24 de nov. de 2011

EGITO
Os egípcios retornaram a Praça Tahrir
Os protestos no Egito contra o futuro do poder da cúpula militar desde a derrubada, há nove meses, do ditador Hosni Mubarak, ele próprio egresso da Força Aérea, entraram no sexto dia. Houve uma trégua, desde a madrugada de hoje, entre os manifestantes acampados na Praça e as forças de segurança, no intuito de normalizar a situação para a realização das eleições parlamentares na segunda-feira. Os militares foram a televisão pedir desculpas pelos quase 40 mortos e milhares de feridos. A alta comissária para Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Navi Pillay, condenou, a atuação das forças de segurança egípcias contra os manifestantes que protestam na Praça Tahrir, e pede investigação independente, dos incidentes. A primavera árabe segue o seu curso.

Foto: Goran Tomasevic/Reuters/Paris Match

Os confrontos na Praça Tahrir geram imagens que chocaram novamente o mundo. Dezenas de mortos, milhares de feridos

Postado por Toinho de Passira
Fontes:Reuters, BBC Brasil, , Estadão, Portal Terra, Notícias UOL, Paris Match UOL

Uma trégua entre a polícia egípcia e manifestantes durante a madrugada desta quinta-feira conseguiu aplacar a violência que matou 39 pessoas e mais de 2,5 mil feridos, em cinco dias, mas as pessoas que estão protestando na Praça Tahrir, no Cairo, prometeram ficar no local até que o Exército renuncie ao poder.

Em pronunciamento na TV, dois dos generais que comandam o país pediram desculpas à população pelas mortes de civis nos confrontos, ofereceram condolências às famílias dos mortos, e prometeu uma rápida investigação para descobrir quem estava por trás dos incidentes.

Foto: Goran Tomasevic/Reuters/Paris Match

A aparente paz possível em meio ao caos na Praça Tahrir

Manifestantes na Praça Tahrir, porém, disseram que uma trégua havia sido estabelecida à meia-noite. Ao amanhecer, a área estava tranquila pela primeira vez em dias.

Foto: Goran Tomasevic/Reuters/Paris Match

Por dentro da batalha, o improviso dos manifestantes, no meio de uma nuvem de gás lacrimogênio

Faltando menos de uma semana para as eleições parlamentares no Egito, marcada para segunda-feira, 28, o clima de revolta contra o governo aumenta em várias cidades, em especial na capital Cairo. Desde sábado, manifestantes pedem a renúncia da junta militar que controla o país e de seu líder, marechal Mohamed Hussein Tantawi.

Desde o último dia 19, quando as forças de segurança tentaram remover dezenas de manifestantes acampados na Praça Tahrir, no centro do Cairo, ativistas e simpatizantes de partidos políticos diversos compareceram em peso para ocupar o local.

Nas ruas, a população continua desconfiada dos militares e já não confia na instituição que, até a revolução que tirou Mubarak do poder, era admirada e respeitada pelos egípcios.

Em cafés e locais de concentração de pessoas para um momento de lazer, os rumores frequentes são de que os militares manterão seu domínio sobre o país, mesmo após a eleição de um novo governo civil.

Foto: Goran Tomasevic/Reuters/Paris Match

Uma lata e uma pedra: Capacete e arma improvisados pelo manifestante

O ministro do Interior do Egito, Mansour Al Essawy vem defendendo o adiamento do pleito, devido às condições de segurança do país, mais o Conselho Supremo das Forças Armadas, confirmou a realização das eleições na data marcada.

Em outros bairros do Cairo, como Zamalek, Dokki e Mohandisen, a vida segue normal. Para um desavisado, a impressão é de que as pessoas não se interessam pelo que ocorre na Praça Tahrir, símbolo da revolução que derrubou Mubarak.

Fotos: Goran Tomasevic/Reuters/Paris Match



Segundo a BBC Brasil existe um comércio ambulante, nas proximidades da Praça Tahrir, que vende máscara aos manifestantes, que vão enfrentar as tropas de segurança

Mas nas conversas em cafés e restaurantes, o assunto é o futuro político do país e os confrontos entre jovens e polícia nas imediações da Tahrir.

