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20 de set. de 2014

O Brasil em um labirinto - José Sarney

BRASIL - Opinião
O Brasil em um labirinto
"Em política há uma lei inexorável: o impossível sempre acontece. No Brasil, várias vezes a tragédia teve consequências drásticas, provocando grandes mudanças".Em artigo publicado no jornal espanhol El País, o senador José Sarney disse que o Brasil passa por um “tsunami político” que ameaça as chances do PT de continuar no poder, enfraquecendo inclusive o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo Sarney, Lula parece ter perdido “a aura da invencibilidade”.


Por incrível que pareça o articulista Sarney faz uma análise imparcial e interessante da situação atual do país, sem poupar os aliados.

Postado por Toinho de Passira
Texto de José Sarney
Fonte: El Pais

Basta lembrar as mais notórias: o suicídio de Getúlio Vargas, que, já praticamente deposto, com a bala no peito atinge os adversários; o derrame cerebral e a morte de Costa e Silva, que levam a um golpe dentro do golpe, desaguando numa Junta Militar e numa nova Constituição outorgada; a morte do Presidente Rodrigues Alves, eleito pela segunda vez, atingido pela gripe espanhola; Tancredo Neves, eleito para fazer a redemocratização, adoece no dia da posse e em seguida morre.

Agora estamos vivendo um momento destes. Sessenta dias antes da eleição, num desastre aéreo, desaparece o candidato a presidente Eduardo Campos. A comoção toma conta do país, mas não é ela a consequência maior. É a ressurreição de Marina Silva, que na eleição anterior obteve 20 milhões de votos. Impedida de concorrer por seu partido, não tendo conseguido registrá-lo na Justiça Eleitoral, fizera uma aliança com Campos — figurando em sua chapa como candidata a vice-presidente —, que, morto, lhe devolveu a oportunidade de participar, como protagonista, da corrida presidencial.

“Cambiaran las suertes”, como dizia um personagem de Rómulo Gallegos em Cantaclaro. O Brasil entrou num grande redemoinho político.

Marina Silva é uma figura carismática, mística, dogmática, preconceituosa e intransigente. Fundadora do PT, foi ministra de Lula e o rompimento com suas origens tem aspecto difuso, sem linhas precisas na separação.

Mas em torno dela se criou uma frente robusta de combate ao PT e ao governo Dilma, abrindo uma possibilidade antes considerada impossível: derrotá-los. As pesquisas estimulam essa hipótese.

Seus apoiadores são os mais ecléticos: os indignados que há pouco mais de um ano provocaram um barulho imenso no país; seus até recentemente frustrados seguidores; as fortes correntes e igrejas evangélicas que a têm como representante; as classes conservadoras, descontentes com as políticas econômica, externa, energética, agrícola, portuária e fundiária; na área política, alas descontentes do PT e o incalculável número de grupos dos partidos aliados queixosos do tratamento recebido da Presidente Dilma e da direção do PT.

A sensação dos aliados é que eles fizeram de tudo para massacrá-los nos estados, criando confrontações e arestas, e que agora há oportunidade para reagir. O PMDB, maior partido dessa aliança, que indicou o candidato a vice-presidente, está muito dividido e só não vota contra Dilma por causa do vínculo de sua participação na chapa; de uma figura de simples adereço, Michel Temer passou a ser decisivo para a vitória.

Por outro lado, um ciclo de pessimismo fez o país perder o sonho de potência emergente, com números que o mostram beirando a recessão, inflação e juros altos, e indicações negativas de agências de risco, além do desprestígio da diplomacia, ferida com o tratamento de “anão” por Israel, marcada pelo alinhamento com o chavismo bolivariano e por relações não muito amistosas com os Estados Unidos. A euforia foi embora.

Nunca esteve nos planos do PT perder as eleições. Ao contrário, cumpria com êxito seu objetivo de tornar-se um partido hegemônico, dominando a prefeitura de São Paulo, o que já ocorre, e almejando conquistar os governos dos maiores estados, São Paulo e Minas, e implantando políticas de controle social, conselhos populares e intervenção na mídia, como na Venezuela, no Equador e na Argentina.

O que acontece agora é um tsunami político. No momento, a energia inicial da onda já chegou ao fim. Os seus resultados já foram alcançados: levar a eleição para o 2º turno e, assim, provocar uma disputa acirrada, em que tudo pode acontecer. Maior partido de oposição, o PSDB, embora tenha excelente e talentoso candidato, ficou imprensado pela guerra entre as duas candidatas originárias da esquerda.

