Depois de anos contornando escândalos sexuais, acusações de corrupção e contratempos políticos, o ex-premiê italiano Silvio Berlusconi terá de conviver para o resto de sua vida com uma condenação da qual não conseguiu escapar. Sem ter mais como recorrer nos tribunais, Berlusconi foi condenado em última instância por fraude fiscal. Provavelmente, por causa de sua idade avançada (ele tem 76 anos), a pena será cumprida em prisão domiciliar ou convertida em serviços comunitários.
A decisão surpreendeu aquele que os italianos consideravam até então intocável. Há muito tempo, a Itália acostumou-se a assistir o desenrolar de uma interminável novela envolvendo Berlusconi nos tribunais. Foram mais de duas dezenas de julgamentos em cerca de 20 anos. Em nenhum deles, a imagem do ex-premiê foi tão afetada como dessa vez.
O episódio deverá ser lembrado como um dos mais sombrios de sua carreira nos palanques. Mas ainda poderia ser pior: os juízes deram sobrevida política a Berlusconi ao não descartarem a sentença que o tiraria da vida pública. Tal decisão será reexaminada por um tribunal de menor instância.
O ex-premiê também enfrenta outra condenação, de sete anos de prisão, por manter relações sexuais com uma prostituta menor de idade e abuso de poder, mas ainda pode recorrer de ambas.
Apesar de todos os problemas, muitos de seus correligionários ainda o veem como uma vítima de uma conspiração de esquerda. Berlusconi pode ter sido diminuído e humilhado, mas não está fora do jogo político. Ele ainda tem uma posição de influência atrás dos bastidores do governo italiano como líder do segundo partido que forma a atual coalizão que governa o país.
Foto: Alessandro Bianchi/Reuters
Manifestantes exigiam a prisão do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi em frente à Alta Corte de Itália, em Roma, foram atendidos
EMPREENDEDOR
O ex-primeiro-ministro permanece como um dos homens mais ricos da Itália. Ele e sua família amealharam uma fortuna estimada em US$ 9 bilhões (R$ 21 bilhões), segundo a revista americana Forbes.
Nascido no dia 29 de setembro de 1936, Berlusconi começou sua carreira vendendo aspiradores de pó. Mas foi como crooner em clubes noturnos e em transatlânticos que ele se tornou conhecido. Em 1961, formou-se em Direito e logo depois fundou a construtora Edilnord em sua cidade-natal, Milão.
Dez anos depois, ele lançou um canal de TV paga – a Telemilano – que cresceu e se tornou o maior conglomerado de mídia da Itália, a Mediaset, que controla as três maiores emissoras privadas do país. Hoje, a Mediaset fica sob o guarda-chuva da holding Fininvest, que também é dona da editora Mondadori, do jornal diário Il Giornale, do clube de futebol AC Milan e de dezenas de outras companhias.
Os escândalos sexuais sempre foram um prato cheio para os cartunistas
FORZA ITALIA
Em 1993, Berlusconi fundou o seu próprio partido político, o Forza Itália, batizado dessa forma em alusão ao grito de guerra dos torcedores do Milan. No ano seguinte, ele tornou-se primeiro-ministro pela primeira vez (foram três vezes, ao todo), formando uma coalizão com as legendas de direita Aliança Nacional e Liga do Norte.
Muitos esperavam que o seu tino para negócios poderia revitalizar a combalida economia do país. Os eleitores queriam um fim à corrupção e à instabilidade que grassaram a política italiana por décadas. Mas as rivalidades entre os três líderes de coalizão, juntamente com a acusação por um tribunal de Milão de que Berlusconi havia cometido fraude fiscal, acabaram com as esperanças dos italianos e levaram ao colapso do governo sete meses após ser eleito.
Em 1996, ele perdeu a eleição para o esquerdista Romano Prodi, mas voltou ao poder em 2001, em uma nova coalizão com os mesmos partidos que o apoiaram em 1994.
Tendo liderado o governo italiano de maior longevidade desde a Segunda Guerra Mundial, ele foi de novo derrotado por Prodi em 1996.
Ele retomou a liderança do governo em 2008 à frente de uma nova sigla, O Povo da Liberdade (PDL). O seu apoio, no entanto, mingou em 2011, à medida em que os custos dos empréstimos do país chegaram às alturas com a crise da dívida da zona do euro. Após perder a maioria no Parlamento, Berlusconi renunciou.
Inicialmente, seu partido apoiou o governo tecnocrático de Mario Monti, e seu projeto de reforma.Mas, em dezembro de 2012, o PDL retirou seu apoio, forçando a antecipação das eleições.