No editorial de ontem o Estadão comenta:

“De acordo com o combinado entre representantes civis e o Conselho Supremo das Forças Armadas depois da destituição de Mubarak, um governo civil deveria ser empossado em seis meses para conduzir a transição. O ciclo eleitoral a terminar em 10 de janeiro, aberto a tantos quantos quisessem disputar as preferências dos 50 milhões de egípcios aptos a votar, deveria gerar um Legislativo de 498 cadeiras.

A sua função mais importante seria escolher a comissão de 100 membros incumbida de redigir uma nova Constituição. Já sob a égide da Carta democrática, os egípcios voltariam às urnas o quanto antes para eleger o presidente do país. Só que os militares deram o dito pelo não dito. Subordinaram a si o governo provisório. Mantiveram a agenda eleitoral, mas se concederam a prerrogativa de nomear 80 dos 100 constituintes, esvaziando clamorosamente os poderes do Parlamento, e deixaram em aberto à data da eleição presidencial.

Foto: Goran Tomasevic/Reuters/Paris Match

Os manifestantes conduzem os feridos para hospitais improvisados nas proximidades da Praça Tahrir

O pior de tudo para as muitas centenas de milhares de jovens que removeram em 18 dias uma ditadura de 30 anos foi à decisão dos militares de se colocar acima das leis. Nem a Constituição nem a legislação que a ela se seguir poderão interferir na esfera militar - incluindo, entre outras coisas, o orçamento das Três Armas, as atividades econômicas sob o seu controle e a política de defesa nacional.

Foto: Goran Tomasevic/Reuters/Paris Match

Jovem manifestante preparado para lançar coquetel molotov contra as forças de segurança

As Forças Armadas egípcias estão no poder desde que depuseram o carcomido rei Faruk, em 1952, para livrar a nação da herança do colonialismo britânico. Ao longo desses quase 60 anos, nenhum aspecto da vida nacional do mais populoso país árabe ficou à margem de sua influência. Friamente, faz sentido que desejem preservar a sua hegemonia nas instituições de Estado, com os privilégios e as oportunidades de corrupção a isso associados. Não é tudo, porém.

Foto: Goran Tomasevic/Reuters/Paris Match

A alta comissária para Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, pediu que “as autoridades egípcias encerrem o uso claramente excessivo de força contra os manifestantes na Praça Tahrir e em outros lugares do país, incluindo o aparente uso indevido de gás lacrimogêneo, balas de borracha e munição".

Tiveram sensibilidade política para não reprimir (salvo numa ocasião) o clamor pelo fim da era Mubarak. Mas nas academias militares - da antiga URSS às dos Estados Unidos e Reino Unido - não lhes ensinaram a conviver com a algaravia inerente à política nas democracias nascentes. Fazendo lembrar o Iraque pós-Saddam, por exemplo, mais de 70 legendas e coligações lançaram milhares de candidatos ao Parlamento do Cairo. A favorita delas assombra a junta militar. Trata-se do Partido Justiça e Liberdade (PJL), codinome eleitoral da Irmandade Muçulmana, banida no antigo regime.

Foto: Goran Tomasevic/Reuters/Paris Match

Tentando minimizar os efeitos do gás lacrimogênio.

Como os seus camaradas de décadas atrás na Argélia, a oficialidade secular egípcia tem horror à ideia de ver os fundamentalistas no governo, ainda que se declarem tolerantes e pacíficos. Teme que se repita no país a vitória do partido conservador islâmico Nahda nas recentes eleições tunisinas. Por via das dúvidas, a Irmandade vem agindo como bombeiro no novo ciclo de conflitos de rua, a ponto de um dos dirigentes do PJL, o moderado Mohamed Beltagy, ter sido escorraçado da Praça Tahrir pelos jovens irados - e sem comando - que agora pregam a derrubada do marechal Tantawi.

No cenário político-religioso egípcio, a Irmandade parece uma organização agnóstica perto do Partido Nour, formado pelos zelotes da seita salafista. Para se ter ideia, seus cartazes mostram apenas os candidatos homens. Mas eles não constituem uma ameaça real e presente à democratização egípcia. Os militares, sim.”

Foto: Goran Tomasevic/Reuters/Paris Match


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