegar a 700 bilhões se for feita alguma capitalização nos bancos. De onde pode sair tanto dinheiro?”

Foto: Filippo Monteforte/AFP/Getty Images

A figura grotesca como Berlusconi, o demissionário primeiro ministro italiano

Míriam Leitão e Alvaro Gribel
Fonte:Blog de Mirian Leitão – O Globo

A Itália é grande, deve muito, há muito tempo, e tem vencimentos pesados de curto prazo. A Itália está em crise política e já passou por uma ampla reforma política, mas tudo o que conseguiu foi dar o poder a uma figura grotesca como Berlusconi. A crise da dívida abate um país do G-7; não se poderá, a partir de agora, dizer que é problema na “periferia” da Zona do Euro.

Na preparação para a formação da Zona do Euro e da União Europeia estabeleceram-se parâmetros que não foram seguidos pela maioria dos países, mas alguns se esforçaram. A Irlanda é um caso triste porque sua dívida era de 130% do PIB e durante quase duas décadas o país lutou para derrubar esse percentual. Levou-a a 30% do PIB. E perdeu esse ajuste em dois anos. No ano passado, pelos dados da Eurostat, a dívida do país chegou a 95%.

Já a Itália derrubou ligeiramente esse percentual, mas ficou 20 anos com a dívida em torno de 100% do PIB e, com a crise, subiu um pouco. A Irlanda fez o ajuste e cresceu de forma sustentada de 1995 a 2007 numa média de 6% ao ano. Era considerada o caso exemplar. Até que tudo desandou no estouro da bolha imobiliária, numa gigantesca crise bancária que derrubou o PIB em 8% em 2008 e produziu déficits públicos enormes. No ano passado o déficit bateu na inacreditável marca de 31%. O governo irlandês gastou para resgatar os bancos e se afundou na desconfiança dos bancos que exigiram cada vez mais juros. Pediu o resgate quando os juros bateram em 7%.

Ontem os juros exigidos da Itália bateram em 7,4%. A travessia do 7% sempre foi o ponto de não retorno: Grécia, Irlanda e Portugal pediram resgate quando se chegou nesse nível. Mas há um tempo entre a travessia desse número, considerado a marca no chão para o início da zona de resgate, até o momento em que o socorro chega. A Grécia chegou em 7% de juros em abril de 2010, mas eles subiram até 12%, quando então iniciou-se o programa de ajuda. A Irlanda atingiu o 7% em novembro de 2010 e os juros continuaram subindo até 9%. Portugal atravessou a linha em novembro de 2010 e foi socorrida em maio de 2011. Mas a grande dúvida em relação à Itália é se ela pode ser resgatada.

A dívida de 1,9 trilhão é o dobro do que seria o Fundo de Estabilização Europeu ampliado. O Banco Central Europeu pode ser engolfado por essa dívida. O BCE não pode emprestar diretamente aos países, mas tem ajudado através de compra de bônus, mas se o banco central da região for comprar bônus na quantia necessária ele arruína o próprio balanço.

O cálculo da consultoria inglesa Capital Economics é que seriam necessários gigantescos 650 bilhões para tirar a Itália do mercado pelos próximos três anos para um ajuste nas contas do país. Poderia chegar a 700 bilhões se for feita alguma capitalização nos bancos. De onde pode sair tanto dinheiro? Nem o BCE nem o Fundo de Estabilização têm esse dinheiro. E esse é o ponto da consultoria: a Itália não apenas é grande demais para quebrar, mas pode ser grande demais para ser resgatada.

Tudo é diferente entre a Irlanda e a Itália. Um país é pequeno, dependente de exportação, tinha fama de ter feito o dever de casa e parecia ser um exemplo. O outro é grande, tem uma economia sofisticada e diversificada, não tinha feito o dever de casa na dívida, mas o mercado achava que não havia problema porque, afinal, é a oitava economia do mundo. A Irlanda foi resgatada pelo Fundo de Estabilização Europeu, BCE e FMI, e hoje está vivendo um período de maior tranquilidade comparativamente ao período do olho do furacão. A Itália é grande demais para receber o mesmo tratamento de um programa desenhado para evitar que ela tenha que ir ao mercado.

