22 de mai. de 2013

Para Kasparov, opositor de Putin, em dois ou três anos, acontecerá uma enorme explosão social na Rússia

RUSSIA
Para Kasparov, opositor de Putin, em dois ou três anos, acontecerá uma enorme explosão social na Rússia
Oposicionista ferrenho de Vladimir Putin, o xadrezista Kasparov, chama o presidente russo de ditador, diz que ele protege e alia-se aos demais ditadores do mundo, inclusive com o regime Sírio de Assad e do chavismo venezuelano, tudo é uma questão de dinheiro e poder.

Foto: Susana Sáez/El Pais

O dissidente russo, Gary Kasparov

Postado por Toinho de Passira
Baseado numa reportagem de Antonio Caño, para o jornal “El Pais” e na tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves , para o UOL
Fontes: El Pais, Uol

Gary Kasparov, provavelmente o melhor enxadrista da história, é hoje o rosto internacionalmente mais conhecido da oposição a Vladimir Putin, o que também o transforma em uma das figuras menos vulneráveis entre os rivais do presidente russo. Outros, no passado, acabaram na prisão ou fora do país. Atualmente, o movimento de contestação a Putin precisa de outra voz de semelhante relevância.

Antes que os outros percebessem o ritmo dos acontecimentos na Rússia pós-soviética, Kasparov, inspirado no exemplo de antigos e célebres dissidentes do comunismo, alertou que seu país se precipitava para a ditadura. Isso o transformou em um personagem detestado no Kremlin, mas ao mesmo tempo incômodo em Washington e em outras capitais nas quais se busca uma acomodação com o governo de um país do tamanho e com a história da Rússia.

Seu principal âmbito de atuação é o dos direitos humanos, sobre o qual, esta semana, fez uma nova e enérgica denúncia no Fórum da Liberdade em Oslo, de que é um dos fundadores. Em uma conversa com "El País", Kasparov insiste no perigo que Putin representa para a Rússia e o resto do mundo.

Falando ao jornal espanhol El Pais, ele alerta que “a Rússia está concluindo o processo de transformação de uma ditadura de partido único em uma ditadura de um só homem” - diz ele.

Segundo ele, apesar dessa ser uma má noticia, também pode ser considerada boa ao mesmo tempo, porque é uma agonia, o regime é menos flexível, tem menos capacidade de manobra, está entrando em sua fase final, “que creio que não durará muito”.

Foto: Misha Japaridze/ Associated Press

Protestos em Moscou no começo desse ano, milhares de pessoas nas ruas, nos cartazes, palavras como “escória” e “vergonha”, adjetivam o líder soviético

Para Kasparov em dois ou três anos acontecerá explosão social maciça, mas a um custo muito alto para o país, porque Putin não sairá por ser impopular ou por perder as eleições. Putin conservará o poder até o amargo final. Para ele, a a Rússia passou da fase em que pode haver uma transição pacífica do poder.

Destaca que as leis e a constituição russa, está condicionada e sempre é mudada de acordo com a vontade de Putin, permanecer no poder.

“Seu governo já é ilegítimo porque está em seu quarto mandato de fato [conta os quatro anos de presidência de Dmitri Medvedev], embora tecnicamente seja o terceiro, e já demonstrou que a Constituição para ele é um pedaço de papel que pode utilizar à vontade” – comentou,

Segundo ele a Rússia, o povo russo, perdeu uma grande oportunidade de frear Putin nos anos 1990 de mudar as coisas de verdade.

Quanto ao regime de Putin, é muito difícil porque Putin teve muita sorte, e as pessoas mais velhas na Rússia o consideram uma melhora em relação aos tumultuados e perigosos anos 90.

Para Kasparov a Primavera Russa, os protestos de dois anos atrás, teve resultado positivo, “entre outras coisas porque demonstrou que o regime não se importa com a opinião dos cidadãos e demonstrou a natureza ilegítima do governo Putin.