Para fugir da ameaça de derrota, pensaram alguns líderes do PT até mesmo em fazer Lula candidato. Mas o ex-presidente parece também ter sido atingido pelo maremoto e ter perdido a aura da invencibilidade, embora mantenha seu carisma e ainda seja a maior liderança política do país.

A Presidente Dilma, com seu forte caráter de chefia, já conquistou seu espaço como administradora e não é mulher de jogar a toalha ou aceitar humilhação.

Marina Silva é uma incógnita. A figura de hoje nada tem a ver com sua radical história de guerreira dos seringais. Senadora por dezesseis anos — em parte dos quais ocupou o Ministério do Meio Ambiente de Lula —, deixou uma marca de radicalismo, como fundamentalista, de capacidade limitada, preferindo sempre a confrontação ao diálogo, e buscando não o entendimento, mas a conversão. Sua formação é das Comunidades Eclesiais de Base, mas agora é evangélica ortodoxa, considerando que o mundo se reparte entre os destinados à salvação e os condenados à perdição.

As eleições serão a 5 de outubro. A campanha atingiu um alto grau de violência, com ataques rasteiros. O quadro é de pesquisas nervosas, esquizofrênicas, que indicam que tudo pode acontecer. As sondagens — e são muitas — sempre mostram uma vantagem de Dilma no 1º turno e a vitória de Marina no 2º turno, que exige maioria absoluta.

A palavra certa para a atual situação brasileira é perplexidade.

O Brasil perdeu o otimismo, há um alto aquecimento do censo crítico, desapareceu a sacralidade das políticas sociais. O Presidente Lula dá sinais de não desejar engajar-se num pacto de morte e se afasta de um duelo fatal.

O quadro é de um labirinto. Mistério e imprevisão.

8 de set. de 2014

Jornal espanhol “El Pais” diz que "o PT faz das eleições de 2014 um caminho para a volta de Lula em 2018"

BRASIL – Eleição 2014
Jornal espanhol “El Pais” diz que "o PT faz das eleições de 2014 um caminho para a volta de Lula em 2018"
A correspondente do jornal europeu, Carla Jiménez, comenta que quer Dilma ganhe ou perca, Lula é candidato à presidente em 2018

Foto: Ueslei Marcelino -Reuters

Lula e Dilma Rousseff, em foto de 12 de agosto.

Postado por Toinho de Passira
Texto de Carla Jiménez , de São Paulo, para El Pais
Fontes: El Pais

A militância do PT é formada por eleitores do partido, muitas vezes ligados a sindicatos de trabalhadores, que vestem literalmente a camisa. Sempre foram facilmente identificados pela camiseta vermelha e o boton em forma de estrela com o nome do PT.

Na noite de sexta-feira, em um encontro do PT estadual em São Paulo, esses evangelizadores do partido foram convocados para um encontro com as lideranças, incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A menos de um mês das eleições de 5 de outubro, a ideia do encontro era incentivar os militantes a ir às ruas para defender os candidatos da legenda, com material de campanha que o partido disponibiliza.

Quando o presidente do PT de São Paulo, Emídio de Souza, pegou o microfone para abrir o encontro, disse aos presentes que os panfletos, bandeiras e material em geral de campanha já estavam disponíveis, incluindo “as cédulas de Lula... quer dizer, de Dilma”, corrigiu-se Souza, para continuar falando que o “o caminho mais fácil do Lula voltar ao poder é a Dilma ser eleita”, explicou.

O ato, que acontecia ao mesmo tempo em que informações sobre a delação premiada do ex-diretor da Petrobras, José Roberto Costa, eram vazadas para a imprensa, tinha como foco principal fortalecer a candidatura de Alexandre Padilha a governador de São Paulo, que está em terceiro nas pesquisas eleitorais, com mirrados 7% das intenções de voto, segundo os institutos Datafolha e Ibope. Muito atrás do tucano Geraldo Alckmin e de Paulo Skaf (PMDB).