A Grécia ontem anunciou ter chegado a um acordo para formar um novo governo, mas depois se viu que o primeiro-ministro, George Papandreau, havia se precipitado: o país continua sem governo à vista. Os gregos têm uma história diferente dos italianos, acharam que ao entrar na Zona do Euro, e por terem tido queda no custo de financiamento da dívida, haviam ficado ricos. Isso se somou à manipulação de indicadores fiscais e de dívida. Papandreau errou na condução da crise, mas, quando assumiu, a fraude contábil tinha sido cometida pelo governo conservador que o antecedeu.

Meses atrás, as autoridades europeias achavam que havia uma crise de liquidez em alguns países e uma crise de solvência na Grécia. Imaginaram a solução de isolar a Grécia, negociar um calote com os bancos, emprestar o suficiente para rolar a dívida de curto prazo para que o país fizesse um ajuste e conseguisse reconquistar a confiança do mercado.

Hoje já se sabe que: o calote de 20% na dívida foi para 50%, a ajuda não deu certo, a crise política se agravou, o governo caiu, e o mercado continua olhando a Grécia como pária e a população vai enfurecida às ruas a cada vez que uma parte do programa de ajuste é votada.

Para os gregos a única vantagem é que agora já não é mais uma crise deles. Hoje é a gigante Itália que vive a mesma tragédia: crise política, desconfiança, aumento dos juros para rolar a dívida. E a Europa está emparedada. A pedra do dominó que está em queda agora é grande demais e não há solução à vista.


*Acrescentamos subtítulo, foto e legenda ao texto original

EUA: "Algo de podre" - Lucas Mendes

11/11/2011

ESTADOS UNIDOS - OPINIÃO
Algo de podre
Agricultura nos Estados Unidos depende de uma força de trabalho imigrante. Três quartos de todos os trabalhadores de culturas trabalhando em agricultura americana nasceram fora dos Estados Unidos. De acordo com estatísticas do governo, desde o final dos anos 1990, pelo menos 50% dos trabalhadores de culturas não foram autorizados a trabalhar legalmente nos Estados Unidos.

Foto: David Bacon

No Arizona trabalhadores rurais protestam contra ataques a imigrantes e pelos direitos dos trabalhadores agrícolas. Os manifestantes protestaram contra a aprovação de uma lei no Arizona que tornaria um crime de estado ser ilegais. Photo by David BaconLEGENDA

Lucas Mendes - Nova Iorque
Fontes:BBC Brasil

Na alfabetização comunista da minha geração, o Mississippi ocupava lugar de destaque nos males do capitalismo, exemplo do fracasso americano, Estado símbolo do racismo e da pobreza.

Mas outro Estado, o Arizona, vinha buscando o título de campeão da discriminação americana, neste caso, contra os latinos.

Nas eleições de terça-feira passada, os eleitores do Arizona defenestraram um dos campeões da discriminação de imigrantes, dos cortes em saúde e educação e do poder federal.

Nas eleições de terça-feira passada, os eleitores do Arizona defenestraram um dos campeões da discriminação de imigrantes, dos cortes em saúde e educação e do poder federal.

O senador estadual republicano Russel Pearce, (foto) um dos ídolos do Tea Party, sofreu uma derrota surpreendente e humilhante contra um democrata estreante em política, Jerry Lewis.

Russell Pearce conseguiu aprovar uma das leis mais infames do país, a SB 1070, Senate Bill 1070. A lei, aprovada em junho e contestada pelo governo federal no Judiciário, transforma em criminoso quem estiver no Arizona ilegalmente.

Ou seja, se você é um imigrante sem visto, vivendo, trabalhando ou visitando o Estado, você é um criminoso. Cadeia para você.

Perplexo, com olhar de espanto, diante da derrota de 53% a 47% ao tentar se reeleger para o 11º mandato, disse às câmeras e seus eleitores: "Se o preço de falar a verdade é a derrota, assim seja".

