28 de mai. de 2009

Larry Rohter, o jornalista que Lula quase expulsou

Larry Rohter, o jornalista que Lula quase expulsou

Querendo expular Rohter do Brasil pois o havia chamado de alcoolatra, disseram a Lula que não era possível pois a Contituição não permitia a expulsão de um estrangeiros que tivesse filhos brasileiros. Revelando o seu caráter fascista lula esmurrou a mesa e gritou:

”- Foda-se a Constituição...”


O Estadão perguntou ao correspondente americano o que ele gostaria de perguntar a Lula.

Rohter disse que perguntaria sobre o mensalão: "Presidente, o que o senhor sabia e quando soube?"

O correspondente do Larry Rohter tirou uma licença do The New York Times em agosto de 2007 e só então falou dos dias em que quase foi expulso do Brasil, pelo presidente Lula, numa estrevsita no Estadão que pouco repercutiu. Voltamos a transcrevemos alguns trechos, como já o fizemos no passado, recordar esses momentos históricos no põe mais alerta com a atualidade, se quiser pode ler a entrevistas completa no Estadão.

William Lawrence Rohter, 57 anos, é casado com um brasileira e pai de dois filhos, brasileiros, nasceu em Chicago. É filho de mãe imigrante da Escócia e pai descendente de russos. Na juventude, trabalhou como carteiro e operário de uma fábrica de lâmpadas.

"Operava na linha de produção com imigrantes latinos e caribenhos. Ali aprendi o espanhol", relembra. Já o português foi no Brasil, deliciando-se com a fala sonora dos nordestinos, "algo adorável". Entre os cinco idiomas que domina está o mandarim.

Explica-se: além de estudar história da China, na Columbia University, teve uma passagem como correspondente em Pequim, entre a primeira e a segunda estadas no Brasil. Quando finalizar o livro de revelações e mais um outro, seu romance de estréia, a licença que tirou do NYT deve expirar e o "polêmico Larry", como foi chamado, voltará à reportagem. Provavelmente na China, avisa a quem estiver interessado.

Larry foi o primeiro jornalista que registrou a existência do lider sindical Lula, no exterior, nas páginas do jornal americano Washington Post, em 1978. Foi preso no Chile de Pinochet, acusado de ser espião argentino. Foi expulso de Cuba de Fidel:

"Bateram à porta: "Seu visto acaba de expirar. O senhor volta no próximo vôo?"

Diz que a paixão pelo beisebol facilitou sua relação com Hugo Chávez. “Ele adora o esporte. Sabe tudo.”

Também tive momentos prazerosos no Brasil. Como ouvir um nordestino falando. Adoro o sotaque! O português é o sotaque que mais aprecio dentre as várias línguas que falo (inglês, espanhol, português, mandarim e russo). Mas o nordestino é campeão na criação de frases e expressões. Isso explica a coleção que tenho de cordel. Tenho mais de 2 mil livrinhos, colecionados em 35 anos de viagens.

Na verdade, descobri o cordel no Rio, na Feira de São Cristóvão. Fui me aproximando desses artistas nordestinos, especialmente dos pernambucanos. J.Borges, cordelista e famoso pelas xilografias, virou amigo.

Dila, poeta popular de Caruaru, é um gênio, sobretudo em temas relacionados a Lampião e Maria Bonita. Dila até me retratou na capa de um cordel. Gosto da música brasileira de A a Z literalmente, de Arnaldo Antunes a Nação Zumbi.

Gilberto Gil é sensacional. Como instrumentista, poeta, ministro. Tem aquele traço que reconheço nos brasileiros: generosidade de espírito. E pensar que ele, ao sair da prisão, no DOI-Codi da rua Barão de Mesquita, embarcou num avião e compôs Aquele Abraço... Isso demonstra a pessoa extraordinária que é.

Dizem que o português falado por Larry Rohter é muito superior a de muitos políticos brasileiros.

