Até onde vai o ímpeto revanchista dos democratas é uma questão ainda em aberto – mas para Obama a complicação já é grande. Ele não quer enfurecer os republicanos no momento em que tenta iniciar uma dolorosa reforma do sistema de saúde pública.
De qualquer forma, tendo em vista o histórico de contorcionismos jurídicos criados no governo anterior para justificar o uso da tortura na guerra ao terror, é pouco provável que os figurões da administração Bush não encontrem meandros para se salvar de mais essa fogueira.
A importância exagerada dada ao episódio em questão dá ideia do clima político. Revelou-se, na semana passada, que a CIA desenvolveu um programa que autorizava a captura e a execução de líderes da Al Qaeda. As operações seriam conduzidas no exterior por pequenos grupos de agentes secretos. O projeto, uma das dezenas de propostas que surgiram após os atentados terroristas, contém pelo menos uma ilegalidade flagrante: não foi comunicado ao Congresso.
Foto: AP – Getty Images
A omissão teria sido ordenada pelo então vice-presidente Dick Cheney (foto a direita). De qualquer forma, o plano nunca foi posto em prática e acabou cancelado assim que Leon Panetta (foto esquerda), que assumiu o comando da CIA há cinco meses, soube de sua existência. Na definição de um dos envolvidos, tudo não passou de uma apresentação de PowerPoint.
Parte da indignação deve-se ao uso da palavra "assassinato" para descrever a tarefa. As execuções seletivas praticadas pela CIA estão proibidas desde 1976. A medida foi uma reação à divulgação dos planos do serviço secreto para matar Fidel Castro e o presidente chileno Salvador Allende.
Na prática, essa proibição foi revogada no pacote de leis aprovado no início da guerra ao terror. Terroristas passaram a ser perseguidos e mortos com o uso, principalmente, de aviões e mísseis teleguiados, tática mantida por Obama.
A diferença é que o programa da CIA envolvia o treinamento de grupos de agentes para executar o serviço. Para os políticos, há uma grande diferença entre matar um terrorista usando bombas e fazê-lo com um fuzil com mira telescópica. Para os agentes secretos, é apenas a escolha da ferramenta de trabalho.
* ”Uau! A CIA tem segredos” foi o título original do texto na revista Veja
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