12 de jun. de 2009

A liberdade dentro da jaula iraniana

A liberdade dentro da jaula iraniana

Foto: AP

Destaque para a participação vibrante das mulheres nas eleições iranianas

Caio Blinder
Fonte: Último Segundo

É uma ironia: o espaço democrático no Irã é muito limitado, mas o vigor demonstrado na campanha às eleições presidenciais desta sexta-feira é de causar inveja na grande maioria dos países do Oriente Médio. Barack Obama, aliás, escolheu o autocrático Egito, na semana passada, para sua mensagem de conciliação para o mundo islâmico. O país governado pelo octogenário Hosni Mubarack nunca teve uma campanha eleitoral tão vibrante como a do Irã que culmina nas eleições desta sexta-feira.

Foto: AP

Mahmoud Ahmadinejad em campanha pela reeleição

Em 30 anos de revolução xiita nunca se vira uma disputa tão emocionante, com tantos brados contra o representante direto do sistema, o presidente Mahmoud Ahmadinejad, em busca de reeleição.

No Cairo, Obama falou de necessidade de mais oportunidades para as mulheres. Sua escala anterior fora na Arábia Saudita, aliado do peito dos EUA e onde a discriminação das mulheres é vergonhosa. Já no Irã as mulheres estão conquistando os direitos na marra por estes dias em Teerã, desnudando o sistema de opressão com véus e lenços na cabeça.

Foto: AP

Zahara Rahnavard participando da campanha com o marido candidato reformistas Mir Hossein Moussav, uma quebra de tabu

Com coragem, muitas mulheres cerram fileiras com Zahara Rahnavard, mulher do candidato reformista Mir Hossein Moussavi. O casal rompeu o tabu e faz a campanha junto. Zahara Rahnavard, intelectual e artista renomada no Irã, não deixou por menos e disse que vai processar por difamação Ahmadinejad, por ele ter questionado a validade do seu diploma universitário. No Irã do ignorante e obscurantista Ahmadinejad, que faz o que pode para remover direitos femininos, a taxa de alfabetização das mulheres é de 77%, uma das mais altas do Oriente Médio e elas representam 60% dos estudantes nas universidades.

Não vamos exagerar este carnaval político, que os mais afoitos rotulam de primavera de Teerã. Todos estão sambando dentro da jaula. Apesar da visibilidade (e Ahmadinejad faz o que pode para aparecer com sua barbaridade retórica), o poder do presidente é limitado no Irã.

Foto: Getty Images

O aiatolá Khamenei, o verdadeiro dono do poder

O líder supremo, o aiatolá Khamenei, não eleito pelo povo, tem autoridades constitucional sobre as alavancas do Estado (incluindo questões militares, judiciais e imprensa) e possui a última palavra nas principais questões, como o programa nuclear e as relações com os EUA.

Somente os candidatos considerados suficientemente leais aos ideais da revolução xiita podem concorrer. O sistema é inteligente e em meio ao sufoco social e moral ele afrouxa as amarras em alguns momentos e projeta esta face democrática ao mundo. A linha dura está vigilante e já expressa inquietação com os paralelos entre esta ebulição eleitoral, simbolizada pela cor verde, e os movimentos sociais que levaram à queda de regimes comunistas na Europa Oriental a partir de 1989, como a revolução de veludo, em Praga.

Foto: AP

Não sabemos para onde o Irã vai descambar a partir deste processo eleitoral. Os mais céticos dizem que não passa de troca de seis por meia dúzia, caso Ahmadinejad seja derrotado. A conversa, no entanto, será realmente mais interessante quando saírem os números da eleição. Uma vitória reformista será suada. O regime costuma recorrer a táticas corruptas e fraude para se perpetuar no poder. Alguns líderes reformistas estimam que serão necessários cinco milhões de votos adicionais para compensar o trambique.

Nas emoções políticas iranianas do momento, mesmo dentro das limitações, meia dúzia é diferente de seis. Qualquer um é diferente de Ahamadinejad


Nenhum comentário: