17 de mar. de 2009

Sem Clodovil “Brasília nunca mais será a mesma..."

Sem Clodovil “Brasília nunca mais será a mesma...”
Faleceu o mais polêmico apresentador da Televisão, o consagrado estilista de alta costura, o político de língua afiada, o homossexual mais famoso do país

Foto: Arquivo

”- Se o Collor tinha aquilo roxo, o meu é cor-de-rosa choque.”

Fontes: G1, G1, G1G1

Quando o estilista e apresentador de TV Clodovil Hernandes resolveu lançar sua candidatura a deputado federal em 2006, prometeu que se eleito "Brasília nunca mais seria a mesma". Pode não ter cumprido a promessa, mas em pouco mais de dois anos não foram poucas as polêmicas em que o parlamentar se meteu nem poucas ás vezes em que usou sua língua afiada na capital federal.

Terceiro candidato mais votado de São Paulo com quase meio milhão de votos, Clodovil chegou a Brasília dizendo que ia sofrer para se adaptar à cidade, principalmente pelo preconceito que disse haver contra homossexuais.

Para conquistar os votos, usou de bastante ironia. Na campanha, dizia: "Vocês acham que eu sou passivo? Pisa no meu calo para você ver..."


Nunca ouve um deputado tão elegante, ocupando a tribuna da Câmara.
Após a eleição, mais polêmicas e as frases de efeito. Perguntado se aceitaria dinheiro para votar a favor do governo, admitiu que sim, mas que seria preciso uns R$ 30 milhões e não R$ 30 mil, quantia que teria sida usada no escândalo do mensalão. Criticado pela declaração, Clodovil disse que a imprensa deturpou suas frases, mas afirmou que "todo mundo tem seu preço".

Ao entrar no Congresso pela primeira vez, revelou ter ficado na dúvida sobre o melhor acessório a ser usado na ocasião.

- Vim aprender o caminho da escola. Não sabia se podia trazer uma bolsa, uma mala, uma pasta, um Louis Vuitton ou um Vitor Hugo - afirmou ele na ocasião, quando disse também que seu mandato seria marcado por uma política de afeto e de amor.

Mas a política de afeto durou apenas até 2007, quando Clodovil comprou briga com a bancada feminina na Câmara ao dizer que as mulheres hoje tinham ficado muito ordinárias, "trabalhavam deitadas e descansavam em pé".

Dias depois, desentendeu-se com Cida Diogo (PT-RJ), que colhia assinaturas para representar contra ele no Conselho de Ética, por quebra de decoro parlamentar. Chorando muito, a deputada subiu à mesa diretora e informou ao deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE), que presidia a sessão, que Clodovil havia se dirigido a ela com palavras de baixo calão no plenário.


No dia da posse, em 1º de fevereiro de 2007, compareceu de terno branco de algodão, um brasão da República bordado no bolso, uma bengala de madeira com entalhes e chapéu Panamá.
Segundo Cida, Clodovil teria dito que ela "era tão feia que não poderia ser nem p...". O deputado primeiro negou a acusação, depois revelou o que dissera à deputada.

- Digamos que uma moça bonita se ofendesse porque ela pode se prostituir. Não é o seu caso. A senhora é uma mulher feia. Eu tenho culpa de ela nascer feia?

Em outubro de 2006, logo depois de eleito, Clodovil se envolveu em uma polêmica com os judeus e os negros. Em entrevista à Rádio Tupi, ele declarou que os judeus teriam manipulado o Holocausto e forjado o atentado de 11 de setembro contra o World Trade Center. Na mesma entrevista, referiu-se a um negro como "crioulo cheio de complexo".

O presidente da Federação Israelita do Rio, Osias Wurman declarou-se na época indignado com as declarações, sobretudo por virem de uma pessoa advinda de uma minoria que também sofre preconceito. Wurman entrou com uma interpelação judicial contra Clodovil, acusando-o de racista, além de enviar cópias do áudio da entrevista à Secretaria Estadual de Direitos Humanos, a deputados estaduais e a organizações não-governamentais ligadas ao movimento negro.

Um ano depois da eleição pelo PTC, Clodovil decidiu se filiar ao PR, envolvendo-se em mais uma polêmica, já que a antiga legenda alegou que ele teria ferido as regras da fidelidade partidária e passou a tentar reaver o mandato.

Clodovil se defendeu dizendo que fora abandonado pelos dirigentes do antigo partido nas eleições, quando não recebeu material de campanha, e depois já no mandato, quando, segundo ele, não lhe deram assistência jurídica.

Julgado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o deputado foi absolvido por unanimidade. Ao fim do julgamento, disse que o processo serviu para o seu crescimento pessoal.

Foto: G1

Clodovil reformou com recursos próprios, R$ 200 mil, o seu gabinete, uma escultura da cobra Naja, que sustenta a mesa de vidro, ele a chamava de “Marta”

Apresentou projeto para instituir o Dia da Mãe Adotiva, a ser comemorado no terceiro domingo de maio. Em julho de 2008, surpreendeu ao protocolar na Mesa da Câmara uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) propondo o corte de 263 vagas na Câmara, reduzindo o número de deputados dos atuais 513 para apenas 250. Clodovil alegou que o corte permitiria uma economia grande de gastos e ainda reduziria o nível de corrupção no país.

Adotado por um casal de imigrantes espanhóis, Clodovil nasceu no interior de São Paulo e nunca conheceu seus pais biológicos. Foi educado em colégio interno por padres católicos e falava fluentemente francês e castelhano.

Foto: Arquivo

Era professor por formação, mas nos anos 1960 ganhou fama como estilista de alta costura, mantendo uma "rivalidade" com Dener Pamplona, o mais famoso da época.

No início dos anos 80, apresentou na Rede Globo o programa feminino TV Mulher, considerado revolucionário na época, ao lado da então sexóloga Marta Suplicy. Trabalhou também na Rede Manchete, TV Gazeta, Rede TV e JB TV. Foi figurinista de teatro e também trabalhou como ator.

Sofreu o primeiro AVC em 2007, quando chegou a passar alguns dias internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O acidente ocasionou uma paralisia de leve intensidade no braço direito de Clodovil.

Na segunda-feira, ele voltou a sofrer um AVC e foi internado no hospital Santa Lúcia, em Brasília, onde passou por um procedimento cirúrgico. Após uma parada cardiorrespiratória, ficou em coma profundo até que veio a falecer. Ele tinha 71 anos.


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