6 de jul. de 2009

Ronildo Maia Leite: A emoção no papel

Ronildo Maia Leite: A emoção no papel
Aproveitamos o excelente texto do jornalista Fernando Castilho para homenagear um dos maiores jornalistas e escritor pernambucanos das últimas gerações, aos 78 anos, tinha ares de garoto inquieto

Foto: Arnaldo Carvalho / JC Imagem

“Eu fui um dos primeiros presos políticos daquela época. Eu fui preso no dia 1º de abril de 1964 quando Arraes ainda era governador, Jango presidente e Pelópidas prefeito e às 9h da manhã eu já estava em cana”, disse Ronildo numa entrevista, lembrando do último dia como editor do Diário da Manhã

Fontes: Diario de Pernambuco, Blog do Jamildo, Café Colombo

Ronildo Maia Leite, ou “Seu Leite”, como os companheiros da Sucursal Norte Nordeste de O GLOBO o chamavam nas horas de brincadeira, na sala de 40 m² do primeiro andar do Edifício Círculo Católico, na Rua do Riachuelo, era pura emoção.

Não tinha meio termo: ou o sujeito era repórter ou não trabalhava com ele. E se a bronca vinha da forma mais dura, o elogio era na mesma proporção.

Ronildo, o jornalista, já que sobre o animal político, deixo para pessoas mais equipadas intelectualmente que eu falarem, nos ensinou algumas lições que até hoje repasso aos companheiros mais jovens nas horas de crise na redação:

“Jornalista só se afirma nas grandes coberturas”, “Ponha toda a emoção de sua apuração no papel”, ou “Se você acha que lhe fiz algum favor como repórter, me pague isso em notícia”.

Sim, ensinou a muitos de nós que um veículo só ganha respeito da comunidade quando ela se vê refletida nele.

Maia Leite tinha o que ele mesmo costumava dizer um pouco de tinta correndo no sangue. Era rato de gráfica daqueles que apura a matéria, edita o texto, faz o título, e vai para a gráfica esperar o jornal na boca da rotativa só para saborear consigo mesmo a alegria de ver que aquela notícia pode melhorr um pouco a vida das pessoas.

Sim, adorava uma polêmica de repercussão. Brincava com a gente: se uma notícia bem apurada provoca irados desmentidos e até processos dos acusados é porque a imprensa cumpre seu papel de sentinela da Democracia.

Ele mesmo foi réu em vários processos sem que nunca tivesse sido condenado por má apuração.

Ronildo ensinou nas redações por onde passou aquilo que muita gente anda meio esquecida hoje.

O repórter apura melhor na rua. O telefone é só para checar a apuração ou dirimir a dúvida. E quando ninguém falava na Internet ele foi o primeiro jornalista pernambucano a comprar seu primeiro PC, um possante Corisco, que o levou a aprender noções de MS-DOS já que ele queria saber o processo.

A gente sabia que um dia ele iria nos deixar. Mas hoje ao saber de sua partida para o andar de cima deu uma saudade danada de Ronildo.


Fernando Castilho, é colunista de Economia do JC e trabalhou por 10 anos com Ronildo Maia Leite na sucursald e O Globo.

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