13 de jun. de 2009

Fraude escandalosa reelege Ahmadinejad no Irã

Fraude escandalosa reelege Ahmadinejad no Irã
No rastro do resultado da eleição na “democracia iraniana” Mirhossein Mousavi, o candidato da oposição encontra-se preso, por ter denunciado fraude eleitoral e milhares de manifestantes entraram em confronto com a polícia pedindo anulação do pleito

Foto: Ahmed Jadallah/Reuters

Fontes: BBC Brasil, O Globo, Jornal do Brasil, Reuters, The Washington Post, Reuters

Reeleito com folgada vantagem, com 62,6 por cento dos votos, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, 52 anos, no poder desde 2005, onde chegou prometendo reviver os valores da Revolução Islâmica de 1979, expandiu o programa nuclear do Irã, “para fins ditos pacíficos”, provocou a reação da comunidade internacional ao negar o Holocausto e pedir o fim de Israel.

O seu adversário, o moderado Mirhossein Mousavi, chamou, o resultado de uma "charada perigosa", que pode levar o país a uma tirania e falou “em violações óbvias”, no resultado suspeitíssimo, onde conseguiu apenas 33,75% dos votos, a metade do obtido por Ahmadinejad.

Foto: Ben Curtis-AP

NOVA FACE: Os eleitores de Mousavi tinham o mesmo perfil, de uma gente que queria mudar os rumos da política do país.

A inédita presença maciça de votantes, 85% dos 46 milhões de eleitores, principalmente jovens e mulheres, era o indicativo do fortalecimento de Mirhossein Mousavi, que tinha um discurso mais liberal e enfrentará o atual presidente nos debates de forma contundente e corajosa empolgando significativa parcela da população.

Foto: Jadallah/Reuters

MULHERES DETERMINADAS: No Irã não existem seções eleitorais mistas, na foto um empurra-empurra num local de votação feminino

Analistas iranianos e ocidentais receberam o resultado com descrédito e até frustração, esperava-se no mínimo um segundo turno. A vitória de Ahmadinejad com essa proporção, o deixa mais poderoso e torna mais complicado os esforços do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de se aproximar de Teerã.

Foto: Damir Sagolj-Reuters

VOTO DE CABESTRO: Alguns poucos analistas menos apaixonados afirmam que Ahmadinejad pode ter vencido de fato o pleito apoiado por uma maioria silenciosa, os seguidores fieis do líder religioso e principalmente das classes menos favorecidas, mas não na proporção divulgada

A campanha eleitoral dura, com debates acirrados entre governo e oposição, transmitidos pela televisão estatal iraniana, gerou grande interesse no mundo e revelou divisões profundas entre os líderes que apóiam Ahmadinejad e os que são a favor de mudanças sociais e políticas.

O atual presidente acusou os seus rivais de minar a República Islâmica ao defenderem a aproximação com o Ocidente enquanto o oposicionistas Mousavi, declarou que a política externa "extremista" de Ahmadinejad tem humilhado os iranianos.

Foto: Atta Kenare-AFP/Getty Images

MOMENTO DEMOCRATICO: Os partidários do candidato oposicionista criaram uma animada onda verde durante a campanha

Na noite de sexta, antes do anúncio do resultado oficial, Mousavi se declarava o real vencedor, embora já denunciasse que muitas pessoas não haviam podido votar e que faltaram cédulas nas sessões onde ele era mais votado.

Trita Parsi, presidente do Conselho Nacional do Irã nos Estados Unidos, colocou em questão a grande diferença em favor de Ahmadinejad.

"É difícil conceber que isso ocorreu sem trapaças", disse Parsi.

Ali Ansari, que lidera o Instituto de Estudos Iranianos na Universidade de St. Andrews, na Escócia, disse: "Os iranianos vão acordar hoje em choque, não por causa da vitória do presidente, mas por conta das proporções dessa vitória."

