Nos laboratórios forenses da Academia do FBI (polícia federal americana) em Quantico, Virginia, especialistas em explosivos estão liderando a investigação sobre o atentado à bomba na Maratona de Boston, ocorrido nesta semana.
Seu objetivo é chegar aos autores da ação. Embora as evidências físicas sejam abundantes, poucas pistas apontam para a motivação do ataque.
Agentes de contraterrorismo e inteligência coçam suas cabeças ao redor do mundo tentando descobrir possíveis suspeitos e prever novos atentados. Até agora eles aparentam receio de tirar conclusões prematuras.
Quando a al-Qaeda detonou bombas em estações de trem em Madri, em 2004, o governo espanhol culpou erroneamente o movimento separatista Eta. E quando o neofacista norueguês Anders Breivik assassinou 93 pessoas em Oslo, muitos imediatamente puseram a culpa em jihadistas.
Então, quais são as linhas de investigação seguidas na investigação de Boston, e por que?
Foto: Elise Amendola/Associated Press
Perigos catalogam resídos, em busca de pistas, no local do atentado
Um americano seguindo uma agenda doméstica
Até esta quarta-feira, esta é a hipótese mais provável.
O FBI mantém uma longa lista de ameaças potenciais emanando de indivíduos ou grupos dos Estados Unidos que abrigam intenções violentas contra o governo federal, organizações civis ou a sociedade em geral.
A lista inclui defensores da supremacia branca, fundamentalistas cristãos, ativistas dos direitos dos animais e antiaborto. Mas, os chamados “lobos solitários” – indivíduos que não pertencem a nenhum grupo radical conhecido – são mais difíceis de se detectar e rastrear.
Foram necessários mais de sete anos para pegar o homem que colocou uma bomba nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996, e mais de 17 anos para capturar o Unabomber (1996).
Um relatório recente revelou que um terço de todos os ataques terroristas domésticos nos EUA desde 1995 foram realizados por indivíduos que agiram sozinhos.
Como os atentados a bomba de julho de 2005 em Londres, o ataque a Boston representa uma falha de inteligência. Mas, as autoridades americanas dizem que não receberam nenhum alerta.
O ataque parece ter surgido do nada e teria sido direcionado não ao governo, mas ao público em geral.
Foto: Policia de Boston/Reuters
Fragmento de uma panela de pressão que teria sido usada para envolver os explosivos do atentado
Um americano seguindo uma agenda internacional ou jihadista
Esta é uma linha de investigação ainda ativa. Os artefatos explosivos usados são muito semelhantes a um modelo divulgado em 2010 pela al-Qaeda em uma revista na internet que encorajava os jihadistas a fazer suas próprias bombas.
As especialistas dizem que o modelo usado em Boston é simples e foi inventado antes das operações da al-Qaeda. Os EUA vêm escapando recentemente de atentados praticados por jihadistas solitários – que já atacaram Nova York, entre outros alvos.
Ao contrário dos ataques grandes e direcionados, como os de 11 de Setembro, operadores solitários não precisam ser treinados, mas apenas inspirados pela al-Qaeda.
Os EUA vêm sendo o alvo preferido de extremistas, mas há razões a serem questionadas se o atual atentado foi obra de jihadistas.
Não há elemento suicida, o explosivo usado era de baixa capacidade e, mais importante, ninguém reivindicou responsabilidade sobre o ataque.
Terrorismo transnacional
A quase completa ausência de avisos, pistas ou reivindicação de responsabilidade está desviando os investigadores dessa hipótese, por enquanto.
“Isso não parece ter vindo do exterior”, disse um especialista em contraterrorismo.
Mesmo o Taleban paquistanês, que já havia ameaçado atacar território americano, afirmou que não é responsável pelo ataque.
Além, disso um ataque direcionado e custeado do exterior causaria um número de vítimas muito mais elevado que três mortos e 170 feridos.
Todas das tentativas de ataque interceptadas e rastreadas até a origem na al-Qaeda paquistanesa visavam matar centenas, se não milhares de indivíduos. Alguns jihadistas celebraram o atentado na internet, esperando que ele fosse atribuído à al-Qaeda
Mas na Grã-Bretanha a Fundação Ramadham, um órgão muçulmano dedicado à paz, publicou um comunicado lembrando a comunidade que “o Islã proíbe o terrorismo e quem adota essa prática abominável não está agindo em nome do Islã ou dos muçulmanos”. Foto: Spencer Platt/Getty Images
Mulher medita junto ao memorial improvisado, em homenagem as vítimas, proximo ao local onde ocorreu o atentado
Um ataque de outro país
Essa é a hipótese menos provável.
A Corea do Norte e o Irã são inimigos declarados dos EUA, mas imagina-se que nenhum deles queira uma retaliação americana em seu território. Nem tampouco mais isolamento internacional por realizar uma ação como essa.
Pyongyang quase com certeza não teria capacidade de realizar tal ação. Há também quem duvide que Teerã realmente estivesse por trás da tentativa de assassinato contra o embaixador saudita em Washington, em 2011.
Então, até agora o foco da investigação permanece doméstico - com a prioridade sendo colocada nos exames periciais da cena do crime, imagens de câmeras de segurança e depoimento de testemunhas.
Mas se uma dimensão internacional for encontrada no caso, a rede de investigação será estendida e provavelmente contará com a ajuda da Grã-Bretanha.
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