Em fevereiro deste ano, ele mostrou mais uma vez que não havia perdido sua força política ao ficar a apenas 1% de vencer uma eleição geral. A conquista franqueou-lhe uma participação na coalizão de governo.
Foto: Stringer Beijing/Reuters
A marroquina Karima El Mahroug, sexo com Berlusconi, quando era menor de idade
BATALHAS LEGAIS
Ao longo de sua vida, Berlusconi sempre esteve envolvido em batalhas com a Justiça. Com a mesma frequência, dizia ser uma vítima das autoridades legais de sua cidade natal, Milão.
O ex-premiê foi acusado de todo tipo de transgressão, inclusive a de ter oferecido propina a um juiz. Ele nega todas as acusações. Por inúmeras vezes, ele foi absolvido, teve condenações derrubadas ou prescritas.
Em outubro de 2012, entretanto, ele foi condenado em primeira instância a uma pena de quatro anos de prisão por fraude fiscal. Mantida a pena inicial, Berlusconi também estaria impossibilitado de se candidatar a cargos políticos. A sentença acabou reduzida para um ano de prisão, com anistia geral.
Já em março de 2013, o ex-premiê foi sentenciado a um ano de prisão, com direito a recorrer da decisão, por envolvimento em um vazamento de uma gravação policial para um jornal controlado por seu irmão.
Em 2009, Berlusconi calculou que, durante 20 anos, teve de comparecer 2,5 mil vezes a 106 tribunais, a um custo de cerca de 200 milhões de euros (R$ 610 milhões).
Durante o tempo em que governou a Itália, o então premiê aprovou reformas reduzindo as limitações impostas a cidadãos que fossem condenados por fraudes, mas parte de uma lei de 2010 que deu a ele e a seus ministros imunidade temporária foi revogada pela Suprema Corte do país.
Foto: Alessandro Bianchi/Reuters
Silvio Berlusconi e a esposa Veronica Lario. Ela pediu divórcio após sabaer do envolvimento de Berlusconi com uma menor napolitana, Noemi Letizia. Um acordo de divórcio milionário
MULHERES
Os contratempos políticos de Berlusconi sempre foram pontuados por relatos picantes sobre sua vida privada, noticiados com grande destaque na imprensa italiana.
As incorreções morais do ex-premiê, entretanto, cobraram seu preço mais tarde. Ele foi condenado por pagar por sexo com uma prostituta menor de idade. O caso veio à tona em outubro de 2010. Na ocasião, Berlusconi pediu que policiais liberassem Karima "Ruby" El Mahroug, de 17 anos. Ela havia sido detida por roubo e teria participado das festas na casa do ex-primeiro-ministro, conhecidas como "bunga bunga". Em junho de 2013, ele foi considerado culpado por ter pagado por sexo e abuso de poder. Por causa disso, foi condenado a sete anos de prisão, pena da qual recorrerá.
Em maio de 2009, sua então segunda mulher, Veronica Lario, afirmou que estava pedindo o divórcio depois de ver uma foto em que Berlusconi aparecia no aniversário de 18 anos de uma aspirante a modelo, Noemi Letizia. Como parte do acordo de divórcio, Berlusconi teria concordado em pagar 36 milhões de euros (R$ 110 milhões) por ano a Veronica, embora ele tenha dito que a quantia é maior do que o noticiado pela imprensa.
Berlusconi sempre afirmou não ser "santo" mas nega ter pagado para manter relações sexuais com uma mulher. Ele alega que nunca entendeu "onde está a satisfação quando você perde o prazer da conquista".
O ex-premiê também é famoso por dedicar-se à sua aparência. Ele já fez transplante de cabelo e cirurgia plástica.
Mas, em novembro de 2006, após sua derrota nas urnas, Berlusconi teve de ser internado às pressas. Na ocasião, ele recebeu um marcapasso e disse que precisava diminuir o ritmo.
Em dezembro de 2009, ele foi agredido em plena luz do dia em Milão – Berlusconi foi atingido por uma pequena réplica da catedral da cidade por um homem com distúrbios mentais. Com o rosto sangrando e dentes quebrados, ele chegou a descer do carro onde estava cercado de seguranças como um sinal de bravura.
É o mesmo tipo de postura que o ex-premiê italiano mantém hoje, apesar de todos os problemas.
Foto: Getty Images
A napolitana, Noemi Letizia, o motivo do divórcio
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por colaboração nas orgias do ex-premiê italiano
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