20 de jun. de 2009

Aiatolá Ali Khamenei cala os iranianos

Aiatolá Ali Khamenei cala os iranianos
Num raro discurso, Ali Khamenei veio ontem dar o seu apoio ao Presidente Mahmud Ahmadinejad e garantiu que "não vai ceder à pressão da rua".

Foto: AFP - Getty Images

A Anistia Internacional acusa o Líder Supremo do Irão, com o discurso de onten, de dar "luz verde" ao uso da força contra "cidadãos que exprimem a sua opinião".

Fontes: Diario de Notícias - Portugal, Al Jazeera, The New York Times, Reuters

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, no seu primeiro discurso à nação desde que os resultados da eleição deflagraram as maiores manifestações de rua dos 30 anos de história da República Islâmica, mandou parar os protestos e advertiu aos líderes que questionam a eleição presidencial, dizendo que eles seriam responsáveis por qualquer derramamento de sangue.

Segundo o líder supremo Khamenei a eleição, ocorrida há uma semana, foram vencidas honestamente e sem fraude por Mahmoud Ahmadinejad, ao contrário do que acusa o candidato derrotado, Mirhossein Mousavi.

“Mousavi não planeja fazer um comício amanhã ou depois de amanhã e se ele decidir realizar um comício será anunciado no site dele", disse um aliado do candidato derrotado à Reuters, depois do discurso do aiatolá.

Foto: European Pressphoto Agency

Mahmoud Ahmadinejad estava entre os presentes orando junto ao aiatolá, e recebendo sua benção espiritual e apoio político

“O resultado da eleição vem das urnas, não das ruas", disse Khamenei. "Hoje, a nação iraniana precisa de calma."

A mídia estatal relatou que sete ou oito pessoas morreram durante o levante, iniciado depois que o resultado da eleição foi divulgado em 13 de junho, mais há quem afirme que ocorrem óbitos em números bem superiores aos dados oficiais. Vários reformistas foram presos e as autoridades tomaram medidas duras contra a imprensa local e estrangeira.

Khamenei também atacou o que chamou de interferência das potências estrangeiras que questionaram o resultado da eleição, dizendo que os inimigos do Irã tentavam minar a legitimidade do establishment islâmico.

“As declarações das autoridades americanas sobre os direitos humanos e as restrições às pessoas não são aceitáveis, porque eles não têm nenhuma ideia de direitos humanos após o que fizeram no Afeganistão e no Iraque e em outras partes do mundo", afirmou ele.

Foto: Getty Image

O discurso de Khamenei seguiu-se a seis dias de protestos feitos por partidários de Mousavi. Na quinta-feira, dezenas de milhares de manifestantes segurando velas percorreram as ruas do centro de Teerã em homenagem aos mortos durante os protestos.

Se os partidários de Mousavi desafiarem a advertência explícita de Khamenei contra mais protestos, eles correrão o risco de provocar uma resposta dura das forças de segurança, que até agora não tentaram evitar as grandes reuniões.

Foto: Reuters

Jogadores da Seleção do Iran, no último dia 18 jogaram com um fita verde, demonstrando apoio a oposição. Empataram em 1x1 com a Coréia do Sul e foram desclassificados para a próxima Copa do Mundo.

O principal órgão legislativo do Irã, o Conselho dos Guardiões, está examinando queixas de três candidatos derrotados, mas informou que determinará a recontagem de apenas algumas urnas, e não anulará a eleição, como exigido por Mousavi.

Outro candidato, Mehdi Karoubi, pediu através de uma carta nesta sexta-feira que o resultado da eleição seja cancelado.

Khamenei disse que os candidatos derrotados estavam errados em acreditar "que, usando os protestos de ruas como instrumento de pressão, podem compelir as autoridades a aceitar suas demandas ilegais. Isso seria o início de uma ditadura."

Foto: MortezaNikoubazl/Reuters

Milhares de pessoas ouviram atentamente o discurso de Khamenei ecoando dos alto-falantes do lado de fora da Universidade de Teerã, por vezes aplaudindo e cantando para manifestar aprovação à fala.

No mesmo local, centenas de estudantes universitários fizeram uma manifestação em apoio a Mousavi no domingo passado, atirando pedras contra a polícia que tentava dispersar os manifestantes para fora dos portões.

“Com esse discurso, o líder pôs fim a todos os problemas", disse um clérigo de meia-idade na multidão. "As diferenças entre os políticos serão resolvidas."

Muitas das pessoas reunidas para ouvir Khamenei estavam envoltas em bandeiras iranianas. "Não deixem que a história do Irã seja escrita com a caneta dos estrangeiros", dizia um folheto.

Foto: Meisam Hosseini/AP

O líder supremo Khamenei reúne liderança religiosa e política, fica difícil pensar os iranianos rebelarem-se contra sua vontade expressa.

Certamente não haverá mais recontagem de votos, e se alguma manifestação for às ruas, será recebida a bala.

Em sinal de desafio, porém, apoiadores de Mousavi subiram em telhados de Teerã após o por-do-sol nesta sexta-feira para gritar Allahu Akbar (Deus é o maior), ecoando uma tática da Revolução Islâmica de 1979, foi seguramente o último ato de protesto da oposição.


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