16 de nov. de 2011

A brasileira que ocupa Wall Street

12/10/2011

ESTADOS UNIDOS
A brasileira que ocupa Wall Street

A estudante Vanessa Zettler, 23, é uma das líderes do movimento Ocupe Wall Street, que promove marchas e acampamentos em Nova York. De São Paulo e fazendo faculdade nos EUA há um ano, ela diz se sentir parte de um momento histórico.

Foto: Fernando Godoy/ Folhapress

brasileira Vanessa Zettler, 23, que participa do Ocupe Wall Street, em Nova York

Fonte:Folha de São Paulo

Fernando Godoy/ Folhapress A brasileira Vanessa Zettler, que participa do Ocupe Wall Street, em NY Num depoimento a (...) Depoimento a Verena Fornetti, para a Folha de São Paulo, a estudante brasileira, disse:

Recebi por e-mail o chamado do Addbusters, um grupo com fundamentações anarquistas, para ocupar Wall Street. Foi entre junho e julho. Um pessoal se organizou para fazer a primeira assembleia. Eu cheguei na terceira.

O pessoal foi acolhedor. Eles nem tinham tanta experiência em organização política. Eu tinha alguma. Participei de manifestações políticas antes de entrar no curso de multimeios na PUC.

Cresci em Interlagos. Nos últimos anos, estava morando no Campo Belo, na zona sul. Meu pai trabalha no setor financeiro de uma empresa, e minha mãe é dona de casa. Tenho dois irmãos. Sou a do meio e tenho 23 anos. Sempre fiquei insatisfeita em ver gente passando necessidade na rua, gente se matando de trabalhar, não tendo oportunidade de estudar.

Comecei com 17 anos a me envolver, mas não tão intensamente quanto agora. É a primeira vez que estou numa coisa tão grande e estou tão envolvida. Cada dia fico mais empolgada. A organização aqui é complexa. Na assembleia a gente gasta bastante tempo falando de organização. Tem comitê de comida, de conforto, de higiene. O comitê de comida oferece alimentação de graça para qualquer pessoa que chegar. Temos moradores de rua também aqui com a gente e não temos problema. Eles nos ajudam a limpar o parque.

As pessoas que doam alimento e dinheiro são as que apoiam o movimento, mas não podem estar aqui. Já o comitê sanitário mantém a praça limpa. E há o comitê de saúde, com médico para atender quem precisar.

A discussão política ficou e está ficando mais madura, com a diversidade das pessoas aqui e das vozes que estão falando. A cada dia chegam novas categorias -imigrantes, sindicatos etc. Eles diversificam a nossa discussão.

No começo, quem estava organizando era um grupo jovem, classe média e branco. Mas um grupo consciente que queria trazer todas as outras vozes para cá. A gente luta por isso. É uma agenda política ampla. Sobre a regulamentação da economia, o fim do tratamento das empresas como se fossem pessoas.

O [filósofo] Slavoj Zizek já veio aqui, a [escritora] Naomi Klein também. Achei superbacana a consciência de que isso está em diálogo não só com os EUA, mas com o mundo todo. A discussão aqui não é só sobre o mercado financeiro. Nem dá para dizer todas as questões que estão sendo discutidas. Tem a questão da imigração, para que as políticas imigratórias sejam mais flexíveis e tem a discussão sobre a democracia, sobre a ideia de liberdade.

O que é essa liberdade que esse país prega tanto, mas em que a gente vê tantas falhas? Como na liberdade de expressão, que é um dos maiores orgulhos americanos, mas que, quando a gente vai tentar exercer, pode ir presa.

Tem a discussão da democracia representativa, que, na verdade, é uma democracia burguesa, que não promove mudança de fato. E aqui a gente está fazendo democracia direta nas assembleias.

O movimento mudou completamente minha rotina. Agora isso aqui é minha casa. Acordo, faço o que tenho que fazer, vou para a aula, faço meus trabalhos, leio, estudo, mas faço tudo isso aqui.

Só vou para minha casa para tomar um banho, descansar um pouco e voltar. A vida fica bem mais interessante quando você tem alguma coisa que é mais importante do que a rotina. A rotina perde um pouco a sua importância quando você sente que está fazendo parte de um momento histórico.


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