Democracia no fundo do poço
Democracia no fundo do poço Foto:Agência Brasil Roberto Mohamed Nossa classe política chegou realmente ao fundo do poço. Nem o Congresso, nem as assembléias legislativas ou as câmaras municipais têm o menor respeito por parte do cidadão, que não enxerga mais qualquer atitude de seus representantes em favor do bem comum. Todas as ações parlamentares em qualquer instância de poder visam unicamente a favorecer interesses pessoais ou corporativos e, logicamente, aqueles de quem os financiou. Os últimos escândalos no Congresso Nacional apenas coroam um processo de deterioração da imagem dos partidos e seus representantes que funciona perigosamente ante o eleitorado. Cresce o sentimento de que o Parlamento serve apenas para favorecer corruptos ou abrigar oportunistas, e isso é um erro que pode levar a um novo regime de força. Não se pode fechar os olhos diante de fatos que ocorreram em nossos vizinhos. Na Venezuela, Bolívia, Equador e Paraguai, sucessivos governos desastrosos amparados por uma classe política desmoralizada acabaram jogando esses países nas mãos de ditadores populistas, conduzidos pelos votos dos insatisfeitos. Qualquer coisa é melhor do que o que tinham no governo. E governos eleitos por insatisfação ou revolta se tornam ditaduras da maioria, calcados no populismo e na demagogia. O Brasil tem instituições políticas e econômicas que jamais existiram em nossos vizinhos, exceto a Argentina, e isso nos dá condições políticas diversas desses países, mas não podemos deixar de reconhecer que Lula tem traços de Hugo Chávez e Evo Morales em seu DNA político. Essa estória de "nunca na história desse país" tem o mesmo ranço messiânico dos líderes populistas sulamericanos. A popularidade de Lula está amparada em discursos demagógicos, investimentos milionários em propaganda e programas assistencialistas eleitoreiros. Isso não lembra nada? O perigo chega quando a população começa a enxergar nos políticos a causa de todos os males do país e a imaginar que o governo poderia fazer mais se não tivesse que negociar com os oportunistas e corruptos. Isso decorre da ilusão de que o Poder Executivo tem gente com vontade de trabalhar e os poderes Legislativo e Judiciário impedem isso. A patuléia parece desconhecer que a corrupção e oportunismo contamina os três poderes igualmente e, no caso do Executivo, de forma mais volumosa, afinal a chave do cofre está nas mãos dos membros desse poder. Mas o imaginário popular, principalmente nos extratos mais humildes, se baseia naquilo que parece e não naquilo que é. Se alimentam da ilusão e da mentira, da imagem bem trabalhada, do falso sorriso e do discurso de improviso ensaiado. E Lula vai seguindo falando o que quer, o Congresso segue cobrando o que quer e o Judiciário finge que não compactua com isso. Onde isso vai dar? Quem sabe em Caracas, Quito ou La Paz.
Roberto Mohamed é articulista do Monitor Mercantil Originalmente a matéria tinha o título “Fundo do Poço” |
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