Mas serviu para sentir as angústias das lideranças petistas, que têm uma disputa acirrada pela frente, com uma candidata da situação que precisa saciar a sede de mudanças do eleitorado brasileiro. Segundo especialistas, o plano A para o PT seria reeleger a presidenta Dilma Rousseff agora, que por sua vez precisaria corrigir os erros deste primeiro mandato, de modo a reverter o desgaste do partido, principalmente com as derrapadas na economia.

O plano B, por sua vez, seria aguardar a vitória de Marina Silva para então o PT voltar a mostrar sua força já a partir de 2015, quando os problemas sociais começarem a aparecer num ano que será difícil para qualquer um dos presidenciáveis que assumir o Palácio do Planalto em janeiro.

Os movimentos sociais e sindicais poderiam ser mais enfáticos em suas cobranças no ano que vem, quando a economia ainda estará em marcha lenta. Diante de eventuais paralisações, o ex-presidente colocaria sua habilidade de negociação à prova. Seria uma oportunidade para que Lula retomasse seu papel de liderança. Assim, a legenda já estaria se mobilizando de olho nas eleições municipais de 2016, que serviriam de trampolim para 2018.

Essa seria, para alguns especialistas, a razão por que Lula preferiria não dar ênfase a ataques a Marina em suas aparições públicas. Durante o encontro em São Paulo, na sexta à noite, o ex-presidente disse aos presentes que “Marina é um caso à parte”. Com o microfone na mão, disse que estava destrinchando o programa [de governo] dela, “porque não terei divergência pessoal com Marina”. A estratégia de Lula é focar nas diferenças de conceitos adotados por cada um para os desafios nacionais que esperam o próximo presidente.

E a ordem do PT agora é mirar nas ideias já propagadas por Marina, como a independência do Banco Central, que deixaria a instituição livre, por exemplo, para subir juros quando a inflação sai do controle, sem levar em conta outras orientações do Executivo.

“É fácil contar a inflação com redução de empregos e salários” , disse ele, numa clara provocação sobre o programa econômico de Marina, que carrega nas tintas neoliberais.

O problema é que o governo de Rousseff também não soube calibrar a dose para lidar com esse eterno fantasma brasileiro. Ela foi duramente criticada por ter reduzido os juros entre outubro de 2011 e março de 2013, quando a taxa Selic passou de 11,5% para 7,25%.

Era uma boa intenção, que tinha o foco de baratear o custo para que os empresários tivessem acesso a dinheiro mais barato para investir, e os consumidores pudessem ter crédito mais barato para comprar.

Economistas viam ali um risco muito grande de a inflação voltar, ou persistir, diante de um consumo aquecido no período. A demora para elevar a taxa de juros se transformou num dos calcanhares de Aquiles de Rousseff, pois a inflação resiste até hoje no teto da meta estabelecida pelo BC – 6,5% ao ano.

Mesmo com a presidenta sinalizando mudanças num eventual segundo mandato, que incluiria a troca de ministros, não se sabe ao certo se a própria mandatária mudaria seu estilo, não esperando demais para tomar medidas, talvez antipopulares, mas que teriam efeitos no longo prazo.

Há, ainda, o desafio de retomar a confiança do empresariado para voltar a investir, e uma postura mais efetiva diante da Petrobras que se tornou alvo de ataques permanentes, diante de denúncias de corrupção e de dificuldades de cumprir suas metas.

Não por acaso, Lula e outros dirigentes do PT afirmaram que esta era a eleição mais difícil do partido desde a sua fundação, nos anos 80. De um lado está a missão de apoiar a reeleição de Rousseff para defender o legado de 12 anos do PT. De outro, contar com as mudanças necessárias para não desgastar o partido, frustrando as chances de Lula voltar em 2018.

13 de jan. de 2014

São Paulo: Apartheid no shopping?

BRASIL - Olhar estrangeiro
São Paulo: Apartheid no shopping?
Correspondente do jornal espanhol "El País" comenta os rolezinhos, movimentos de jovens convocados pelas redes sociais para se reunirem nos shoppings, sob o ponto de vista que a reação está gerando uma discriminação social, após a justiça de São Paulo permitir que seis centros comerciais façam triagem dos clientes para evitar os tais 'rolezinhos' de jovens da periferia

Foto: Wanderley Preite Sobrinho/iG São Paulo

Ao menos 11 jovens foram detidos e levados para delegacia neste sábado (11), após rolezinho no shopping Itaquera.

