15 de ago. de 2013

Confronto no Cairo, entre manifestantes e forças de segurança, deixam mais de 300 mortos e 2 mil feridos

EGITO - Manifestações
Confronto no Cairo, entre manifestantes e forças de segurança, deixam mais de 500 mortos e 2 mil feridos
O Egito mergulhou novamente numa crise política caótica ornada por um brutal banho de sangue. Nesta quarta-feira,14, qando as forças de segurança apoiadas por tratores removiam acampamentos da oposição instalados por partidários do presidente deposto Mohammed Mursi, houve brutal e mortal confronto

NOTA DO EDITOR: algumas fotos que acompanham esta notícia, contém cenas de violência explícita, pessoas gravemente feridas e mortas. Não recomendamos aos leitores que acharem perturbadoras esse tipo de imagens, que prossigam na leitura do presente post.

Foto: Mosaab El-Shamy/Agence France-Presse — Getty Images

Um homem chora os mortos em meio aos corpos de um necrotério improvisad

Postado por Toinho de Passira
Fontes: Veja, Folha de S. Paulo, NBC News, Aljazeera, Reuters, Welt, The Guardian,
The New York Times

O Exército do Egito detonou nesta quarta-feira uma operação para pôr fim aos protestos de partidários do presidente islamita Mohamed Mursi, deposto no último dia 3 de julho. Na capital Cairo, dezenas de pessoas morreram. O Ministério da Saúde egípcio confirmou a morte de 278 pessoas em todo o país, sendo 43 delas policiais, e pelo menos 2.001 feridos. Manifestantes e imprensa, porém, mencionam números maiores. A agência France-Presse diz ter registrado 124 mortos somente na praça Rabaa al-Adawiya, onde o Ministério da Saúde aponta 61.

Já o porta-voz da Irmandade Muçulmana, Gehad el-Haddad, diz que são mais de 2.000 mortos e 8.000 feridos no total.

No fim da tarde a Aljazeera falava em 281 mortos e o The New York Times, noticiava que os mortos já somavam 300. Hoje pela manhã as agências de notícias já confirmavam 525 mortos, com o aviso que este número pode crescer, por risco de morte entre os feridos ou por atualizações de dados diante do caós instalado no governo diante da brutal violência.

Foto:Aly Hazzaa/El Shorouk, via Associated Press

Manifestantes empurraram um carro da polícia de uma ponte, no Cairo.

O foco principal do governo é o desmantelamento de dois acampamentos na capital, mas também houve confrontos --e mortes-- em outras cidades, como Alexandria.

O primeiro-ministro do governo interino egípcio, Hazem al-Beblawi, afirmou nesta quarta-feira (14) que as forças de segurança agiram com "toda moderação" durante a sangrenta desocupação de partidários do presidente deposto Mohammed Mursi.

Beblawi justificou a intervenção da polícia e do Exército dizendo que "nenhum Estado que se respeite teria conseguido tolerar" a ocupação das praças Rabaa al-Adawiya e Nahda por milhares de manifestantes pelo período de um mês e meio.

”As forças de segurança do Egito tiveram de acabar com os acampamentos montados por partidáriosdo presidente deposto Mohamed Mursi para “restaurar a segurança” no país, afirmou Hazem al-Beblawi. “Notamos que as coisas saíram um pouco do controle. O estado tinha a necessidade de intervir para restaurar a segurança”, disse o primeiro-ministro, que convidou grupos de direitos humanos a irem ao país para supervisionar as ações das forças de segurança.

Foto:Hussein Tallal/AP

Cartaz do presidente deposto do Egito, Mohammed Mursi, exposto numa tenda queimada num acampamento perto da Universidade de Cairo no distrito de Giza, após o confronto com as forças de segurança. (Em árabe o cartaz diz: "Não ao golpe!")

Pouco depois, o ministro do Interior, Mohamed Ibrahim fez um pronunciamento no qual afirmou que as duas áreas ocupadas por membros da Irmandade Muçulmana foram totalmente liberadas e acrescentou que “nenhuma outra ocupação em nenhuma praça de nenhum lugar do país será permitida”. Disse ainda que 43 policiais foram mortos e defendeu a ação das forças de segurança, dizendo que as forças de segurança foram surpreendidas pelo ataque dos partidários de Mursi.

