OPINIÃO: Mistura perigosa
10/08/2011
OPINIÃO Mistura perigosa A crise internacional, a base aliada no congresso querendo se rebelar e a Poolicia Federal algemando corruptos do PT e do PMDB em plena Explanada dos Ministérios...
Foto: Reuters Merval Pereira Necessidade de conter gastos públicos, por um lado, e a reivindicação generalizada por liberação de verbas e aumentos salariais no serviço público, um paradoxo que desafia o governo e o coloca à mercê de seus próprios aliados. Diante do quadro preocupante da crise econômica internacional, o governo trabalha para não aprovar medidas como a PEC 300, que estabelece um piso salarial nacional para policiais militares e bombeiros, mas políticos da base aliada apoiam a reivindicação. Da mesma forma, uma aliança informal entre vários partidos da base aliada decidiu boicotar as votações de interesse do governo até que sejam liberadas verbas já aprovadas. E, culminando esse clima de insubordinação reinante em Brasília, a Polícia Federal, irritada com as restrições que a própria presidente fez à sua atuação na operação que prendeu 36 pessoas no Ministério do Turismo, um feudo que era do PT e foi transferido para o PMDB, ameaça entrar em greve contra o contingenciamento das verbas que, segundo uma nota divulgada por sua associação nacional de delegados, está impedindo a eficácia de suas ações. "A Polícia Federal já está sofrendo com a agenda econômica do governo, não pode ser pautada também pela sua agenda política", disse o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Bolivar Steinmetz. Esse ambiente já classificado de "clima de boicote", está propiciando à oposição uma situação favorável ao recolhimento de assinaturas para uma CPI da Corrupção, que analisaria todos os escândalos acontecidos nesse começo de governo. Houve um momento do governo Lula em que parecia que o governo havia perdido o controle sobre a Polícia Federal, que estaria agindo autonomamente e a serviço de interesses de grupos políticos variados. Custou muito ao então Ministro da Justiça Marcio Thomaz Bastos controlar a Polícia Federal, e especificamente quanto ao uso das algemas, que hoje está sendo novamente criticado por setores do governo, a muito custo Thomaz Bastos soltou uma norma para evitar esse tipo de exposição de pessoas presas que não ofereçam resistência ou perigo de fuga. O uso de algemas, avaliado como exorbitante por alguns, é uma característica da polícia dos Estados Unidos, e temos por aqui setores da Polícia Federal que consideram pedagógico o seu uso em crimes do colarinho branco. Mas o problema do governo Dilma é que não existe ninguém com a experiência, o conhecimento e a capacidade de influência de Marcio Thomaz Bastos para controlar a Polícia Federal, se ela eventualmente voltar a ficar dividia em grupos e a atuar de acordo com interesses políticos. O atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, não tem essa experiência toda, e não foi por acaso que ele, depois de receber críticas pela atuação da Polícia Federal por parte da própria presidente Dilma, do vice-presidente Michel Temer e de políticos importantes do PT e do PMDB, saiu em defesa dos métodos adotados, para acalmar o quadro de crise na Polícia Federal. Se o governo perder o controle da Polícia Federal, pode voltar aquela época em que todo mundo grampeava todo mundo, em que todo político ou empresário utilizava a Polícia Federal para seus próprios interesses. A presidente Dilma não tem razão para se preocupar com os índices de popularidade registrados na mais recente pesquisa do Ibope, pois aparentemente não houve uma queda, mas uma volta a níveis médios que vêm sendo registrados desde que tomou posse. A comparação com março, quando ela atingiu um índice maior de apoio, não é válida tecnicamente, aquele parece que foi um ponto fora da curva. Sua situação, portanto, está estável, não é preocupante desse ponto de vista. É claro que se ela atingiu um ponto mais alto em março, e agora voltou para média, é sinal de que não conseguiu sustentar uma avaliação positiva mais alta, mas nada grave em termos de aceitação popular. Ela tem que ficar preocupada é com o governo, que está muito desestruturado. Principalmente, tem que se preocupar com os aliados no Congresso, que estão muito inquietos diante dos últimos acontecimentos, inconformados com a ação saneadora do governo e, sobretudo, com as últimas ações da Polícia Federal num ministério controlado pelo PMDB que anteriormente era do PT. O noticiário sobre corrupção no governo, especialmente se é sustentado por fatos concretos, é claro que influencia a percepção da opinião pública sobre o governo, assim como essa percepção negativa pode ser contrabalançada com as medidas que o governo venha a tomar. No caso atual, até o momento o saldo tem sido positivo para a presidente Dilma, embora as coisas estejam ficando meio nubladas por atitudes ambíguas quando as denúncias atingiram ao mesmo tempo o PMDB e o PT. A sensação de que a situação está descontrolada pode afetar o governo. Se todo o dia aparecem acusações novas, denúncias em vários ministérios, o que passa para a opinião pública é que o governo é uma bagunça, está dominado por ladrões. Que não sabe escolher as pessoas que trabalham nele. Mesmo a ação direta contra a corrupção pode ficar neutralizada pela percepção de que o governo perdeu o controle da situação. E o "fogo amigo" atinge vários partidos da base aliada, revelando a verdadeira natureza do que aparenta ser uma coalizão governamental ampla: um saco de gatos onde ninguém se entende. *Acrescentamos subtítulo, foto e legenda ao texto original |
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