ESTADOS UNIDOS Protestos antiamericanos no mundo árabe reflete na campanha eleitoral dos EUA O jornalista Antonio Caño, correspondente em Washington (EUA) do jornal El Pais, comenta a onda de violência do mundo mulçumano, contra os Estados Unidos, por causa do filme de 14 minutos, divulgado no Youtube, que desrespeita e satiriza o profeta Maomé Foto: Jewel Samad/Agence France-Presse/Getty Images
OS CORPOS - O presidente Obama e a Secretaria Hillary Clinton, prestaram homenagens aos quatro americanos mortos no atentado em Benghazi: o embaixador Christopher Stevens, o agente de gerencimento de informação do Departamento de Estado, Sean Smith e os funcionários de segurança Tyrone Woods e Glen Doherty, dois ex-agentes especiais da Marinha dos Estados Unidos. Postado por Toinho de Passira Texto de Antonio Caño para El Pais Fontes: BBC Brasil , Al Jazeera, Uol, El Pais
Os EUA tentam conter uma onda de protestos contra suas embaixadas e consulados no mundo islâmico com uma combinação de ações diplomáticas e expressões de força que porão à prova a firmeza de Barack Obama e o acerto de sua política externa, a poucas semanas das eleições presidenciais. O governo americano deixou claro que deplora o conteúdo do vídeo - que é usado para justificar as manifestações violentas - e que não tem nada a ver com sua produção, ao mesmo tempo, que navios com mísseis e aviões não tripulados avançam para as costas da Líbia.
Obama reafirma com veemência que "nenhum ato de terrorismo ficará impune" e advertiu que seu país "fará justiça com os que cometeram esse crime" e "fará tudo o que for necessário para proteger os cidadãos e os interesses americanos" em qualquer parte do mundo.
Os fatos ocorridos na terça-feira (11) em Benghazi, onde foram assassinados quatro diplomatas americanos, incluindo o embaixador Christopher Stevens, se repetiram na quinta-feira (13) na capital do Egito e se estenderam para outras cidades com população de maioria muçulmana.
O incidente mais grave ocorreu em Saná, capital do Iêmen, onde centenas de jovens tentaram atacar a embaixada dos Estados Unidos, mas foram contidos pelas forças de segurança. Foto: Esam Omran Al-fetori / Reuters
Interior do consulado americano em Benghazi, após os atos terroristas Há informações sobre protestos semelhantes em Teerã, onde 500 pessoas gritaram "Morte à América!" em frente à embaixada suíça, que representa os EUA, e em Bagdá, onde a manifestação foi promovida por uma das organizações violentas que lutaram contra os soldados americanos na guerra do Iraque.
Pequenos grupos também irritados pelo vídeo elaborado por elementos de extrema-direita com a intenção de denegrir a figura de Maomé, foram para as ruas no Marrocos, Tunísia, Sudão e Bangladesh.
Na maioria dos casos, os governos desses países, alguns deles eleitos depois dos levantes originados pela Primavera Árabe, condenaram a violência dos protestos. Foto: Atta Kenare/AFP/Getty Images
Protestos em Teerã, Irã O presidente do Iêmen, Abdrabbo Mansur Hadi, que substituiu o ditador Ali Abdalah Saleh, publicou sua "sincera desculpa ao presidente Obama e ao povo dos EUA", ao mesmo tempo em que pedia para cessar imediatamente qualquer tipo de agressão.
O presidente do Egito, Mohamed Morsi, que havia demorado para expressar sua posição, defendeu na quinta-feira (13) a santidade de Maomé como "uma linha vermelha para os muçulmanos", mas acrescentou que o ocorrido no Cairo e em Benghazi é "inaceitável e rejeitável", entre outros motivos, porque "Maomé nos ensinou o respeito pela vida humana". "Não aceitamos, nem perdoamos, nem aprovamos de nenhuma forma esses ataques contra embaixadas ou consulados ou contra pessoas", declarou Morsi, com quem Obama falou por telefone na quarta-feira (12). Foto: Yahya Arhab / EPA
Mohamed Al-Sayaghi / Reuters
Ataque a embaixada americana em Sanaa, no Iêmen A administração americana está em contato com as autoridades de todos esses países para tentar que suas forças de segurança impeçam a continuação da violência contra as embaixadas.
A secretária de Estado Hillary Clinton fez uma nova condenação do ocorrido e tentou desmentir a confusão sobre o vídeo que o provocou.
"Esse vídeo é repugnante e censurável. O governo dos EUA não tem absolutamente nada a ver com ele, mas não há nenhuma justificativa para responder com violência", disse Hillary.
O vídeo é o trailer de um filme que provavelmente não existe, e seu repentino impacto entre os círculos islâmicos mais radicais apanhou todo mundo de surpresa. Hillary tentou explicar que, apesar de se sentir repugnada, o governo dos EUA não pode impedir que alguém faça um vídeo assim, porque nesse país existem garantias constitucionais que protegem a liberdade de expressão. Foto: A.M. Ahad/AP
Multidão em Bangladesh queima bandeira americana As autoridades americanas, que investigam os detalhes dos acontecimentos de Benghazi para tentar punir os autores do crime, estão inclinadas a pensar que o vídeo é uma desculpa da Al Qaeda ou de grupos semelhantes para atacar os EUA, exatamente em 11 de setembro.
