Depois de vencerem, na tarde deste sábado, o revezamento 4x400 metros no Mundial de Atletismo em Moscou, as russas Kseniya Ryzhova e Tatyana Firova comemoraram a vitória com um breve "selinho" sobre o pódio.
O gesto podia ser mais uma tradição russa de beijar na boca, comum até entre homens, mas no caso foi interpretado como uma mensagem de desacordo contra a compatriota e estrela do atletismo Yelena Isinbayeva, que conquistou medalha de ouro no salto com vara, que em entrevisa coletiva defendeu a lei antigay, que tem recebido críticas e ameaça a realização dos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi-2014, na Rússia.
A lei antigay russa, aprovada em junho pelo presidente Vladimir Putin, não permite que menores de 18 anos obtenham informações relativas à homossexualidade. Além disso, proíbe a adoção de crianças por casais do mesmo sexo, além de coibir qualquer tipo de manifestação a favor da união homoafetiva. Parada gay então, nem pensar.
Foto: Reuters
Yelena Isinbayeva conquistou o ouro e defendeu a legislação russa antigay
Em entrevista, Isinbayeva chegou a dizer que os russos se consideram “pessoas normais”, que vivem “com homens ao lado de mulheres e mulheres ao lado de homens”. “Tudo deve ser assim, é histórico. Nós nunca tivemos problemas assim na Rússia, e não queremos ter no futuro”, afirmou a atleta.
No dia seguinte, após saraivada de criticas, de outros atletas, da imprensa ocidental e até da mídia russa, Isinbayeva, voltou atrás, alegou a dificuldade de se expressar em inglês, como fazia na entrevistas, dizendo que tudo não passou de um mal entendido. Não teria preconceito contra os gays e referia-se apenas a atletas de outros países que vieram para a competição com as unhas pintadas com as cores da "bandeira do arco-íris", um símbolo da comunidade LGBT. De acordo com Isinbayeva, este comportamento é um desrespeito ao país anfitrião da competição. “Nós temos nossas leis e todos têm que respeitar. Quando vamos a outros países nós tentamos seguir suas regras", declarou.
Foto: Erik Mårtensson / Scanpix/espn/ESPN
A saltador sueca Emma Green-Tregaro, que pintara as unhas com a cor do arco-iris em apoio a comunidade LGBT russa, exibe as unhas vermelhas após ter sido “convencida" a não se intrometer com as leis locais
Referia-se a saltadora sueca Emma Green-Tregaro, que participa do Mundial de Moscou, publicou uma foto em seu Instagram em que mostra suas unhas pintadas com as cores do arco-íris, um dos símbolos da luta gay. Depois da polêmica, porém, a atleta foi proibida de repetir o gesto durante a competição neste sábado.
“Fomos abordados informalmente pela Iaaf (Associação Internacional de Federações de Atletismo, em inglês) dizendo que isso é, por definição, uma violação das regras. Informamos nossos atletas sobre isso", disse Anders Albertsson, secretário-geral da federação de atletismo sueca, à agência Reuters.
A nova lei permiti condenar quem divulgar informação com acesso a menores sobre "orientações sexuais não tradicionais", ou que "propague como atraentes as relações sexuais não tradicionais". Também poderão ser punidos os que se dedicarem a divulgar "a ideia tergiversada de que as orientações sexuais tradicionais e não tradicionais têm igual valor social" e os que "impuserem informação sobre as relações sexuais não tradicionais que provoque o interesse por essas relações".
Isinbayeva que também é embaixadora das Olimpíadas de Inverno de 2014, disse esperar que a lei não cause um boicote à competição.
"Claro que não suporto o boicote. Também sou contra essa polêmica e fico triste que atletas sejam envolvidos nela. Não estamos proibindo que alguém participe da competição mesmo que tenha relações fora das tradicionais", finalizou a russa.
Na quarta-feira, americano Nick Symmonds, corredor de 800 metros, tinha gerou polêmica por dedicar sua medalha de prata para os seus amigos gays. "Se você é gay, hetero, branco ou negro: todos merecem os mesmos direitos", disse ele à agência de notícias russa R-Sport Symmonds.
A homossexualidade não é proibida na Rússia, mas enfrenta um forte tabu. Putin é chamado de Czar da homofobia, por apoiar as causas antigays.
Recentemente, o vice-diretor da televisão estatal, Dimitri Kisselyov, disse ao jornal "Izvestia" o coração de homossexuais mortos não deve ser utilizado para os transplantes.
Foto: Cris Toala Olivares/Reuters
Mnifestante carregam cartaz com imagem do Presidente Putin maquiado
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