ARGENTINA Cristina Kirchner será reeleita amanhã
As eleições da Argentina foram decididas de véspera. Ninguém acredita que nenhum candidato da oposição possa fazer frente a atual presidenta do Partido Justicialista. Nem de longe a soma dos votos de todos os candidatos da oposição, pode assombrar a atual ocupante da Casa Rosada, ameaçando-a com um segundo turno. Tudo vai se resolver nesse domingo e a seu favor. Ainda por cima, estima-se que ela terá uma esmagadora votação e fará maioria nas duas casas legislativas. Será uma vitória histórica e retumbante, algo que jamais se poderia imaginar há dois anos atrás.
Martin Acosta/Reuters
"A morte de Nestor Kirchner (2003-2007), fez Cristina parecer uma figura nova (na política).
Postado por Toinho de Passira Fontes:Fox News , Wikipedia, Coluna de Vitor Hugo Soares, BBC Brasil
Neste domingo, 23 de outubro, Cristina Elisabet Fernández de Kirchner (Cristina Kirchner), 58 anos, do Partido Justicialista, será reeleita presidenta da Argentina, garantindo mais quatro anos na Casa Rosada. Passa a ser a pessoa que mais tempo residirá no Palácio presidencial, em Buenos Aires: somando os oito anos como primeira dama, os quatro desse atual mandato e mais quatro do próximo, serão 16 anos, ininterruptos.
Sua reeleição é assegurada como certa, por todos os meios possíveis de previsão, inclusive pelas pesquisas encomendadas pela oposição. A dúvida situa-se, apenas, em quão retumbante serão os números. As últimas pesquisas indicam que 57% dos argentinos vão escolher o seu nome da hora de votar. Análises mais detalhadas, porém, dizem que não será surpresa se ela obtiver algo como 60% dos votos válidos. Uma vitória que entrará para a história política do país. “Fenômeno assim de fazer inveja mesmo quando comparado aos melhores desempenhos no passado de Juan Domingos Perón, o criador do justicialismo, quase divindade popular de prestígio considerado até agora insuperável em seu país.”
Note-se que o oposicionista que está melhor colocado nas pesquisas, depois dela, é o social democrata Hermes Binner, com magros 16%, das intenções de voto. O resto da oposição pulverizou-se em mais 20%. Para os analistas o candidato oposicionista Hermes Binner, governador da província de Santa Fé, da Frente Ampla Progressista (FAP) conseguiu se destacar dos demais, devido a sua postura pouco crítica e sem enfrentamentos a política da atual presidenta.
No próximo domingo, além de escolher o presidente, os eleitores também irão renovar parte da Câmara dos Deputados e o Senado, além de alguns governos e legislaturas provinciais. Por isso, os candidatos da oposição, estão centrando seus discursos, numa tentavia de evitar, também, uma possível e previsível derrota no Congresso Nacional. Atualmente, a oposição tem maioria na Câmara e o governo maioria no Senado.
Alfonsín, filho do ex-presidente Ricardo Alfonsín (1983-1989), pediu que os eleitores deem seu voto para que a oposição possa "controlar o governo no Congresso".
"Se não formos eleitos para a Presidência pelo menos devemos ser fortes no Congresso", afirmou.
Na mesma linha , o deputado da oposição Adrián Pérez, candidato a vice na chapa da Coalición Cívica (CC) disse que "devemos pelo menos trabalhar para evitar que o governo tenha maioria no Congresso".
Entrevistados pela BBC Brasil, os deputados da oposição Adrián Pérez, da Coalición Cívica, e Federico Pinedo, do PRO ( Propuesta Republicana), apontaram o crescimento da economia e a fragmentação da oposição como fatores "decisivos" para explicar o favoritismo de Cristina.
"Existe uma grande possibilidade de que o governo vença e com comodidade", afirmou Pérez. "O país está crescendo fortemente há quase oito anos e gerando maior consumo".
Foto: Marcos Brindicci/Reuters
Cristina Kirshner em campanha
"A morte de Nestor Kirchner (2003-2007), fez Cristina parecer uma figura nova (na política). Na verdade, o governo dela, sozinha, só tem um ano, desde a morte dele." “Até então, ambos eram chamados de "o casal presidencial". -comentou o analista político Rosendo Fraga, do Centro de Estudos Nova Maioria.
Para Pérez, os eleitores avaliam que o governo Kirchner "enfrentou bem" a crise de 2008 e que estaria pronto para outros momentos de insegurança, apesar dos possíveis efeitos da crise internacional na economia argentina.
O mais surpreendente é que, há dois anos, essa possibilidade era impensável. O país estava mergulhado numa crise econômica descontrolada, greves e confrontos de agricultores e sindicalistas com o seu governo, e seus índices de popularidades despencando a níveis vexatórios.