Postado por Toinho de Passira
Texto de María Martín
Fonte: El Pais

Seis shoppings do Estado de São Paulo conseguiram ontem o apoio da Justiça para bloquear suas portas automáticas para que policiais e seguranças privados identificassem a quem quisesse entrar. O alvo da discriminação: menores desacompanhados, de baixa renda. Esse é o perfil de quem está colocando em xeque vários centros comerciais do Estado com os chamados rolezinhos, encontros multitudinários de jovens, convocados pelas redes sociais que, mesmo sem intenção de delinquir, incomodam clientes e lojistas.

Não é a primeira vez que os shoppings reforçam a segurança e identificam quem não se encaixa no perfil do consumidor padrão, mas a liminar (decisão provisória) do juiz proibia e previa uma multa de 10.000 reais a quem participasse desse tipo de manifestação convocada ontem em quatro centros comerciais do Estado. No shopping JK Iguatemi, situado na cobiçada avenida Brigadeiro Faria Lima, os seguranças chegaram a barrar a entrada de funcionários, jovens que não tinham cara de compradores de um dos shoppings mais caros da cidade.

A convocatória do rolê, com 2.500 pessoas confirmadas no Facebook, se diluiu mesmo antes de começar –a foto da liminar colada na entrada do shopping se espalhou pelas redes sociais antes do evento-, mas houve confronto entre jovens e policiais no centro comercial Metrô Itaquera, onde foi registrado em 7 de dezembro o primeiro episódio do fenômeno, com cerca de 6.000 participantes. A polícia, que estimou que ontem se reuniram cerca de 1.000 adolescentes, agiu com violência para dispersar a multidão. Clientes do estabelecimento registraram dois boletins de ocorrência por roubo e tumulto. Três adolescentes foram presos, mas dois deles já foram liberados, segundo a polícia.

As convocações desses jovens, público visto com desconfiança pelas famílias brancas de classe média-alta que preferem passar a tarde nestes estabelecimentos blindados por seguranças ao lazer na rua, tem marcado o Natal em São Paulo. O rolê de 15 de dezembro no shopping de Guarulhos acabou com 23 presos, que foram liberados pouco depois. Não foram acusados de portar drogas nem de roubo. Houve outras convocatórias como a de 4 de janeiro no Shopping Metrô Tucuruvi, na zona norte, onde a participação de cerca de 400 jovens, segundo a PM, levou aos lojistas a fechar suas portas três horas mais cedo, mesmo sem sinal de tumulto.

O fenômeno dos rolezinhos, com características similares aos chamados flash mobs (concentrações espontâneas de pessoas convocadas pelas redes sociais em um determinado espaço para realizar uma mesma ação) tem, como tantos outros na pauta do país, dividido a sociedade brasileira. Houve quem associasse a liminar dos shoppings ao apartheid. Esses são os que defendem que esses adolescentes da periferia, na maioria negros que beiram o salário mínimo (724 reais), estão colocando o foco na desigualdade entre classes, na opressão, incomodando os mais ricos que procuram nos shoppings consumir com segurança longe da realidade dos moleques. Do outro lado desse debate, estão os que os chamam de vândalos, defensores do espaço privado, ameaçados por um movimento sem lemas e sem objetivos claros que não entendem, e que acreditam que toda essa energia e capacidade de convocação podem ser investidos em outras áreas: desde participar de protestos mais articulados, como os de junho passado, até a procurar empregos.
*Alteramos títtulo, acrescentamos subtítulo, foto e legenda à publicação original

22 de mai. de 2013

Para Kasparov, opositor de Putin, em dois ou três anos, acontecerá uma enorme explosão social na Rússia

RUSSIA
Para Kasparov, opositor de Putin, em dois ou três anos, acontecerá uma enorme explosão social na Rússia
Oposicionista ferrenho de Vladimir Putin, o xadrezista Kasparov, chama o presidente russo de ditador, diz que ele protege e alia-se aos demais ditadores do mundo, inclusive com o regime Sírio de Assad e do chavismo venezuelano, tudo é uma questão de dinheiro e poder.

Foto: Susana Sáez/El Pais

O dissidente russo, Gary Kasparov

Postado por Toinho de Passira
Baseado numa reportagem de Antonio Caño, para o jornal “El Pais” e na tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves , para o UOL
Fontes: El Pais, Uol

Gary Kasparov, provavelmente o melhor enxadrista da história, é hoje o rosto internacionalmente mais conhecido da oposição a Vladimir Putin, o que também o transforma em uma das figuras menos vulneráveis entre os rivais do presidente russo. Outros, no passado, acabaram na prisão ou fora do país. Atualmente, o movimento de contestação a Putin precisa de outra voz de semelhante relevância.