E lá se foi o senador Russel, antes tarde do que nunca.



Mirtilos praticamente desconhecido, entre nós, tem uso medicinal atuando em casos de diarréias graves e inflamações na boca. Atribuida ação expctorante e antibacteriana, combate infecção urinária. Possui um valor nutritivo indiscutível apreciado em forma de marmeladas, geleias, doces, vinho e bolos. Seu suco foi empregado para tingir finos vinhos tintos.

Fazendeiros e consumidores de todo país, de maçãs, alfaces, pêssegos, melões, tomates, pimentões, laranjas, mirtilos e dezenas de outras frutas e legumes tiveram um momento de alívio e esperança, mas outros Estados, entre eles Alabama e Geórgia, aprovaram leis brutais e demagógicas contra imigrantes e agora colhem o que plantaram.

Até Estados progressistas como o Maine, que na década de 90 foi um exemplo de abusos de latinos no campo e hoje é um exemplo de bom tratamento de imigrantes legais e ilegais, teve problemas nas fazendas.

O Maine é o maior produtor de mirtilo do mundo e a colheita da fruta é a mais bem remunerada da costa leste: US$ 1.350 por semana para um bom colhedor, e todos eles são latinos.

A fruta é abundante na área de maior desemprego do Estado, 12.2%, mas os locais não vão para o campo. Preferem o cheque do governo de US$ 265 por semana.

Foto: Sandy Huffaker/Getty Images

Trabalhadores rurais hispânicos trabalham na colheita de morangos em Carlsbad, Califórnia.

O trabalho no campo é brutal. Os americanos duram dois ou três dias na colheita e desistem. Antes da proibição de crianças no campo, um mexicano de 8 anos no Maine colhia 3 vezes mais cestas de mirtilo do que um adulto americano e esta não é a única fruta.

Quatro latinos ganham US$ 150 por dia colhendo de 250 a 300 caixas de tomates no Alabama. Vinte e cinco americanos colhem 200 caixas e ganham US$ 24 por dia, menos do que ganham se ficam na vadiagem e recebem o cheque de desemprego.

Os governadores do Alabama e da Geórgia acham que o fracasso desta colheita será corrigido no futuro quando os americanos desempregados e sem opções se virem forçados para ir o campo, mas os dados mostram que o número de vistos temporários de trabalho para los gringos dobrou nos últimos três anos em busca de empregos no vizinho de cima, Canadá.

Foto: Ed Kashi/CORBIS

Colheita de feijão na Flórida, imigrantes haitianos

Quase todo trabalho de colheita manual é feito por um milhão de imigrantes ilegais que começam a trabalhar nos laranjais da Flórida em dezembro, sobem para colher pimentões verdes e melões na Geórgia, mais um pouco para colher tabaco na Carolina do Norte e Virgínia, um pouco mais para as melancias em Delaware, depois os tomates e pêssegos em Nova Jersey, em julho estão no Maine para os mirtilos, e daí seguem para as maçãs e peras em Nova York. Daí, de volta para os laranjais da Flórida.

A horticultura gera US$ 144 bilhões por ano e os americanos comem fartamente algumas das melhores frutas pelos preços mais baixos do mundo.

Os ilegais fugiram do Alabama e da Geórgia porque as leis radicais afetam não só o trabalho no campo como todos os aspectos do dia a dia, como escolas e assistência médica.

O senador Russel Pearce quase aprovou uma lei que proibia cidadania americana para filhos de ilegais.

A realidade está no calcanhar dos xenófobos e demagogos americanos. Há dez anos, os Estados Unidos deportavam 500 mil ilegais por ano. Ano passado deportaram 80 mil.

Neste ritmo, em breve terão de proibir ilegais de sair do país ou pagar US$ 5 por uma maçã. Mais do que nunca precisam dos latinos no campo e a maioria deles trabalha com documentos falsos, pagam impostos e uma Previdência que jamais será recolhida. O Tio Sam embolsa a grana, cospe um caroço e agradece.
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