José Sarney: o anônimo veneziano?
José Sarney: o anônimo veneziano? O que fazia o senador maranhense, membro da Academia Brasileira de Letras, pelas vielas escuras e úmidas de Veneza, furtivamente esgueirando-se, ao lado de um suspeito ex-banqueiro seu amigo, em noite de lua nova?
Fotomontagem Toinho de Passira Fonte: Revista VEJA
Na semana passada, finalmente ficou claro que “JS-2” era o nome-código de uma conta em dólares de José Sarney e que as anotações feitas em 10 de junho de 2001, exatamente no dia da abertura da Bienal, se referiam a movimentações de fundos. Edemar registrou a entrega de 10.000 dólares em Veneza a "JS". Procurados por VEJA, tanto Sarney quanto Edemar garantiram desconhecer os fatos apurados pelos interventores e pela Polícia Federal e registrados nos documentos, negam-se inclusive a reconhecer a existência de “JS-2”. A revista Veja considera que a simples proximidade com o controlador do Banco Santos é problemática, para tanto para José Sarney, quanto para “JS-2”, pois Edemar Cid Ferreira foi condenado pela Justiça, em primeira instância, a 21 anos de cadeia, já passou duas temporadas em uma penitenciária em São Paulo e está com todos os bens bloqueados pela Justiça. A relação íntima e histórica de José Sarney com Edemar Cid Ferreira, os negócios do ex-banqueiro em áreas de influência política do senador, vindo a público, faria qualquer político oriental suicidar-se, por vergonha por ter caído em desonra. A relação entre o ex-banqueiro e o senador sempre foi pontuada por episódios estranhos. Há cinco anos, um dia antes da intervenção do BC no Santos, Sarney conseguiu retirar 2,2 milhões de reais que tinha investido no banco do amigo. Entre as centenas de aplicadores no banco de Cid Ferreira, Sarney foi o único que conseguiu salvar suas economias, escapando do bloqueio imposto pelo BC aos outros investidores.
O presidente afirmou, então, que mandara sacar o dinheiro por causa dos rumores no mercado dando conta da péssima saúde financeira do Santos. Sarney negou ter recebido informação privilegiada.
Sem saber que o amigo havia dado essa versão, a VEJA, o ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira disse ter ordenado a transferência por conta própria. "Sarney nunca me pediu para retirar o dinheiro do banco. Eu que o fiz", afirmou. A explicação sobre a origem do dinheiro também não convence muito. Como os 2,2 milhões de reais não apareciam em sua última declaração de bens entregue à Justiça Eleitoral, (O presidente precisa arranjar um contador mais cuidadoso) Sarney afirmou que o dinheiro fora obtido com a venda do Sítio do Pericumã, uma fazenda de 268 hectares que mantinha nas imediações de Brasília. O presidente, porém, continuou a usar normalmente a propriedade que afirmou ter vendido. Acreditamos que é lá em Pericumã, que ele se transforma em “JS-2” e sai na calada da noite, a contratar parentes e criar diretorias para a folha de pagamento do Senado. O “arquivo da conta secreta “JS-2”, chega a demonstrar um saldo no exterior de 870 564 dólares, o equivalente, então, a 1,7 milhões de reais.
Sabemos que Sarney vai negar ser o misterioso e endinheirado “JS-2”, mas vai ser dificil, depois de Veja com acesso a agenda do ex-banqueiro Edmar, destaca que na letra “J” foi dedicado amplo espaço, para “JS”, que tem o mesmo bigode e os mesmos telefones que o Senador. Com números do gabinete do senado, fones de uma lista de assessores e números telefônicos em São Paulo, São Luiz do Maranhão e até da sua segunda pátria, Macapá, no Amapá, sem esquecer o telefone do sítio Pericumã. “Envolvido em uma espiral de denúncias desde que assumiu o comando do Congresso, o senador também é mencionado de maneira explícita numa agenda em que o ex-banqueiro lista tarefas que precisava cumprir no dia 1º de novembro de 2004 – onze dias antes da intervenção do BC em seu banco. A agenda deixa evidente que a relação entre o senador e o ex-banqueiro não era apenas de amizade ou interação intelectual. Em um dos itens, logo abaixo do nome de Sarney, aparece o nome da estatal Eletrobrás. A empresa, comandada por gestores indicados pelo senador desde o início do governo Lula, é uma das patrocinadoras do fundo de pensão Real Grandeza. Dos cinco maiores fundos de pensão que perderam recursos com a quebra do banco, o Real Grandeza foi o maior prejudicado. Sofreu um prejuízo de 153,6 milhões de reais. O Nucleos foi outro fundo que ficou no prejuízo com a liquidação do Santos. Ele pertence aos empregados das estatais do setor nuclear, uma área notoriamente controlada por pessoas indicadas pela ala do PMDB mais ligada a Sarney. A existência de contas secretas no exterior, ameaça mais uma vez o registro da candidatura do Senador “presidente do Congresso porque suas declarações de imposto de renda apresentada ao TER não registram dinheiro no exterior no período contemplado pela contabilidade do Banco Santos. Os dólares de "JS" equivaliam a 1,7 milhão de reais em 1999 – 74% do patrimônio total declarado por Sarney à Justiça Eleitoral em 1998, quando concorreu ao cargo de senador pelo Amapá. Questionado por VEJA sobre a existência de recursos de sua propriedade no exterior, entre 1999 e 2001, o senador, utilizando ilegalmente a assessoria de imprensa do Senado, para emitir nota de caráter pessoal, Sarney informou que não manteve recursos fora do país nesse período. Foi mais direto ainda ao se referir a coincidência entre o repasse de dinheiro exatamente no período em que esteve em Veneza, com aquela “dignidade descarada de Paulo Maluf, o senador disse: "isso não me diz respeito". E passou para o escândalo seguinte.
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