Foto: Behrouz Mehri-AFP/Getty Images

PRESO INCOMUNICÁVEL: As primeiras declarações de Mirhossein Mousavi, o candidato derrotado, foram de indiganação:

”Eu pessoalmente me oponho vigorosamente às muitas violações óbvias, e estou alertando que não vou me entregar a essa charada perigosa. O resultado da ação de algumas autoridades vai colocar sob risco os pilares da República Islâmica e vai estabelecer uma tirania", disse Mousavi e concluiu - " Sugiro que as autoridades parem com esta tendência antes que seja tarde demais e voltem à terra das leis e preservem os direitos das pessoas."

Em resposta, o governo suspendeu uma entrevista coletiva com correspondentes estrangeiros, com o líder oposicionista, e em seguida Mirhossein Mousavi foi preso quando se encaminhava a casa do líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, possivelmente para pedir sua intervenção.

Querendo por um ponto final na questão, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, pediu a oposição que aceitasse sem restrições o resultado do pleito, parabenizou publicamente Ahmedinejad pela vitória e pediu a seus opositores que evitem "provocações".

E alertou o país afirmando que "Inimigos podem querer estragar a doçura deste evento com algum tipo de provocação mal-intencionada", disse.

Foto: Reuters

ENFRENTAMENTO: Uma chama de revolta popular lançou os eleitores da oposição ao confronto com a polícia, pedindo novas eleições

Enquanto o jornal israelense "Haaretz" informava que o candidato da oposição fora preso constatou-se que o bloqueio o site de relacionamento Facebook, que seria utilizado por Moussavi para reportar fraudes nas eleições, foi fechado um jornal oposicionista e na internet o site da BBC saiu do ar. Os telefones celulares não funcionam em grande parte do tempo, desde a sexta-feira.

O Comitê para Proteger o Voto do Povo, criado pelos três candidatos de oposição, disse que não aceitará os resultados, alegando fraude. O grupo pediu ao Conselho dos Guardiães do Irã - um poderoso órgão controlado por clérigos conservadores - que anule os resultados e convoque novas eleições.

Foto: Getty Images

INDIGNAÇÃO POPULAR: Após o anúncio da vitória de Ahmadinejad, milhares de eleitores de Moussavi se reuniram no centro de Teerã para pedir a anulação das eleições.

O clima na capital ficou tenso. Apesar de a polícia ter proibido manifestações, uma multidão de três mil pessoas, a maioria jovens vestidos com a cor verde, da oposição, enfrentou a polícia nas ruas de Teerã, neste sábado, perto do ministério do Interior, gritando palavras de ordem como "liberdade" e acusando o presidente de "ladrão".

Foto: Getty Images

PERIGO DE MORTE: Um manifestante tenta reanimar com massagem cardíaca, um companheiro de protesto

Segundo testemunhas, esta é a pior onda de violência na capital iraniana em mais de uma década. Manifestantes jogaram pedras contra a polícia e incendiaram carros e motocicletas.

O correspondente da BBC em Teerã, John Simpson, afirma ter visto forças de segurança chutando e batendo nos manifestantes e quatro motocicletas serem incendiadas nos arredores do Ministério do Interior.

Foto: AP

O governo americano não declarou reconhecer que o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, foi reeleito . A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, disse esperar que o resultado do pleito reflita a opinião dos iranianos. A Casa Branca afirmou estar monitorando a eleição de perto, inclusive os relatos de "irregularidades".

O vice-ministro das Relações Exteriores de Israel afirmou que a comunidade internacional precisa impedir as aspirações nucleares do Irã.

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, respaldou Ahmadinejad. Segundo Chávez, a vitória de Ahmadinejad foi "muito grande e importante" e disse ter no presidente reeleito Mahmud Ahmadinejad um dos melhores aliados neste mundo. O

analista de política iraniana da BBC, Sadeq Saba, disse que o resultado da eleição significa que a esperança de uma reforma pacífica no país deverá ser enterrada por um longo período.

Foto:Reuters

SEM PAIXÃO - Partidários do presidente reeleito, tardiamente, tomaram as ruas para comemorar sua vitória, agitando bandeiras e fazendo buzinaço, possivelmente orientados por lideres do governo, para mostarar que Ahmadinejad tinha pelo menos alguns eleitores.



*Veja texto de Caio Blinder "Liberdade dentro da jula iraniana" no “thepassiranews”


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