”Não se pode dizer que as pessoas que protestavam desapareceram. Essa gente continua aí. Até dezembro de 2011 não se conseguia reunir mais de quatro mil pessoas nos protestos, hoje se reúnem no mínimo 25 mil. E nos momentos culminantes vimos mais de 150 mil pessoas na rua. Não é suficiente, mas o protesto está aí e o objetivo é conseguir manifestações realmente maciças nas ruas”, – observou.

Para ele só os protestos conseguirão derrubar o regime. Putin não vai entregar o poder mediante um processo constitucional pacífico.

Ele porém se escusa a aparecer como uma opção política após uma queda de Putin, diz que esse não é o momento para alguém fazer planos pessoais. “Eu faço o que posso para derrubar o regime. Uma vez que meu país esteja livre, poderei considerar diferentes opções. Mas já tive glória suficiente em minha vida, por isso não tenho grandes expectativas pessoalmente. O importante para a Rússia, e certamente para o mundo, é derrubar Putin.

Foto: Alexander Zemlianichenko/Associated Press

Senhora com um guarda-chuva branco, símbolo do protesto, passa ao lado de policiais durante manifestação em massa da oposição de Moscou, ano passado

Denuncia que o presidente russo tem ligações econômicas e de apoio com todas as ditaduras do planeta, como um clube de apoios recíprocos.

”Todos os ditadores na face da Terra têm laços estreitos, seja Putin, o governo chavista, o Irã, Coreia do Norte, Síria... têm contatos. Fazem negócios juntos, mas, mais importante que isso, apoiam uns aos outros porque não querem mudanças e têm medo do efeito dominó. Temem que, se um cair, todos os demais cairão” - observa.

Explica que Putin não pretende reconstruir o império soviético, pois sua atuação não é ideológica, é uma questão de máfia, visando apenas o dinheiro e o poder.

Especifica o caso da relação de Putin com o governo da Venezuela, dizendo que não é uma questão econômica, pois a A Venezuela tem dinheiro. “Eu creio que estão mais se protegendo um ao outro porque, se Putin cair, o governo chavista perderia um aliado fundamental no exterior. E, se o governo chavista cair, muito provavelmente todos os demais governos da América Latina que o seguem enfrentariam seguramente grandes problemas”, explicou.

Para ele Putin, por exemplo, vai apoiar o governo Sírio de Assad até o final porque teme que se Assad cair muitos russos vão interpretar que Putin também pode cair. Essa é a grande irmandade dos ditadores, que se protegem até o final.

Foto: AFP

Na hora da verdade, Putin não vai oferecer nenhuma solução viável no Oriente Médio porque seus interesses são completamente diferentes.

Kasparov respondendo a uma indagação do jornalista do El País diz que as negociações atuais com os EUA sobre a Síria são uma mera situação mascarada. “Os EUA são uma superpotência e Putin precisa acalmar a ansiedade da burocracia Rússia, que pode temer que seus interesses não estejam bem defendidos nos EUA e na Europa. Putin tenta negociar com os EUA para conter os efeitos do caso Magnistky [o advogado russo cuja morte na prisão provocou como represália uma lei de sanções dos EUA contra funcionários públicos russos]. Esse é seu único objetivo. Não compartilham os mesmos interesses.

“Na hora da verdade, Putin não vai oferecer nenhuma solução viável no Oriente Médio porque seus interesses são completamente diferentes. Nós queremos que os preços do petróleo baixem para aliviar a economia mundial; ele quer que subam para que ele, os chavistas e os mulás se mantenham no poder”, diz.

O jornalista pergunta se está equivocada a política de diálogo do governo de Barack Obama?

Ele responde: “Não sei. Creio que se trata de um velho problema. Há 75 anos o mundo tentava apaziguar Hitler, e hoje se tenta a mesma política de apaziguamento com Putin. Não podemos negociar com ditadores; não funcionou há 75 anos e não vai funcionar agora”.- conclui


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