2 de mar. de 2009

Lobão: o porta voz de si mesmo

LOBÃO: O PORTA VOZ DE SI MESMO
Não raro, com deslavada cara de pau, o Ministro das Minas e Energia tem que desautorizar a noite, o que o Lobão da manhã ou da tarde andou fazendo

Foto: Elza Fiúza/ABr

Edson Lobão: feio é deixar de ser Ministro

Fonte: Fontes: Estadão

O editorial do Estado de São Paulo estranha que após a frustrada tentativa de se apossar da Fundação Real Grandeza, o fundo de pensão dos funcionários de furnas, o ministro Lobão ainda permaneça no cargo.

Diz o jornal: “Fossem outros os tempos e os homens, o senador Edison Lobão (PMDB) teria se demitido do cargo de ministro de Minas e Energia no instante mesmo em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desautorizou expressamente a manobra...”

Antes de ir ao Palácio do Planalto, já convocado pelo presidente para dar explicações do “imbróglio”, o ministro Lobão, em entrevista, afirmou que os diretores do fundo haviam alterado os estatutos para ampliar seus mandatos por um ano e concluiu com acusações para lá de pesadas: "Isso é uma bandidagem completa! (...) Esse pessoal está revoltado porque não quer perder a boca. O que eles querem é fazer uma grande safadeza."

Após a reunião com o presidente Lula, desautorizado, mas ainda ministro, Edison Lobão explicou aos jornalistas que a decisão de adiar a mudança da diretoria do fundo foi tomada para que pudessem ser examinadas com tranquilidade as "alegações" dos funcionários e da diretoria de Furnas.

Estava recuando contrariado de não ter podido, com sua alcatéia, chegar ao patrimônio da Fundação Real Grandeza, o fundo de pensão dos funcionários de Furnas, que administra um patrimônio de R$ 6,3 bilhões.

Fotomonagem sobre foto de Elza Fiúza/ABr

Edson Lobão: discordando até dele mesmo para continuar Ministro

Não é a primeira vez que Lobão “volta para trás”, nem será a última, lembram quando no inicio de janeira ele disse à tarde Brasil vai desligar termelétricas e importar menos gás da Bolívia e a noite se desmentiu: Lobão anuncia aumento da importação de gás boliviano.

Essas são duas manchetes da Agência Brasil, entre uma e outra, quatro horas de diferença. Daquela vez foi obrigado a um recuo de 180°, além de não reduzir as exportações ia ter que aumentá-las.

Fossem outros tempos outros homens, estaríamos com outro ministro desde janeiro.

Ou talvez Lobão não tivesse nem tomado posse, pois não possuía qualificação para o cargo, e um homem de outros tempos não assumiria uma responsabilidade dessas se não se sentisse preparado para exercê-la com eficiência.

Lobão teve outra chance de renunciar, quando seu filho suplente foi tomar posse, no carga vago por ele, como senador e descobriram que “o garoto”, Lobão Filho, havia, entre outras coisas transferido ações de uma empresa de bebidas para o nome de uma empregada doméstica, através de documentos falsos, usada-a como laranja, sem que ela ao menos soubesse, para tentar se livrar de uma dívida de 12 milhões entre impostos e empréstimos.

Lobão certamente é outro tipo de homem, vivendo noutro tipo de tempo. Aconteça o que acontecer, jamais pedirá demissão do cargo. Só a morte ou uma determinação de Sarney o faria mudar de opinião.

Mesmo que o preço seja esse: de exercer a desgastante função de “porta-voz de si mesmo”, “desautorizando-se” à noite, com deslavada naturalidade, as decisões que o Lobão da manhã ou o Lobão da tarde havia tomado.

Nem o presidente Lula o destitui, nem Lobão jamais renunciará. Lula interessado no apoio do PMDB de Sarney está disposto a pagar o preço. Lobão em continuar Ministro e tentar tirar disso tanta vantagem quanto for possível embora tenha que passar por vexames as vezes. São certamente os homens certos para viverem e conviverem nesses obscuros novos tempos.

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