A era Cristinista
01/11/2011
ARGENTINA A era Cristinista A presidente Cristina Kirchner se reelege com vitória histórica e inaugura uma nova coalizão política na Argentina. Sem oposição já que tem maioria esmagadora no novo Congresso, ameaça alterar a constituição para possibilitar nova reeleição. Centralizadora e impulsiva, muitos chegam a vislumbrar, sua hegemonia avassaladora como um risco a democracia argentina.
Foto: Juan Mabromata/AFP/Getty Images Luiza Villaméa A Conhecida como Cidade dos Ventos, por causa das correntes de ar que chegam da Antártica, Río Gallegos, a capital da província argentina de Santa Cruz, amanheceu com o ar parado na quinta-feira 27. Já no solo o movimento era inusitado para a cidade de 100 mil moradores. Acompanhada pelos filhos Máximo e Florencia, a presidente Cristina Kirchner trasladou os restos do marido morto um ano antes para o mausoléu que mandou levantar em Río Gallegos. A construção de três andares e 600 metros quadrados se destaca no cemitério de túmulos baixos e virou ponto de romaria. Foto: Andres Arce/Reuters As homenagens na terra natal foram as primeiras de uma série feita em todo o país ao ex-presidente Néstor Kirchner, cuja morte interrompeu os planos de se alternar com Cristina no comando da Casa Rosada. Em apenas um ano, a presidente, que sucedera o marido em 2007, potencializou a herança de Kirchner e começou uma nova era na política argentina. Quatro dias antes de inaugurar o mausoléu, Cristina foi reeleita presidente com quase 54% dos votos, a maior votação já recebida por um líder político argentino depois da redemocratização do país, em 1983. Foto: Victor R. Caivano/Associated Press Em 2015, quando a presidente terminar o novo mandato, a era cristinista, somada à de Kirchner, vai se igualar em duração à de Perón e sua terceira mulher, Isabelita: 12 anos. A marca poderá ainda ser superada se a possibilidade de eleições sucessivas for aprovada em uma futura mudança da Constituição, como deseja parte dos aliados de Cristina.
Com relação aos tempos de Perón, a presidente gosta mesmo é de ser comparada à Evita, a elegante e carismática primeira-dama conhecida como a "mãe dos descamisados". Vaidosa e determinada como Evita, Cristina revelou outras características depois da morte do marido. Centralizadora, participou das tomadas de decisão nas mais diversas áreas, a começar pela econômica. Enlutada, conquistou a simpatia da maioria dos argentinos, mesmo perseguindo adversários. No discurso da vitória, Cristina pediu a união de todos os argentinos, mas ressaltou que nos próximos anos atuará para "aprofundar o modelo". Logo após assumir o segundo mandato, a presidente afastará de vez o atual vice-presidente, Julio Cobos, que há três anos votou contra o governo durante o enfrentamento com o setor agropecuário que quase paralisou o país – na Argentina, o vice também ocupa a presidência do Senado. Hoje ministro da Economia, Amado Boudou (foto) é o vice-presidente eleito e deve continuar a ter posição de destaque entre o restrito grupo que assessora Cristina nas tomadas de decisão. "Além da lealdade, valorizo o fato de Boudou não ter medo, porque eu preciso de alguém a meu lado que não tenha medo das corporações", disse a presidente ao indicá-lo para a chapa presidencial. Economista, o vice eleito conquistou a simpatia dos Kirchner ao idealizar a estatização dos fundos privados de pensão em 2008. No ano seguinte, Boudou não hesitou em assumir o ministério no pior momento do governo Cristina. Durante a campanha eleitoral, com o país em fase de recuperação econômica, ele fez sucesso tocando nos palcos, como ocorria nos tempos de estudante em Mar del Plata. Aos 48 anos, Boudou costuma circular em uma Harley-Davidson e tem uma coleção de 12 guitarras elétricas. Foto: Arquivo Outra estrela em ascensão no cristinismo é Máximo Kirchner, 34 anos, o filho mais velho da presidente. Ele é criador do La Cámpora, um grupo de jovens militantes que se espalhou de Río Gallegos para o resto do país e acaba de eleger cinco deputados. Com a base governista mais do que consolidada e um poder político inédito, daqui para a frente a presidente reeleita terá na economia um de seus maiores desafios. *Acrescentamos subtítulo, foto e legenda ao texto original |
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