29 de abr. de 2009

Obama 100 dias: o cara

Obama 100 dias: o cara
Atenção, Lula, hoje, Obama é o cara

Foto: Getty Images

Caio Blinder
Fonte: Ultimo Segundo

Perdão, Lula, mas "ele é o cara": Barack Obama. Na celebração fictícia, mas inevitável, nesta quarta-feira dos 100 dias de Obama na presidência americana já sabemos que ele não é santo milagreiro nem caminha sobre as águas. Mas o barco americano, além de ter parado de afundar, navega com um pouco mais de tranquilidade com Obama de timoneiro.

O presidente se consolidou no poder e o estado de espírito nacional está um pouco mais animado. Um grande consolo de Obama é o colapso do Partido Republicano como um projeto substantivo de oposição. Os republicanos carecem de uma mensagem confiável e de mensageiros respeitáveis. É uma alegria para os democratas quando o desacreditado ex-vice-presidente Dick Cheney é a face mais visível da oposição.

A alegria foi reforçada com a deserção, formalizada na terça-feira, do senador Arlen Specter para o campo democrata e um dos fatores foi a guinada do partido ainda mais para a direita e o obstrucionismo.

Há uma obsessão ideológica dos republicanos em se insurgirem contra a idéia de um governo muito ativo (o "big government"), com as acusações levianas de que Obama seja "socialista". Na confusão histérica, ele também é acusado de fascista, em particular por apresentadores de talk-shows, a vanguarda conservadora.

Os americanos tomam nota de uma perigosa e excessiva intervenção do Estado na vida nacional e são necessárias as apreensões com o crescente déficit público mas isto é mais para frente. No momento, a questão-chave é a máquina defeituosa do capitalismo. O conserto é urgente. A economia é um déficit e não funcionam seus mecanismos autocorretivos. É hora, infelizmente, de mais governo, não de menos.

A movimentação republicana é tão retrógrada que eles investem energia e informações históricas pinçadas para atacar Franklin Roosevelt, o presidente-gigante e intervencionista dos tempos da Grande Depressão e da Segunda Guerra Mundial, que, ao lado do pequeno Napoleão, tornou obrigatória esta contagem dos 100 dias.

Na banda de Obama existe empenho em afiná-lo com Roosevelt. Joe Klein, conhecido colunista da revista "Time" e uma das tietes mais conhecidas do presidente, escreve esta semana que os 100 primeiros dias de Obama são os mais impressionantes desde Roosevelt em 1933. Mas mesmo Klein lembra o óbvio: os maiores testes estão adiante. Correto. Existem medidas concretas de peso neste começo de governo (como o pacote de estímulos de US$ 787 bilhões), mas basicamente Obama é o triunfo de visão sobre substância. É difícil de medir, mas também é mais fácil para evaporar.

Obama se sobressai pela ambição de projetos em economia e política externa. Há também a pretensão de mudar a própria maneira de ser dos americanos, de uma era de gratificação instântanea para a idade da responsabilidade. É uma ironia para um presidente que promete mundos, mas não têm os fundos para bancar.

Hoje, literalmente hoje, é esta onda sobre os primeiros 100 dias de Obama. O próprio governo não foi bobo e faz o que pode para manipular as expectativas nesta data artificial. É apenas o começo. Somente a história dirá se Obama foi efetivamente o "cara" da onda fenomenal ou apenas uma marola.


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