Como se sente ao terminar seu período como correspondente no Brasil?

A decisão de fechar o ciclo foi mais minha do que do jornal. Por razões pessoais pedi para sair. Hoje eu me sinto assim: durante oito anos e meio fiquei (faz o gesto de quem fecha um zíper) com o bico calado neste País. Porque o New York Times tem uma norma que todos os correspondentes devem acatar: não fazer nenhum comentário pessoal sobre assuntos internos do país onde atuam. Então, fiquei quieto. Só que setores inescrupulosos da imprensa brasileira se aproveitaram do meu silêncio e passaram a me atacar.

Isso começou quando?

No início desse período de oito anos não tive problemas, até porque não havia curiosidade sobre a minha pessoa. Dificuldades começaram a partir da reportagem que fiz sobre hábitos do presidente Lula, hábitos comentados no País. Como eu não podia me defender das reações à matéria, certos jornalistas daqui me trataram como se eu fosse a Geni da música do Chico Buarque: vamos jogar pedra porque ele não pode reagir.

Acha mesmo que o presidente queria ir às últimas conseqüências?

O que eu acho é que, desde o início do caso, o presidente foi mal assessorado. Difícil saber o que de fato aconteceu no Palácio do Planalto naqueles dias, mas tudo indica que as coisas ficaram muito ruins pro meu lado. Só mudaram de curso quando o então senador Sérgio Cabral entrou com um habeas-corpus a meu favor. Ali, e só ali, senti que, num eventual julgamento da questão, o Supremo, inteiro ou em boa parte, ficaria contra o governo. O ministro Márcio Thomaz Bastos (da Justiça) não tinha outra opção a não ser costurar um acordo.

Além da reação do Planalto, sua matéria causou uma longa e estridente questão na imprensa brasileira. Jornalistas sustentam que você afirmou coisas graves sobre o presidente, sem apresentar provas.

Mas provar o quê? Eu não sou tira nem médico para provar... Havia um tremendo zunzunzum no meio político. Brizola teve a coragem de afirmar publicamente o que se comentava. E, claro, Brizola não foi minha única fonte. Escrevi refletindo o ambiente: o presidente brasileiro tinha um hábito que o estaria prejudicando no exercício do poder. Isso eu não inventei! Mas setores da imprensa, liderados pelo jornal O Globo, ou melhor, pelas Organizações Globo, resolveram me atacar. Acho que há uma obsessão com o que sai no NYT. Matérias que fiz foram mal interpretadas, mal traduzidas, publicaram-se coisas que nunca disse, fico indignado. Por exemplo, escrever que eu disse que a Garota de Ipanema hoje é gorda? Que absurdo! Que absurdo! Era um janeiro em que nada acontecia no Rio, então o jornal criou uma polêmica xenofóbica, baseada em mentiras.

Charge de Laílson – Diário de Pernambuco (PE)

Zunzunzum vale como notícia?

Naquela situação, sim. Comecei a apuração e procurei o Planalto. Queria falar com o presidente. Não fui recebido, mal consegui tratar com a assessoria dele. O secretário de imprensa, Ricardo Kotscho, não me recebeu. Falei com o número 2, Fábio Kerche. Apresentei minhas questões. Aguardei uma manifestação por dez dias e nada. Até que aconteceu um fato, que vou revelar no livro, e voltei a fazer contato com o assessor. Disse-lhe: "A coisa vai sair. Se vocês quiserem se manifestar é agora". Ainda coloquei uma declaração transmitida pelo assessor na minha matéria. Mas jamais me receberam, jamais quiseram saber o que eu sabia.

Como era a sua relação com o governo antes da matéria?

