16 de jun. de 2009

Irã em ebulição: 7 mortos e protestos continuam

Irã em ebulição: 7 mortos e protestos continuam
Vai haver recontagem parcial dos votos, numa manobra para desmobilizar a oposição enquanto retiram do país os jornalistas estrangeiros. Vão calar o povo que se rebelou de uma forma nunca antes vista no antigo e conservador Irã, a antiga Pérsia

Foto: AP

Não se sabe o que poderá acontecer a essas pessoas que abertamente protestam hoje nas ruas do Irã, depois que a imprensa internacional for retirada do país. O detalhe é que as palavras de ordem são escritas em ingles: “Onde está meu voto?”

Fontes: Estadão, Esatadão, BBC Brasil, Estadão, New York Times, New York Times, G1

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, mostrou-se favorável a uma recontagem parcial dos votos da eleição presidencial que reelejeu Ahmadinejad, o Conselho de Guardiães do Irã, órgão que supervisiona a eleição presidencial anunciou que vai recontar os votos nas áreas em litígio. mas apenas das urnas em que existam denúncias de irregularidades.

A decisão sucede a três dias de protestos no país, com pelo menos sete mortos e conflitos entre os partidários do presidente Mahmoud Ahmadinejad e de seu principal adversário, Mir Hussein Mousavi, acerca do resultado da eleição presidencial.

As mortes teriam ocorrido depois um ataque a um posto militar nas proximidades de onde os protestos aconteceram, nesta segunda-feira. Novas manifestações aconteceram nesta terça-feira em Teerã.

A agência de notícias France Presse informou que o serviço de medicina legal, ligado ao Ministério da Justiça, negou o registro de mortes.

Foto: Vahid Salemi/AP

Mas na internet são divulgadas fotos de mortos, abandonados nas ruas ou conduzidos como bandeiras nas mãos dos manifestantes.

Milhares de iranianos recorrem à internet para organizar manifestações dentro e fora das ruas. Se em Teerã os protestos são sistematicamente reprimidos pela polícia, no Twitter - comunidade de microblogs que reúne milhões de usuários através de mensagens de apenas 140 caracteres - a discussão sobre o impasse político se tornou o principal assunto da rede.

Foto: Behrouz Mehri/AFP - Getty Images

Mir Hussein Mousavi, o candidato derrota, não foi preso como se chegou a divulgar e continua a frente dos protestos, alegando fraude eleitoral

Até mesmo o candidato derrotado Mir Hussein Mousavi, tem usado sua página no site para protestar e divulgar sua mensagem de resistência, em inglês e farsi. O governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad já reage: tanto o Twitter como o Facebook, outra popular rede de relacionamentos da web, estão bloqueados no país, informa a rede de televisão árabe Al Jazeera. De acordo com a emissora, no domingo também não era possível enviar mensagens de texto por celular.

O protesto denuncia fraudes no processo eleitoral, em favor do radical Ahmadinejad, que segundo o resultado oficial foi reeleito com 62,6% dos votos. O moderado Mousavi afirma que houve compra de votos e não aceita o resultado, que lhe dá cerca de 34% das urnas. Após queixa perante o Conselho dos Guardiães, o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, mais alto dirigente do país, pediu nesta segunda-feira uma investigação da votação.

Foto: Naghshe Jahan Sq Esfehan/IRAN

Enquanto os protestos ganham força mesmo proibidos - nesta segunda, mais de 100 mil pessoas compareceram a um ato em Teerã -, Mousavi pede "calma e paciência" em seu site de campanha.

A violência só é possivel ser testemunhada por conta de blogueiros como o já famoso Madyar, que no seu twitter, onde faz uma vasta cobertura fotográfica dos eventos. "Não vamos permanecer em silêncio. Vamos reagir. Crime, crime, crime", escreveu ele no Twitter, que diz em seu perfil ser ativista humanitário.

Assim como outros partidários de Mousavi, Madyar tem publicado dezenas de fotos e vídeos do cenário de guerra civil da capital iraniana. "Pedimos aos americanos que digam para Obama não confirmar o governo de Ahmadinejad e apoiar o povo do Irã", disse Madyar em outra mensagem. Embora o serviço esteja bloqueado, iranianos e pessoas de outros países têm divulgado números de proxys alternativos para a conexão funcionar. O truque serve como uma "máscara" para esconder a nacionalidade do internauta na rede.

Em outro perfil, intitulado "Mudança Para o Irã", um usuário identificado apenas como estudante iraniano possui mais de 13 mil seguidores (pessoas que acompanham as atualizações de sua página). "A polícia ameaça abrir fogo em quem tentar participar do protesto por Mousavi", escreveu. "Não estou mais certo se irei, estamos falando apenas em possibilidades."

Enquanto isso o Blog de Ahmadinejad foi retirado da web.

Foto: AP

Há manifestações, também gigantescas, a favor do presidente Ahmadinejad, o correspondente da BBC diz que não sabe dizer quais são as maiores

O governo iraniano advertiu a todos os jornalistas enviados pela imprensa internacional para cobrir as eleições que devem deixar de forma imediata o país uma vez expiradas as credenciais que lhes foram concedidas. Vários correspondentes receberam ligações, presumivelmente procedentes do Ministério de Orientação Islâmica, nas quais foram lembrados de que em nenhum caso vão ser estendidos os vistos.

O assédio à imprensa internacional, que sofre muitas dificuldades para informar sobre os atuais distúrbios no Irã, começou no sábado, com os primeiros protestos da oposição, liderada pelo candidato Mir Hussein Mousavi, após a vitória eleitoral do atual presidente, Mahmoud Ahmadinejad. Alguns correspondentes estrangeiros, considerados testemunhas incômodas, receberam no sábado um fax de advertência dizendo que podiam ser detidos a qualquer momento nas ruas e que seu credenciamento poderia ser retirado.

Foto: AP

Há um ódio reprimido da população contra Ahmadinejad

Fontes do Ministério de Orientação Islâmica negaram o envio deste fax e falaram da existência de muitos "rumores" no país. Em qualquer caso, há vários casos concretos de assédio à imprensa internacional. Pelo menos dois jornalistas estrangeiros foram detidos e outros receberam golpes por parte da polícia e dos "basij" enquanto cobriam as manifestações.

Várias redes de TV tiveram material expropriado durante horas e não é permitido a elas filmar em vários lugares do país. O escritório do canal por satélite árabe Al Arabiya foi fechado durante uma semana, e às agências de imprensa com serviço de televisão receberam um aviso para que não enviem imagens a meios de imprensa em língua persa, como a BBC e a Voz da América, proibidos no país.

Foto: Reuters

No sábado, em uma grande entrevista coletiva, Ahmadinejad acusou a imprensa internacional de imiscuir-se nos assuntos internos do Irã e de projetar uma imagem "errônea e negativa" do país.

Os jornalistas iranianos também estão sofrendo o assédio das autoridades. O jornal partidário de Mousavi foi fechado e não pôde ser vendido no domingo, enquanto vários jornalistas locais viram como seu credenciamento não foi renovado para colaborar com estrangeiros.

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