VEJA: Lula, o sabonete
BRASIL – Opinião Lula, o sabonete ” Tamanho é o empenho para trocar alianças com o PDS que Lula e Dilma relevaram até os constrangimentos impostos ao PT pelo novo ministro. Afif Domingues disse, certa vez, que eleger Dilma seria o mesmo que entregar um Boeing nas mãos de quem jamais havia pilotado nem sequer um teco-teco, também comandou protestos contra o mensalão e foi o idealizador do Impostômetro - criado para criticar o fato de o governo do PT manter uma pesada carga”. Foto: Michel Filho/Agência O Globo Postado por Toinho de Passira O ex-presidente agora critica o PT "eleitoreiro" e diz que o mensalão foi um "tropeço". Não, ele não mudou. Está fazendo o que sempre faz: limpando a própria biografia e a do partido à custa dos outros. O ex-presidente Lula disse cena vez que é uma metamorfose ambulante. Ele tem razão. Em 2005, quando a imprensa revelou a existência de um esquema de compra de votos no Congresso comandado pelo governo do PT, Lula se declarou traído e pediu desculpas à nação. Em 2010, pouco antes de transferir o comando do país a Dilma Rousseff, ele prometeu que se dedicaria a desmontar a "farsa" do mensalão, que não passaria de um golpe tramado por setores conservadores da elite, da mídia e do Judiciário para derrubar os petistas do poder. A ofensiva não deu certo e o Supremo Tribunal Federal (STF) condenou 25 dos 38 réus do processo. Diante do resultado, restou a Lula mudar de lado novamente. Foi o que ele fez numa entrevista para o livro Lula e Dilma 10 Anos de Governos Pós-Neoliberais no Brasil. Nela, o petista reconhece que o mensalão foi um "tropeço" e faz um mea-culpa. Um tropeço e um mea-culpa não dele, mas dos companheiros de partido. Lula, como repetem os petistas com cena ironia, nunca erra. Lula, como ele mesmo diz, nem sequer sabia do mensalão. Eis dois mantras do PT, entoados numa tentativa permanente de preservar a biografia do chefe. O ex-presidente abandonou a discurseira e o lobby em defesa dos mensaleiros depois que o STF sentenciou, em dezembro, a antiga cúpula petista à prisão. Em conversa com aliados, Lula falou que era hora de assimilar a derrota jurídica, ressaltando que o partido já tinha superado o escândalo do ponto de vista eleitoral, como atestariam as vitórias nas disputas presidenciais de 2006 e 2010. O fracasso no Judiciário, ponderou, não seria capaz de fazer frente à consagração nas umas. Lula lembrou ainda que tinha tentado ajudar os réus antes do julgamento. Com a condenação, nada mais poderia fazer por eles. "Em toda guerra, há combatentes mortos", declarou. Nos próximos dias, o Supremo começará a analisar os recursos dos condenados. Se as penas não forem reduzidas ou anuladas, o ex-presidente do PT José Genoino terá de passar as noites na cadeia e perderá o mandato de deputado federal. Já o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares cumprirão pena em regime fechado. Para Lula, cuja suposta participação no mensalão está sob investigação do Ministério Público, essa agenda negativa não pertence mais a ele e ao partido. A prioridade agora é ressaltar as realizações dos dez anos de governo do PT para lavar a própria biografia e impulsionar a candidatura de Dilma à reeleição. Foi esse o espírito da propaganda do partido exibida na TV na semana passada. O tema mensalão, se for abordado em público, tem de ser feito ao gosto do eleitorado, sempre acompanhado da eterna promessa de moralização da política. Justamente o script seguido por Lula na entrevista para o livro sobre os dez anos de governo petista, que foi concedida em fevereiro, mas só divulgada neste mês. "O PT cometeu os mesmos desvios que criticava. O PT precisa voltar a acreditar em valores banalizados por conta da disputa eleitoral. É provar que é possível fazer política com seriedade. Pode fazer o jogo político, mas não precisa estabelecer uma relação promíscua para fazer política", declarou Lula.
