O amigo invisível do deputado Garotinho
BRASIL - Corrupção O amigo invisível do deputado Garotinho O empresário George Augusto Pereira tem negócios milionários com o deputado e seu partido. Só tem um detalhe: ele não existe Foto: André Coelho/Ag. O Globo) Postado por Toinho de Passira Passava de 8 horas da noite da segunda-feira, dia 29 de abril, quando o deputado Anthony Garotinho subiu à tribuna da Câmara bufando. Líder do Partido da República (PR), ele precisava dar explicações convincentes aos colegas deputados e, principalmente, a seus eleitores do Rio de Janeiro. Dois dias antes, ÉPOCA revelara um esquema de desvio de dinheiro público que envolve a família Garotinho e o PR no Rio. Na tribuna, Garotinho saiu em defesa de uma empresa que tem negócios com seu gabinete na Câmara, com a prefeitura de Campos dos Goytacazes, comandada por sua mulher, Rosinha Garotinho, e com seu partido. Trata-se da GAP Comércio e Serviços Especiais, uma locadora de veículos próxima à família Garotinho. A sigla GAP reproduz as iniciais de seu dono, o empresário George Augusto Pereira. Documentos obtidos por ÉPOCA – reproduzidos abaixo – mostram que George Augusto não existe no mundo das pessoas de carne e osso. Num universo em que tantos escândalos trazem à tona laranjas, Garotinho inovou ao colocar em cena um fantasma. Como tantos garotinhos, o deputado do Rio de Janeiro tem um amigo invisível. A relação entre Garotinho e a GAP é antiga. Logo que tomou posse em 2011, ele alugou um carro da GAP, um Ford Fusion 2011, usando verba da Câmara. O automóvel estava destinado a seu uso pessoal em Brasília, durante o exercício da atividade parlamentar. Na mesma ÉPOCA, em junho de 2011, Wladimir Matheus, filho de Garotinho, destruiu contra um muro um Ford Fusion 2011, avaliado em R$ 80 mil. Era o mesmo carro alugado por Garotinho com dinheiro da Câmara? Segundo ele, não. Foi uma coincidência. Na ocasião, ÉPOCA procurou George Augusto por telefone. Em entrevista gravada, um homem que se apresentou como ele disse que emprestara o carro a Matheus e que nada cobraria do rapaz, por se tratar de “um amor de pessoa”. Afirmou ainda que o prejuízo com acidentes “fazia parte de seu negócio”. George Augusto parecia mesmo ser amigo da família, notadamente da prefeita Rosinha. A GAP tem um contrato milionário com a prefeitura de Campos para alugar ambulâncias ao município. Foto: Facebook Nos papéis da Junta Comercial, George Augusto Pereira detém 99,8% das ações da GAP, cujo nome reproduz suas iniciais. As provas de que ele não existe são abundantes. ÉPOCA obteve cópia da carteira de identidade usada por George Augusto Pereira. O documento contém uma falsificação grosseira. De acordo com o Instituto de Identificação Félix Pacheco, o número do RG e a data de expedição da carteira não são de uma pessoa chamada George. Eles correspondem a uma mulher paraibana, de 48 anos de idade, moradora de um bairro pobre de São Gonçalo, região metropolitana do Rio. Entrevistada por ÉPOCA, Josefa Gomes dos Santos Carvalho disse que não entende como outra pessoa pôde usar seu RG, pois nunca perdera o documento. George Augusto Pereira não tem RG – e esse não é o único papel que lhe falta. George tem caminhonetes de luxo e multas de trânsito, mas não carteira de habilitação. No último dia 6 de maio, ele completou 42 anos de idade, mas nunca tirou título de eleitor. Fotos: Reprodução A perícia de Molina confirmou a suspeita. “Como não existe ‘certeza’ em perícia (nem na ciência em geral), costumamos dizer que acima de qualquer dúvida razoável é a mesma voz”, afirma Molina. Antes de o Ministério Público começar a investigar a GAP, Trabach interpretava George na informalidade. Em outubro de 2011, uma estranha procuração foi registrada num cartório a uma quadra do Tribunal de Justiça, no centro do Rio. No documento, obtido por ÉPOCA, o George fictício passa plenos poderes ao Trabach de carne e osso. Na prática, era como se o dono da GAP mandasse seu procurador viver por ele. Trabach podia gerenciar os negócios, receber dinheiro, fazer compras, movimentar a conta bancária, assinar cheques, realizar depósitos, despedir empregados, vender bens, fazer escrituras de imóveis, estabelecer contratos e até representá-lo em qualquer processo na Justiça, mesmo numa eventual ação criminal. A procuração não deixava claro se Trabach também poderia falar em seu nome ao telefone. Foto: Facebook Um dos documentos fiscais nem sequer se referia à venda de combustível, mas apenas ao aluguel de uma frota de 170 veículos, um gasto não declarado à Justiça Eleitoral. O posto não aluga carros. A Procuradoria-Geral Eleitoral fará uma investigação nas contas de campanha de Peregrino, com base em indícios como esses. Amarrando as duas pontas – a de George à de Trabach –, surge mais uma amostra da ousadia do esquema. Em maio do ano passado, George vendeu a GAP por R$ 100 mil, parcelados em dez vezes. A felizarda compradora foi ninguém menos que a mãe de Trabach, uma senhora viúva de 69 anos de idade. Como tinha procuração do fantasma para movimentar os negócios, foi o próprio Trabach quem transferiu tudo para o nome da própria mãe. Procurado por meio de sua assessoria, Trabach informou que não comentaria o caso. Garotinho e a prefeitura de Campos não haviam se manifestado até o fechamento desta edição. Anteriormente, ambos negaram favorecimento à GAP. Fotos: Reprodução(2), Paulo Araújo/Ag. O Dia, Folhapress e Ag. O Dia (2) Leia ainda na ÉPOCA: - A marca do Zorro no Congresso, - Esquema que envolve Garotinho é enrolado como a trama de um filme policial |
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