Antes que os outros percebessem o ritmo dos acontecimentos na Rússia pós-soviética, Kasparov, inspirado no exemplo de antigos e célebres dissidentes do comunismo, alertou que seu país se precipitava para a ditadura. Isso o transformou em um personagem detestado no Kremlin, mas ao mesmo tempo incômodo em Washington e em outras capitais nas quais se busca uma acomodação com o governo de um país do tamanho e com a história da Rússia.

Seu principal âmbito de atuação é o dos direitos humanos, sobre o qual, esta semana, fez uma nova e enérgica denúncia no Fórum da Liberdade em Oslo, de que é um dos fundadores. Em uma conversa com "El País", Kasparov insiste no perigo que Putin representa para a Rússia e o resto do mundo.

Falando ao jornal espanhol El Pais, ele alerta que “a Rússia está concluindo o processo de transformação de uma ditadura de partido único em uma ditadura de um só homem” - diz ele.

Segundo ele, apesar dessa ser uma má noticia, também pode ser considerada boa ao mesmo tempo, porque é uma agonia, o regime é menos flexível, tem menos capacidade de manobra, está entrando em sua fase final, “que creio que não durará muito”.

Foto: Misha Japaridze/ Associated Press

Protestos em Moscou no começo desse ano, milhares de pessoas nas ruas, nos cartazes, palavras como “escória” e “vergonha”, adjetivam o líder soviético

Para Kasparov em dois ou três anos acontecerá explosão social maciça, mas a um custo muito alto para o país, porque Putin não sairá por ser impopular ou por perder as eleições. Putin conservará o poder até o amargo final. Para ele, a a Rússia passou da fase em que pode haver uma transição pacífica do poder.

Destaca que as leis e a constituição russa, está condicionada e sempre é mudada de acordo com a vontade de Putin, permanecer no poder.

“Seu governo já é ilegítimo porque está em seu quarto mandato de fato [conta os quatro anos de presidência de Dmitri Medvedev], embora tecnicamente seja o terceiro, e já demonstrou que a Constituição para ele é um pedaço de papel que pode utilizar à vontade” – comentou,

Segundo ele a Rússia, o povo russo, perdeu uma grande oportunidade de frear Putin nos anos 1990 de mudar as coisas de verdade.

Quanto ao regime de Putin, é muito difícil porque Putin teve muita sorte, e as pessoas mais velhas na Rússia o consideram uma melhora em relação aos tumultuados e perigosos anos 90.

Para Kasparov a Primavera Russa, os protestos de dois anos atrás, teve resultado positivo, “entre outras coisas porque demonstrou que o regime não se importa com a opinião dos cidadãos e demonstrou a natureza ilegítima do governo Putin.

”Não se pode dizer que as pessoas que protestavam desapareceram. Essa gente continua aí. Até dezembro de 2011 não se conseguia reunir mais de quatro mil pessoas nos protestos, hoje se reúnem no mínimo 25 mil. E nos momentos culminantes vimos mais de 150 mil pessoas na rua. Não é suficiente, mas o protesto está aí e o objetivo é conseguir manifestações realmente maciças nas ruas”, – observou.

Para ele só os protestos conseguirão derrubar o regime. Putin não vai entregar o poder mediante um processo constitucional pacífico.

Ele porém se escusa a aparecer como uma opção política após uma queda de Putin, diz que esse não é o momento para alguém fazer planos pessoais. “Eu faço o que posso para derrubar o regime. Uma vez que meu país esteja livre, poderei considerar diferentes opções. Mas já tive glória suficiente em minha vida, por isso não tenho grandes expectativas pessoalmente. O importante para a Rússia, e certamente para o mundo, é derrubar Putin.

Foto: Alexander Zemlianichenko/Associated Press

Senhora com um guarda-chuva branco, símbolo do protesto, passa ao lado de policiais durante manifestação em massa da oposição de Moscou, ano passado

Denuncia que o presidente russo tem ligações econômicas e de apoio com todas as ditaduras do planeta, como um clube de apoios recíprocos.