“Houve uma tentativa dos partidários da irmandade de disseminar o caos pelo país. Alguns atacaram centros policiais”, afirmou, ressaltando que a ação para dispersar os manifestantes ocorreu de acordo com os níveis internacionais de “autocontenção”. “Nós agimos segundo o mandato nos dado pelo gabinete para dispersar acampamentos e de acordo com o plano para minimizar a possibilidade de vítimas. Demos ordens claras para que não fossem usadas armas durante o processo de dispersão”.

Foto: Ahmed Ramadan/AP

Corpos de manifestantes dispostos no chão de um hospital improvisado numa iya mesquita no bairro de Nasr City Cairo

A declaração do ministro vai contra os relatos de testemunhas, incluindo jornalistas, que disseram ter ouvido disparos. Segundo a TV estatal, o número de mortos já chega a 235, e são mais de 2 000 os feridos, segundo fontes da área de saúde. Com os 43 policiais mortos, segundo o ministro do Interior, o número de vítimas chega perto de 280, no dia de maior violência no país desde a revolução de 2011 que derrubou a ditadura de Hosni Mubarak.

A rede Al Jazira informou que 61 vítimas morreram durante a dispersão da praça de Rabaa al-Adawiya, a principal ocupação de partidários de Mursi no Cairo. Outras 21 pessoas morreram na praça Nahda. Também houve mortes na cidade de Alexandria.

Foto: Sabry Khaled/El Shorouk/ Associated Press
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Manifestantes arrastam corpo de membro das forças de segurança despojado de seu colete

Ibrahim disse que armas foram apreendidas e que manifestantes foram detidos e interrogados, mas negou a informação de fontes policiais sobre a prisão de lideranças da Irmandade Muçulmana. Depois dos confrontos, o vice-presidente interino Mohamed El-Baradei renunciou ao cargo. Em uma carta endereçada ao presidente Adly Mansour, El-Baradei afirmou que não conseguia “arcar com a responsabilidade pelo derramamento de sangue”. A crise levou o governo do Egito a decretar estado de emergência e um toque de recolher no país.

Manifestantes envolveram o corpo de um homem que havia sido baleado no peito.

A rede CBS News informou que entre os mortos está Asmaa Beltagy, 17 anos, filha de Mohammed Beltagy, um dos principais líderes da Irmandade Muçulmana - e pelo menos dois jornalistas estrangeiros.

No necrotério do hospital, um repórter da Reuters contou 29 corpos, incluindo o de um menino de 12 anos de idade. A maioria morreu de ferimentos de bala na cabeça.

Imagens de televisão egípcia mostraram médicos usando máscaras de gás e óculos de natação enquanto tentavam tratar os feridos..

Foto: Mohammed Abdel Moneim/Agence France-Presse — Getty Images
I
Um mulher detém uma escavadeira evitando que causasse danos a um jovem ferido

ESTADOS UNIDOS

O secretário de estado americano John Kerry classificou a ação da polícia egípcia de “deplorável” e alertou que o massacre atenta contra as aspirações democráticas do país. “Exigimos que o governo respeite os direitos de livre expressão e resolva esta situação de forma pacífica. Não haverá solução após uma polarização. Este é um momento crucial para o Egito. O caminho através da violência só levará a uma grande instabilidade. O mundo está olhando para o Egito e está muito preocupado”.

No dia 3 de julho, o Exército anunciou que Mohamed Mursi, eleito um ano antes, não era mais presidente do Egito. O golpe veio depois de dias de protestos contra o governo do membro da Irmandade Muçulmana, que não conseguiu resolver os problemas na economia e ainda tentou usar a democracia para acabar com a democracia.

Depois da deposição, Mursi foi preso - e assim permanece, em local desconhecido. Membros da irmandade também foram detidos. Seus apoiadores, no entanto, não reconheceram o governo interino e passaram a exigir a volta de Mursi ao poder.

Foto: AFP/Getty-Image


Foto: Ahmed Gomaa/AP


Foto: Mahmoud Khaled/AFP/Getty Images


Foto: Manu Brabo/Associated Press


Foto: Mohammed Asad/Associated Press

Cenas de feridos sendo amparados por companheiros manifestantes

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