O problema é a distância quilométrica entre o discurso e a realidade. A origem do mensalão está associada à tentativa de Lula - depois de três derrotas em disputas presidenciais - de formar uma aliança mais ampla para a corrida presidencial de 2002. Com a vitória nas umas, ele montou uma abrangente base de sustentação no Congresso, fomentada à custa do loteamento da administração pública e da compra de votos parlamentares. A bancada lulista engordou no decorrer dos oito anos de mandato, quando o fisiologismo atingiu níveis inauditos. Dilma já assumiu a Presidência com a mesa posta. Agora, de olho na reeleição, ela atua para montar a maior coligação eleitoral da história. Tudo sob a orientação de Lula. No início deste ano a presidente reacomodou no comando dos ministérios dos Transportes e do Trabalho aliados dos presidentes do PR, senador Alfredo Nascimento, e do PDT, Carlos Lupi. Nascimento e Lupi haviam sido demitidos das pastas pela própria Dilma, em 2011, por suspeitas de corrupção. O retomo deles ao Palácio do Planalto, em vez de combater, só reforça os tais "valores banalizados por conta da disputa eleitoral". O mesmo vale para a posse, na semana passada, de Guilherme Afif Domingos como ministro da Micro e Pequena Empresa. A pasta, a 39ª da Esplanada, foi criada para atrair o PSD ao governo e para a chapa à reeleição em 2014. Chefiado pelo ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, o PSD tem a quarta maior bancada da Câmara e direito a quase dois minutos na propaganda eleitoral de TV. São dotes valiosos - daqueles que fazem com que os partidos se pareçam a "negócios", como destacou Lula na mesma entrevista em que fez o mea-culpa do mensalão; daqueles que o PT, no entanto, não se faz de rogado na hora de negociar e comprar. Tamanho é o empenho para trocar alianças com o PDS que Lula e Dilma relevaram até os constrangimentos impostos ao PT pelo novo ministro. Outra metamorfose ambulante da política nacional, com passagens pelo PDS de Paulo Maluf hoje PP pelo PL (atual PR) e pelo PFL (hoje DEM). Afif disse, certa vez que eleger Dilma seria o mesmo que entregar um Boeing nas mãos de quem jamais havia pilotado nem sequer um teco-teco. Quando ainda despontava nas trincheiras da oposição, Afif também comandou protestos contra o mensalão e foi o idealizador do Impostômetro. Quanta ironia. Quanta mudança de lado. O Impostômetro por exemplo, foi criado como forma de criticar o fato de o governo do PT manter uma pesada carga tributária a fim de entre outros, custear o inchaço da máquina pública. O mesmo inchaço que agora garante a Afif o status de ministro. Os constrangimentos não param por aí. Afif é vice-governador de São Paulo, estado comandado pelo PSDB. Ou seja: mantém um pé na canoa petista e o outro na canoa tucana. Pelo menos nesse quesito há coerência no tabuleiro. Afinal, Kassab já disse que o PSD não é nem de centro, nem de direita, nem de esquerda. É governista. Feito para ajudar qualquer governo. É justamente o que está fazendo o partido, que seria batizado inicialmente de PDB, nome deixado de lado após ser apelidado de Partido da Boquinha. Injustiça! A cooptação de um novo parceiro reforçou o otimismo em Dilma. Numa conversa recente, ela disse a petistas que com tantos apoios partidários e a perspectiva de aceleração da economia, não há como não ser reeleita. "Quero ver quem terá coragem de me enfrentar", desafiou a presidente. Foto: Ueslei Marcelino/Reuters Além da possibilidade de render dividendos eleitorais como tempo de TV, a nomeação de Afif foi uma tentativa de reabrir um canal com o empresariado paulista, que está fechado desde a saída de Antonio Palocci da Casa Civil, em 2011. A medida vinha sendo discutida há dois meses entre Dilma e Lula. A presidente ficou alarmada com a adesão a um jantar oferecido pelo empresário Flávio Rocha, dono das lojas Riachuelo ao governador de Pernambuco. Eduardo Campos, possível candidato a presidente pelo PSB. "Perder o apoio do empresariado de São Paulo para o PSDB é do jogo mas ver que eles podem ir para o lado do Eduardo fez acender um alarme no governo", disse um ministro. Dilma, então, procurou Kassab e fez o convite a Afif. Lula desconfiou do sucesso da iniciativa. Ele temia que Afif, devido aos embates travados nos últimos anos, recusasse a oferta, o que desgastaria ainda mais o governo com a classe média e com o eleitorado de São Paulo. Mas Dilma bancou a escolha. Mesmo os argumentos de que Afif tem um histórico político de oposição ao PT não a demoveram da ideia. Para a presidente, eventuais críticas à nomeação de um antigo desafeto são um preço baixo a pagar diante da perspectiva de reabertura do diálogo com o setor produtivo do mais importante estado do país. Foto: Gustavo Miranda/Agência Globo LULA, DILMA, O PT E OS LADRÕES *Acrescentamos subtítulo, fotos e legendas a publicação original Leitor nos pergunta se temos link para o texto Lula, o sabonete |
2 comentários:
O Afif, é um dos passageiros de primeira classe embarcado em um avião sem "COMANDO", e dia-a-dia fazendo "POUSO" forçado, até quando ninguém sabe. Vamos aguardar. Quem viver verá.
Não estou localizando a matéria "Lula, o sabonete", no site da Veja. você tem o link para a matéria?
Grato.
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