"O galo do chef" por Lucas Mendes
ESTADOS UNIDOS – Opinião O galo do chef Lucas Mendes fala de um Chef etíope, adotado por um casal sueco, que é sucesso em Nova York, amigo dos Obama e que pensou, na juventude que era jogador de futebol Foto: Divulgação Postado por Toinho de Passira Marcus jogava um bolão. Se vivesse no Brasil, podia ser profissional, mas era baixinho e frágil para os gramados suecos. E não era chegado em livro. Foi parar numa escola vocacional de culinária para adolescentes. Cozinhar ele já sabia, mas era o trivial caseiro, aprendido com a avó. Não imaginava o regime militar de uma cozinha profissional. A saborosa história de Marcus Samuelsson está contada na sua prematura auto-biografia. Ele tem 42 anos. Aos três anos estava num aldeia etíope pobre e doente, longe de hospitais. A mãe, ele e a irmã estavam tuberculosos e enfrentaram uma viagem de 100 quilômetros a pé, num calor infernal, até a capital, Adis Abeba, onde a mãe morreu no hospital. O pai tinha abandonado a família. Marcus, que se chamava Tassahun Tsegie, e sua irmã foram adotados por um casal sueco. Cresceram em Goteborg, uma cidade industrial à beira-mar, com qualidade de vida de operário sueco. A mesa dos Samuelssons era farta, o coração, aberto. De discriminações raciais ele só se lembra de uma experiência quando um grandalhão deu-lhe uma bolada de basquete na cabeça e perguntou: “Você não sabe jogar negerball (bola de negro em sueco)?”. O insulto não deixou marca profunda. As humilhações na cozinha foram piores. Marcus saiu da Suécia para cozinhar na Suíça, França e em grandes navios: “Quando você entra numa cozinha no baixo escalão, seu vocabulário só tem duas palavras: Yes, chef, ou Oui, chef “. São 8, 10 e até 12 horas por dia de "Yes, chef". Uma lição diária de humildade. Muitas vezes, quando ia pedir emprego nos restaurantes europeus, achavam que era candidato a lavador de pratos: "Não, eu sou candidato a vaga de chef” . Numa entrevista no New York Times ele contou a ironia: "Há cem anos os negros lutavam para sair da cozinha. Hoje lutam para entrar”. Marcus veio para Nova York onde entrou, e bem, no restaurante escandinavo Aquavit, que conheci pelo meu filho, Paulo. Era o favorito dele e da namorada, mas não era barato. Só para ocasiões especiais. Por uma série de coincidências, o lugar do chef ficou vago e foi entregue ao jovem Marcus. Aos 24 anos, passou a ouvir: “Yes, chef”. Foi o mais jovem cozinheiro a receber 3 estrelas de um crítico do New York Times, depois foi eleito o melhor chef de Nova York pela James Beard Foundation, a mais respeitada associação de amantes da culinária na cidade. Foto: Win McNamee/Getty Images No ano seguinte, ele foi à cozinha do chefe dos chefes: Barack Obama, como convidado para preparar o primeiro jantar oficial do presidente na recepção ao primeiro-ministro da Índia. Foto: Vogue
*Acrescentamos subtítulo, fotos e legendas a publicação original |
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