Oficialmente, pelos institutos de pesquisa do governo, a Argentina será, este ano, o segundo país com a maior taxa de crescimento do mundo, depois da China.
Segundo dados do Ministério da Economia, o país registrou crescimento anual de cerca de 7% desde que o ex-presidente Néstor Kirchner assumiu a Presidência, em 2003, e neste ano a cifra deverá superar os 8%.
O índice oficial de pobreza caiu para menos da metade, e a geração de empregos formais (de carteira assinada) subiu com a criação de mais de 3 milhões de vagas neste período.
Mas esses números oficias são fortemente questionáveis. Principalmente no que tange as estatísticas oficiais de inflação, que afetam dados sobre os reais níveis de pobreza no país. A fuga de capitais do sistema financeiro aumentou durante a campanha, e foram intensificadas as críticas sobre o nível de dependência da economia argentina em relação à brasileira e do preço da soja no mercado internacional.
Apesar do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina, o questionamento da veracidade dos índices econômicos ainda faz sombra na campanha da presidente Cristina Kirchner, favorita para vencer o pleito presidencial deste domingo.
Foto: Enrique Marcarian/Reuters
"As pessoas não entendem por que o governo não assume que a inflação é alta e resolve o problema", disse a economista Mariel Fornoni, do instituto de pesquisas de opinião Management Fit.
Pelos cálculos do INDEC (equivalente ao IBGE na Argentina), a inflação anual é de cerca de 10%. Pelas estimativas dos governos provinciais e das consultorias privadas, porém, a inflação anual estaria em torno de 25%.
Dados oficiais indicam que a pobreza está em torno dos 8%, após ter atingido 54% quando Kirchner assumiu, logo após a histórica crise econômica de 2001-2002. Mas para especialistas como Ernesto Kritz, da Sel Consultores, e Artemio López, da consultoria Equis, o índice de pobreza ainda é de cerca de 20% (entre 8 e 10 milhões de pessoas).
Crítico do governo, o ex-presidente do Banco Central, economista e deputado da oposição Alfonso Prat-Gay, da Coalición Cívica (CC), disse que a Argentina está "jogando fora uma oportunidade" e que deveria aproveitar melhor este momento de crescimento.
"A economia cresce, mas a inflação é maquiada, o governo aumentou o gasto público e estamos jogando fora uma oportunidade para resolver problemas estruturais do país, como questões de infraestrutura", disse Prat-Gay.
Para ele, o governo gerou uma "fantasia" que inclui os subsídios estatais para setores como transporte público e energia elétrica, graças aos quais as tarifas estão congeladas, apesar da escalada de preços.
"Em algum momento o governo deverá ajustar esses números, e temo que esta conta sobrará para a população", disse. Para ele e para outros parlamentares da oposição, como Adrian Perez, da CC, e Federico Pinedo, do PRO, a população optou por aumentar o consumo para "proteger seu dinheiro" diante da inflação.
Estudos privados, divulgados pela imprensa local, indicam que, entre créditos pessoais para compras e para viagens, a alta teria sido de 40% em um ano. Prat-Gay argumenta que são créditos para consumo principalmente de eletrodomésticos e automóveis, mas não de longo prazo como para a casa própria, "o que indica a desconfiança" no atual momento econômico.
Para compensar a alta de preços, o governo e as empresas estão promovendo o aumento nos benefícios sociais e nos salários. Segundo Kritz, os salários da economia formal estão subindo acima da inflação, levando os principais sindicatos do país a apoiarem a reeleição da presidente.
Na radiografia da economia argentina, opositores apontam a fuga de capitais como mais um sintoma da "desconfiança" no atual modelo econômico.
"No primeiro semestre os argentinos compraram dólares devido ao clima eleitoral. Agora compram porque temem que o dólar possa subir depois das eleições", disse o economista Francisco Gismondi, do Banco Ciudad.
Comprar dólares é tradição no país, mas sua intensidade é um dos poucos sintomas de campanha eleitoral no país, já que não existem passeatas ou outras marcas pré-eleitorais.
Para economistas, como Marcelo Elizondo, da consultoria DNI, a economia argentina continua dependente das exportações da soja e da saúde da economia brasileira – principal mercado para suas exportações.
"E somente depois das eleições vamos saber como o governo vai resolver desarranjos como a inflação e os subsídios ao setor público. E se pagará ou não o Clube de Paris, transmitindo maior confiança também ao mercado externo. Será então a hora da verdade", disse.
Mas aí, já será tarde demais.
Fotos: Reuters
TODOS OS CANDIDATOS: Concorrem amanhã ao cargo de presidente da Argentina: Cristina Fernandez de Kirchner, o Governador Hermes Binner, o deputado Ricardo Alfonsin, o Governador Alberto Rodriguez Saa e Eduardo Duhalde, peronista dissidente. |
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