Para o Egito, o turismo sempre foi economicamente um dos setores da maior importância: emprega 12 por cento da força de trabalho e capaz de abarrotar, de dólares, os cofres esvaziados, nestes momentos de mercados em crise, pelas dificuldades da transição da política local.
De olho apenas no aspecto religioso, a poderosa Irmandade Muçulmana e os Salafistas, politicamente dominantes no jogo de poder do Egito de hoje, têm passado uma mensagem tida como repelente para os turistas: “Sejam Bem-vindos, mas não serão servidas bebidas alcoólicas, nem será permitido biquínis ou banho misto (homens e mulheres) nas praias!” Teoricamente esses grupos, radicalmente mais fechado, procura abafar toda e qualquer modernidade procedente das influências ocidentais como algo que destrói tudo o que é islâmico.
Dentro desse clima, o atual ministro do turismo, Hisham Zaazou, mostra-se disposto a se contrapor a essa posição, pelo bem da economia e da abertura do país para investimentos estrangeiros:
Foto: Flickr
Turista diverte-se com a mítica e gigantesca Esheps, a esfinge de Gizé. Especula-se que a cabeça do leão seria a representação do faraó Quéfren ou seu irmão, o faraó Djedefré, construção da quarta dinastia (2723 a.C.–2563 a.C.)
“ O Egito está aberto a visitantes “que bebam álcool e que usem biquínis”, disse ele, sem meias palavras, neste domingo, em visita oficial aos Emirados Árabes Unidos.
Pilar da economia egípcia, o turismo está em declínio desde a insurgência popular que derrubou o ditador Hosni Mubarak em 2011, na onda da chamada Primavera Árabe, criando um clima interno de instabilidade, protestos periódicos e permanente situação de violência urbana.
O ministro Zaazou, disse que o governo tem “objetivos otimistas” para o setor, e minimizou comentários do grupo radical muçulmano Salafi, que têm reivindicado o banimento de álcool e de mulheres usando roupas de banho.
— Tivemos conversas com estes grupos Salafi e eles agora entendem a importância danosa de se dizer este tipo de coisa — acrescentou o ministro, um independente que não é membro da Irmandade Muçulmana governante.
Foto: Getty Images
Pirâmides de Gizé, Egito - Construída em 2.550 a.C., a maior das três pirâmides de Gizé, Quéops, foi feita de 2,3 milhões de blocos de pedra. Alguns desses blocos chegam a pesar até 80 toneladas, cada. Das 7 maravilhas do mundo antigo, Quéops é a única que ainda existe.
Recentemente, pressionado por religiosos, o presidente islâmico Mohamed Mursi, oriundo da Irmandade Mulçumana, chegou a aumentar os impostos sobre bebidas alcoólicas em dezembro, mas foi obrigado a voltar atrás depois que a manobra foi criticada pelo setor de turismo e por liberais.
Antes do início dos protestos contra o governo, o turismo respondia por cerca de 10% da economia egípcia. Em 2010, o país recebeu 14,7 milhões de visitantes, que trouxeram US$ 12,5 bilhões para os negócios locais, mas esse número caiu para 9,8 milhões no ano seguinte, e faturamento, para US$ 8,8 bilhões.
De acordo com Zaazou, 2012 mostrou uma recuperação, com 11,5 milhões de turistas e faturamento de cerca de US$ 10 bilhões. Já no primeiro trimestre deste ano, foi registrado um aumento de 14,6% em relação ao mesmo período do ano passado, disse ele. A meta de longo prazo é alcançar 30 milhões de turistas e receita de US$ 25 bilhões em 2022.
Zaazou disse que reconstruir o turismo é uma prioridade nacional. Para ajudar a cumprir a meta de aumentar o número de visitantes em 20% este ano, o ministério instalou câmeras nos maiores resorts, para alimentar um website com transmissão em vídeo ao vivo.
— Queremos mostrar às pessoas que o Egito é seguro, e a melhor maneira de fazer isso é através do live streaming. O próximo passo será exibir ao vivo essas imagens em praças públicas de Paris ou Nova York.
Não se sabe se os turistas vão aprovar em serem personagens desse reality-show de férias.
As coisas, porém, não são tão fáceis como quer demonstrar o ministro: buscando novos mercados, o Egito tentou, este ano, abrir as portas aos turistas iranianos, após 34 anos de relações diplomáticas congeladas.
Mas teve que recuar, pois a medida enfrentou protestos dos muçulmanos sunitas linha-dura do Cairo, que acusaram o Irã de tentar espalhar a fé xiita, em seus domínios, o que levou à suspensão dos voos comerciais a partir do Irã desde abril.
Na verdade fazer turismo no Egito de hoje, está mais barato. Mas no pacote, além da beleza, o mistério e a grandiosidade do Vale dos Reis, as Pirâmides, a Esfinge e o rio Nilo, está incluso, a incerteza, os riscos, a insegurança e a possibilidade de voltar para casa sóbrio e com o biquíni intocado no fundo da mala.
Foto: Yumiru /Flickr
Sem biquíni o turismo não tem salvação!
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