”Todos os ditadores na face da Terra têm laços estreitos, seja Putin, o governo chavista, o Irã, Coreia do Norte, Síria... têm contatos. Fazem negócios juntos, mas, mais importante que isso, apoiam uns aos outros porque não querem mudanças e têm medo do efeito dominó. Temem que, se um cair, todos os demais cairão” - observa.

Explica que Putin não pretende reconstruir o império soviético, pois sua atuação não é ideológica, é uma questão de máfia, visando apenas o dinheiro e o poder.

Especifica o caso da relação de Putin com o governo da Venezuela, dizendo que não é uma questão econômica, pois a A Venezuela tem dinheiro. “Eu creio que estão mais se protegendo um ao outro porque, se Putin cair, o governo chavista perderia um aliado fundamental no exterior. E, se o governo chavista cair, muito provavelmente todos os demais governos da América Latina que o seguem enfrentariam seguramente grandes problemas”, explicou.

Para ele Putin, por exemplo, vai apoiar o governo Sírio de Assad até o final porque teme que se Assad cair muitos russos vão interpretar que Putin também pode cair. Essa é a grande irmandade dos ditadores, que se protegem até o final.

Foto: AFP

Na hora da verdade, Putin não vai oferecer nenhuma solução viável no Oriente Médio porque seus interesses são completamente diferentes.

Kasparov respondendo a uma indagação do jornalista do El País diz que as negociações atuais com os EUA sobre a Síria são uma mera situação mascarada. “Os EUA são uma superpotência e Putin precisa acalmar a ansiedade da burocracia Rússia, que pode temer que seus interesses não estejam bem defendidos nos EUA e na Europa. Putin tenta negociar com os EUA para conter os efeitos do caso Magnistky [o advogado russo cuja morte na prisão provocou como represália uma lei de sanções dos EUA contra funcionários públicos russos]. Esse é seu único objetivo. Não compartilham os mesmos interesses.

“Na hora da verdade, Putin não vai oferecer nenhuma solução viável no Oriente Médio porque seus interesses são completamente diferentes. Nós queremos que os preços do petróleo baixem para aliviar a economia mundial; ele quer que subam para que ele, os chavistas e os mulás se mantenham no poder”, diz.

O jornalista pergunta se está equivocada a política de diálogo do governo de Barack Obama?

Ele responde: “Não sei. Creio que se trata de um velho problema. Há 75 anos o mundo tentava apaziguar Hitler, e hoje se tenta a mesma política de apaziguamento com Putin. Não podemos negociar com ditadores; não funcionou há 75 anos e não vai funcionar agora”.- conclui


19 de nov. de 2012

Dilma fala do julgamento do mensalão
dizendo respeitar decisão do STF, mas...

BRASIL - Mensalão
Dilma fala do julgamento do mensalão
dizendo respeitar decisão do STF, mas...
A presidente Dilma Rousseff, em entrevista ao jornal espanhol “El Pais” diz que "acata" as sentenças do Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão, mas considerou que isto não significa "que nada neste mundo de Deus esteja acima dos erros e das paixões humanas".

Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Dilma: misturando corrupção, mensalão e paixão.

Postado por Toinho de Passira
Fontes: El Pais, Folha de S. Paulo, Veja, Estadão, Reuters, Blog do Josias de Souza

A presidente Dilma Rousseff disse em entrevista ao jornal espanhol "El País", publicada neste domingo (18), que "acata" as sentenças do STF (Supremo Tribunal Federal) no julgamento do mensalão, mas ponderou que ninguém está "acima dos erros".

"Sou radicalmente a favor de combater a corrupção, não só por uma questão ética, senão por um critério político... Há diversos procedimentos jurídicos neste terreno e, como presidente da República, não posso me manifestar sobre as decisões do Supremo Tribunal Federal. Acato suas sentenças, não as discuto. O que não significa que nada neste mundo de Deus está acima dos erros e das paixões humanas", disse Dilma na entrevista, nas primeiras declarações sobre o julgamento desde a condenações dos petistas.

Essa foi a primeira declaração de Dilma sobre o mensalão após a condenação dos petistas José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares pelo STF.

Apesar de publicada ontem, a entrevista foi realizada na última segunda-feira (12), dia em que o Supremo estabeleceu para o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu penas que, somadas, chegam a dez anos e dez meses de prisão. Dirceu foi condenado no julgamento do mensalão pelos crimes de formação de quadrilha e corrupção ativa.