Os dados conhecidos do ataque ao consulado nessa cidade, no qual, segundo testemunhas, atuaram homens bem armados e coordenados, faz pensar que a operação foi premeditada e estudada.
Washington tenta avançar nessa investigação com a colaboração das autoridades líbias, que condenaram os atacantes sem paliativos.
Obama falou por telefone com o presidente líbio, Mohamed Yusuf al-Magariaf, para discutir o tipo de resposta que se deve dar ao ocorrido. À espera dos resultados, os navios de guerra americanos estarão em poucos dias melhor posicionados para disparar mísseis Tomahawk contra possíveis redutos de extremistas islâmicos instalados na Líbia durante a última revolta popular. Foto: Rahmat Gul / AP
Protesto em Cabul, Afeganistão O uso da força constitui, é claro, um trunfo muito arriscado para Obama. Por um lado, é a mais contundente expressão da rejeição que provocou entre os americanos o assassinato de um embaixador, que, além disso, havia se envolvido pessoalmente no esforço da população líbia para conquistar sua liberdade.
Mas ao mesmo tempo uma ação militar, inclusive de caráter limitado, poderia instigar ainda mais os atuais protestos. Foto: Atef Hassan/Reuters
Manifestantes sunitas e xiitas gritam slogans anti-americanos durante um protesto em Basra, no Iraque. Campanha eleitoral
Os candidatos discutem quem defende melhor os valores dos Estados Unidos. Obama tenta demonstrar que seu apoio à Primavera Árabe não é um fracasso.
A tragédia de Benghazi e os protestos nos países islâmicos causaram uma virada drástica na campanha eleitoral, que de repente se transformou, pelo menos durante alguns dias, em uma disputa sobre quem defende melhor os valores e os interesses dos EUA no exterior.
O candidato republicano, Mitt Romney, tenta recuperar-se do tropeção que deu na quarta-feira (12) em sua primeira reação aos fatos de Benghazi, no qual acusou o governo de Barack Obama de ter pedido perdão aos atacantes, em vez de condenar a agressão. Só alguns comentaristas da extrema-direita seguiram o candidato nessa linha, mas o grosso do Partido Republicano expressou seu apoio ao governo.
Nesta quinta-feira (13), Romney baixou ligeiramente o tom de suas críticas. Sem referir-se especificamente ao ocorrido em Benghazi, o candidato republicano à presidência disse em um comício na Virgínia que "quando observamos o mundo hoje, às vezes parece que estamos à mercê dos acontecimentos, e uma América forte é essencial para decidir os acontecimentos". Foto: STR/AFP/Getty Images
Ataque a um restaurante da rede fast food americano, KFC, em Trípoli, no Libano Como resposta, em um ato eleitoral no Colorado, Obama afirmou que "nossa missão, como a nação mais poderosa sobre a Terra, é defender, proteger e estender nossos valores em todo o mundo". Mas o presidente também deu seu próprio tropeção nestas horas críticas da campanha. Falando sobre sua relação com o novo governo do Egito, Obama disse que esse era "um trabalho em andamento" e que atualmente o Egito não é "nem um aliado nem um inimigo", pondo em dúvida a posição que esse país ocupou durante décadas como o pilar da estratégia dos EUA no Oriente Médio.
Felizmente para ele, as declarações foram feitas no canal em espanhol Tele Mundo, o que limitou sua difusão. Apesar de tudo, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, teve de explicar na quinta-feira (13) que o presidente se referia ao fato de não existir um tratado de defesa com o Egito semelhante ao que os EUA têm, por exemplo, com a Otan. Foto: Chris Schneider/Getty Images North America
Obama, em campanha, no Colorado, após o atentado, que matou o embaixador americano no Líbano Os fatos dos últimos dias puseram Obama na posição de demonstrar que sua política dos últimos anos, consistente em apoiar a Primavera Árabe e favorecer o diálogo com os países islâmicos, não resultou em fracasso.
Por enquanto, a política externa havia sido um dos principais trunfos para a reeleição de Obama. A aprovação dos cidadãos a sua gestão nessa matéria está acima da de outras áreas, como a economia.
Mas se os protestos se prolongarem e se estender a sensação de desproteção das sedes diplomáticas americanas diante das multidões, a opinião pública poderá mudar rapidamente.
Algo semelhante pode ocorrer em relação ao sucedido em Benghazi. O assassinato de um embaixador americano e mais três funcionários não é um assunto que pode ficar sem resposta, aos olhos dos cidadãos americanos. Obama prometeu que se fará justiça e mobilizou forças militares, mas não parece fácil cumprir essa promessa sem complicar ainda mais a situação. Post baseado na tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves, para UOL |
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