Guiné-Bissau, após assassinatos, dias melhores?
Guiné-Bissau, após assassinatos, dias melhores? Uma bomba matou o ministro Chefe das Forças Armadas e poucas horas depois é assassinado o presidente suspeito de ter mandado matar o ministro
Foto: Reuters Fontes: The New York Times A jornalista Lydia Polgreen do The New York Times, direto de Guiné-Bissau, relata que o assassinato do Chefe das Forças Armadas general Batista Tagme Na Waie, por uma bomba de controle remoto, seguida do assassinato do seu adversário, o presidente João Bernardo Vieira, 70 ano, menos de 12 horas depois, pode vir “a ser a melhor chance de estabilidade que a Guiné-Bissau tem em muito tempo” - segundo um diplomata ocidental. Foto: Arquivo Blog António Aly Silva O país de alguma forma era refém dos dois, das suas ambições dos seus antagonismos. Foto: Luc Gnago/Reuters Provavelmente o general supondo essa possibilidade deixou instruções dos militares matarem o presidente no caso dele morrer de forma violenta. Foto: Reuters Para trás ficaram jorros de sangue, um facão enferrujado e cápsulas de balas. Foto: Reuters Como um filme B de ação e espionagem os fatos da semana passada no pequeno país africano, pode ter atrás de si, mais que a briga entre dois membros de tribos rivais, há quem garanta que foram os chefões da cocaína sul-americanos, que transformaram a Guiné-Bissau em um paraíso do narcotráfico, que ordenaram os assassinatos.
Outros especularam que a luta de décadas entre os dois homens mais poderosos do país acabou consumindo a ambos. Eles inicialmente foram companheiros na luta pela independência de Portugal, então aliados desconfortáveis e, no final, rivais pelo poder neste país empobrecido e propenso ao conflito. A Guiné-Bissau declarou sua independência em 1973, após uma guerra feroz de guerrilha que deixou o país devastado, então sofreu em meio a experiências desastrosas com a ditadura militar de inclinação marxista sob Vieira. Ocorreram tentativas de golpe e repressão brutal. Nos anos 90, ocorreram tentativas de democracia, então uma guerra civil e ruína. Eleições sucessivas em 2005 devolveram Vieira ao poder, mas uma eleição livre não impediu o declínio. O narcotráfico é o novo flagelo do país. Segundo autoridades da ONU, até US$ 1 bilhão por ano em cocaína passa pelo país a caminho da Europa. Tanto Vieira quanto Tagme Na Waie eram suspeitos de envolvimento no narcotráfico, segundo diplomatas e analistas na região, uma alegação que aqueles que os apoiavam negavam veementemente. Mas mesmo antes da chegada dos narcotraficantes, a rivalidade entre os dois homens já mantinha desestabilizada há décadas a política da Guiné-Bissau. "É bem simples", disse Jan Van Maanen, um empresário holandês que também serve como cônsul honorário da Holanda e Reino Unido em Bissau. "Nino não gostava de Tagme, e Tagme odiava Nino." Foto: Reuters Este ódio mútuo tinha raízes pessoais e tribais. Tagme Na Waie era da tribo Balante, que domina o exército. Vieira veio da menos importante tribo Papel. O general alegava que o governo de Vieira já o tinha torturado com choques elétricos em seus testículos. Vieira suspeitava que o general estivesse minando seu poder e ameaçando seu governo. Foto: Reuters Não demorou muito para a vida voltar ao que se pode chamar de normalidade em um país onde uma em cinco crianças não vive até seu quinto aniversário. As bandeiras foram baixadas a meio pau, mas as lojas reabriram rapidamente. Poucas pessoas queriam ou podiam lamentar dois homens que passaram muito além da expectativa média de vida do país, de 45,8 anos. Foto: AP Ervas daninhas brotam das janelas do Palácio Presidencial, alimentadas pelo sol e chuva que penetram pelo teto que ruiu. O prédio foi danificado na guerra civil do país, que terminou em 1999, e o país é pobre demais para consertá-lo. Mas na Guiné-Bissau, ocorreu uma estranha inversão do padrão. O país parece mais estável após os assassinatos. Os militares não tomaram o poder. O presidente da Assembléia Nacional, Raimundo Pereira, (Foto) foi empossado presidente, como exigido pela Constituição. O governo está preparando novas eleições. Permanece o temor de que os militares possam intervir, ou que o novo governo seja ainda mais vulnerável à corrupção. Zamora Induta, um porta-voz das poderosas forças armadas do país, disse que os militares permaneceriam de fora da transição. É difícil imaginar como a vida na Guiné-Bissau poderia piorar, disse Armando Mango, um advogado em Bissau. "Era uma briga entre dois homens grandes", continuo ele. "Agora que estão mortos, talvez o país possa finalmente ter uma chance de recomeçar."
Utilizamos a tradução de apoio de George El Khouri Andolfato, para a UOL
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