A relação com o PT sempre foi difícil para qualquer correspondente estrangeiro. Com o PFL, o PSDB, o PMDB não há a mesma veemência ao reagir às reportagens que saem no exterior. Mas, quando se trata do PT, a chiadeira é quase infantil. Fiz uma matéria sobre a relevância política do divórcio de Marta e Eduardo Suplicy, figuras de destaque na política nacional. Cumpri uma pauta que esteve presente em todos os veículos de comunicação do País. Quando saiu a reportagem, o Genoino, então presidente do partido, escreveu uma carta de quatro páginas, reclamando que o tema não era legítimo, que era sensacionalismo. Em outra oportunidade, lá veio carta do Bernardo Kucinski alegando que o PT não tem facções, nem grupo xiita. Ora, o Brasil sabe que o PT tem. Havia dificuldades de comunicação com os ministérios, salvo algumas exceções. Como o José Viegas. Quando ele esteve na Defesa, soube lidar muito bem com os correspondentes.

Charge de Laílson – Diário de Pernambuco (PE)

Você sofreu algum tipo de repreensão da parte do New York Times?

Eu, nunca. Houve cartas ao jornal e o então embaixador brasileiro em Washington, Roberto Abdenur, por quem tenho grande respeito, cumpriu o papel que lhe cabia. Falou com a direção do NYT, mas o jornal ficou firme. Isso não ficou claro na imprensa brasileira. Houve muita distorção. Falou-se que eu teria me refugiado no escritório do meu jornal em Buenos Aires. Ao contrário, eu estava lá e voltei quando vi a confusão armada! Vi toda a crise aqui no Rio, assistindo do meu apartamento à cobertura e consultando ao mesmo tempo meus advogados. Não saí do País, o ombudsman do NYT não se manifestou, não houve pedido de desculpa do jornal, não houve carta ao governo, nada. Apenas um recurso para revogar a ordem de expulsão, medida legal, preparada por advogados brasileiros.

O zunzunzum que você refletiu na matéria era exagerado? Ou melhor: hoje vê alguém argumentando que Lula tem problemas em governar porque beberia?

Não, não. Hoje ele enfrenta dificuldades de outra ordem. Até o Luiz Furlan, quando ainda era ministro, falou que o problema não existe mais. Comentou isso logo no início da segunda campanha. Disse que o presidente havia perdido peso, que estava com a maior disposição, que deixou de beber.

Charge de Laílson – Diário de Pernambuco (PE)

Sua matéria, por caminhos tortuosos, teria contribuído para isso?

Prefiro deixar a resposta para o livro. Mas tenho amigos no PT que têm feito comentários nesse sentido.

Quantas vezes você esteve com Lula, dentro ou fora da presidência?

Ele diz que nunca tomou um guaraná comigo. Não é bem assim. Como correspondente da revista Newsweek, passei quase uma semana acompanhando Lula em 1978, na greve do ABC. Eu o segui em andanças pela América Latina e possivelmente assinei a primeira matéria sobre ele na imprensa americana. E era favorável ao líder metalúrgico que despontava.

O fato de ser casado com brasileira e ter filhos brasileiros ajudou a pacificar as coisas?

Sim. Tive uma família para me apoiar, parentes de minha mulher foram importantes naquele momento. A execração pública dói. Não é fácil ver seu nome citado na TV, nos jornais. Minha mulher foi fazer compras e quando apresentou o cartão de crédito a pessoa do caixa disse: "Ah, então você é mulher dele". Isso aconteceu. Para ela foi mais difícil, para mim era parte do jogo. Como dizia Harry Truman, se você não agüenta o calor, melhor sair da cozinha.

Hoje, se você estivesse com Lula numa entrevista, perguntaria o quê?

Na comissão que investigou o escândalo Watergate, o senador Howard Baker repetia sempre a mesma pergunta em relação a Nixon: "What did the president know and when did he know it?" É a questão fundamental. Pois eu perguntaria a Lula a mesma coisa em relação ao mensalão: "Presidente, o que o senhor sabia e quando soube?"


Recentemente ele lançou um livro: “Deu no The New York Times" , que conta entre outras coisa o inusitado episódio.

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