8 de jul. de 2009

A "missão impossível" do Plano Real

A "missão impossível" do Plano Real
Confira abaixo a íntegra do artigo de Fernando Henrique Cardoso sobre os 15 anos de lançamento do Plano Real

Foto: Geraldo Magela/Ag Senado

O ex-presidente e ex-senador Fernando Henrique Cardoso na Tribuna do Senado nas comemorações dos 15 anos do Plano Real

Fonte: Ultimo Segundo

"Não há comparação entre o Brasil de hoje e o Brasil de 15 anos atrás. Além de uma doença econômica, a hiperinflação foi um flagelo social e uma ameaça política. Aumentava a pobreza, concentrava a renda, impedia o país de se desenvolver e colocava em risco a democracia recém conquistada. Nenhum dos avanços obtidos nestes quinze anos teria sido possível se ela não tivesse sido derrotada.

Quinze anos atrás, derrotá-la parecia uma missão impossível: vários planos anteriores haviam fracassado, deixando uma sociedade cética e traumatizada; o país acabara de viver o impeachment do presidente Collor; o governo do presidente Itamar Franco procurava equilibrar-se em uma aliança heterogênea; o Congresso encontrava-se paralisado pela crise dos “Anões do Orçamento”.

Como se não bastasse, estávamos na antevéspera de uma nova disputa presidencial. Tudo conspirava contra, e não faltava quem torcesse contra, imaginando tirar proveito eleitoral da crise que se aprofundava.

Por que então deu certo? Porque resistimos à tentação populista de aplicar mais um choque econômico. O Plano Real representou uma inovação, um aprendizado em relação aos erros anteriores. Foi um plano anunciado passo a passo. Acreditávamos que a sociedade entenderia a sua lógica e que voluntariamente daria seu apoio à nova moeda, sem que o governo tivesse de reescrever contratos e congelar preços.

Demos dois passos em um só: derrotamos a inflação e mostramos que o Brasil estava maduro para um novo modo de relação entre o governo e a sociedade, entre o estado e o mercado, mais democrático.

Esses dois passos abriram o caminho para uma ampla agenda de reorganização do estado e da economia, cujos frutos a sociedade brasileira vem colhendo desde então. É só pensar nos benefícios da Lei de Responsabilidade Fiscal, do fim dos monopólios estatais, da criação de uma ampla rede de proteção social.

Hoje a herança do Plano Real está incorporada ao patrimônio do País. A necessidade de novas reformas, porém, está aí a desafiar os governos a não se acomodar com a realidade presente, por melhor que ela seja em comparação com a de quinze anos atrás".


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