OPINIÃO - Presidente Adão - Lucas Mendes
26/09/2011
ELEIÇÕES EUA - OPINIÃO Presidente Adão Se numa eleição você tivesse de votar num muçulmano fundamentalista ou num cristão fundamentalista, em quem você votaria?
Foto: Matt Sullivan/Getty Images Lucas Mendes Se numa eleição você tivesse de votar num muçulmano fundamentalista ou num cristão fundamentalista, em quem você votaria? Talvez você nunca tenha ouvido falar em dominionismo - não está no Houaiss -, mas vai ouvir. Neste momento, é a ala extremista mais influente do cristianismo evangélico nos Estados Unidos. Na década de 80, a direita cristã ganhou poder liderada pelos reverendos Falwell e Pat Robertson. Decaíram na virada do século. Eram considerados muito à direita do centro, mas em vez de pastores e versões mas moderadas, esta direita fracassada gerou o dominionismo, um filho radicalíssimo. Os dominionistas acham que os cristãos tem o direito, mais, a obrigação divina, de controlar todas instituições. A essência da teoria vem de Gênesis, no Velho Testamento, onde Deus diz a Adão "para assumir o domínio do mundo animado e não animado". A missão: controlar as "Sete Montanhas" da sociedade: família, religião, artes e entretenimento, mídia, governo, educação e empresas. Barack Obama e os democratas no Congresso são, literalmente, encarnações do demônio. Foto: Scott Audette/Reuters O homem deles é Rick Perry. No mundo dominionista os tribunais serão teocráticos com decisões jurídicas baseadas nos dez mandamentos e outras instruções da Bíblia. Homossexual? Pena de morte. O universo religioso evangélico é vasto e complicado. Centenas, milhares de tendências. A novidade é o grupo dominionista da NAR - New Apostolic Reformation - conectado com alguns dos principais candidatos republicanos, entre eles o texano Rick Perry, em rápida ascendência, e Michele Bachman, em rápida decadência. O Texas, do governador Perry, é, segundo os líderes religiosos, um Estado profético, foco da transformação que está a caminho. Em agosto, o governador Rick Perry organizou “A Resposta”, um comício religioso num dos maiores estádios americanos. A mobilização contra Barack Obama foi um dos trampolins do governador Perry para se lançar na campanha presidencial e assumir a liderança entre os candidatos republicanos. Foto: Justin Sullivan/Getty Images O livro sobre ela lançado na terça-feira, The Rogue, Searching for the real Sarah Palin, de Joe McGinniss, é uma pá de cal ou lama na candidata - depende de sua inclinação política. A grande imprensa, intimidada e cheia de pruridos, fugiu do livro. A imprensa menor focalizou na relação sexual de Sarah com um atleta negro quando ainda era solteira. Parece um problema menor, mas Sarah, adolescente, pediu para sair de uma escola secundária porque muitos colegas não eram brancos. Quando foi eleita governadora, uma das primeiras decisões foi demitir vários negros "porque não se sentia confortável na presença deles". Dentro deste contexto, a relação sexual com um negro merece ser contada, diz McGinniss. Na época, o negro não era estrela, hoje é um conhecido jogador de basquete e não nega o affair: "a relação com Sarah foi ótima e continuamos amigos por muito tempo". Ela nega, mas, para o autor, o affair revela o talento de Sarah para esconder vários aspectos da vida pessoal, entre eles se é a verdadeira mãe do filho retardado, Trig, que exibia em todos seus comícios. Para a esquerda, se Obama teve de mostrar a certidão de nascimento no Havaí, porque Sarah não mostra a certidão de nascimento do filho? Se o personagem destas histórias fosse Barack Obama, elas seriam o prato do dia na imprensa conservadora, mas a grande imprensa não chega perto dos escândalos levantados no livro. Para McGinniss, um problema maior do que as transas sexuais de Sarah e seu semi-analfabetismo geopolítico, é o fanatismo religioso. Aos oito anos de idade ela era uma missionette, como eram chamadas crianças engajadas pela igreja para distribuir panfletos religiosos de porta em porta. Ela continua missionária. "Sarah Palin acredita em bruxaria. Fez 'proteções e encomendas' para fechar o corpo e destruir inimigos. A missão dela é transformar a democracia americana numa teocracia fundamentalista". Sarah afirma, sem vacilar, diz McGinniss, "que o mundo só tem 6 mil anos. Vindo de uma pessoa que por poucos pontos percentuais quase foi vice-presidente dos Estados Unidos e poderia ter assumido o poder no caso da morte de um velho e frágil presidente McCain, é assustador". Sarah ainda não é nem deve ser candidata a presidente. É muito bem sucedida como "celebridade" e não tem chances nem entre os próprios republicanos. Mas neste século 21 temos um plantel de candidatos republicanos e celebridades políticas prontos para nos levar de volta ao século 17 ou, muitos antes, aos domínios de Adão. *Acrescentamos subtítulo, foto e legenda ao texto original |
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