No seu Blog o jornalista Josias de Souza Josias de Souza rebela-se com essa conversa de paixão e mensalão, colocada por Dilma na entrevista.
“No instante em que parecia escolher um lado para lutar, Dilma agachou-se atrás da dubiedade. Não discute as sentenças do STF, mas isso “não significa que ninguém neste mundo de Deus esteja acima dos erros e das paixões humanas.”

”O que Dilma disse, com outras palavras, foi o seguinte: como presidente, não fica bem discutir as deliberações do Supremo. Como petista, flerta com o lero-lero do PT, que acusa a Suprema Corte de julgar politicamente e condenar sem provas”.
A presidente está na Espanha, onde participou da XXII Cúpula Ibero-Americana no fim de semana, quando voltou a criticar o excesso de austeridade como receita para os países em dificuldades financeiras se recuperarem. Ela reúne-se nesta segunda-feira com o presidente espanhol, Mariano Rajoy, e o rei Juan Carlos, em Madri, e embarca de volta ao Brasil no fim da tarde.

11 de out. de 2012

Condenação do ministro de Lula repercute no mundo

BRASIL – Julgamento Mensalão
Condenação do ministro de Lula repercute no mundo
Aliando sempre a figura de Dirceu a Lula, vários jornais do mundo noticiaram a condenação dos altos nomes petistas no "Watergate" do Brasil, como afirmou o The New York Times

Detalhe da pagina do site do The New York Times

Postado por Toinho de Passira
Fontes: Exame, The New York Times, Le Monde, El Pais, Al Jazerra, El Clarin

A condenação de José Dirceu pelo Supremo Tribunal Federal (STF) não é notícia apenas no Brasil. O mundo também está sendo informado. Desde que o supremo bateu o martelo, considerando culpado o núcleo político do mensalão, veículos de grande repercussão internacional noticiaram o julgamento no Brasil, equivalente em importância ao escândalo "Watergate" nos Estados Unidos, de acordo com o The New York Times.

O que une as matérias é a citação ao onipresente ex-presidente Lula. Dirceu é sempre apresentado como um dos homens mais próximos ao ex-mandatário .

Com o título "caso de corrupção brasileiro traz esperança para o judiciário", o NYT, um dos mais influentes jornais do mundo, comparou o mensalão a Watergate em "importância e escopo". Foi este escândalo que terminou com a renúncia do então presidente Richard Nixon, em 1974.

O cenário traçado pela reportagem, do New York Times, é de que nem os desesperançados brasileiros, acostumados à corrupção, acreditavam que veriam a condenação de políticos importantes.

O periódico, porém, não esquece de fazer uma provocação ao sistema judicial brasileiro.

"Os juízes são muito bem pagos e têm grande margem de manobra para exercer influência - como ordenando a prisão, em setembro, do alto executivo do Google no Brasil por causa de um vídeo politicamente controverso - mas acabar com a corrupção e punir figuras políticas poderosas não tem estado, em geral, entre suas prioridades", afirma uma parte do texto.

A popularidade do relator do processo, ministro Joaquim Barbosa é ressaltada, assim como fez o britânico Financial Times há duas semanas.

A matéria, embora otimista, termina com um choque de realidade a partir da declaração de um acadêmico de Washington. "É promissor ver a Corte comandar o mensalão, mas este julgamento é a exceção que confirma a regra (de que o judiciário não dá conta de combater a corrupção no país)".

Detalhe do site do Le Monde

O periódico francês, Le Monde, destaca em seu site que a Suprema Corte condenou "três dos homens mais próximos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva". E afirma que, apesar da grande cobertura midiática, o PT não parece ter sofrido perdas nas eleições municipais do último domingo. Espanha

O jornal espanhol, El País, enfatizou o que já se diz no Brasil há algumas semanas: não há mais como defender a tese de que o mensalão não existiu. E mostra que a condenação "mais difícil foi a de Dirceu, porque as provas contra ele não eram tão óbvias quanto as dos outros envolvidos".

A matéria ressalta o que tem sido apontado por aqui como maturidade institucional da justiça: "dos 11 juízes, oito foram nomeados por Lula e a presidente Dilma Rousseff", lembra a reportagem. - BBC (Reino Unido)

A BBC reesalta que Dirceu, Genoino e Delúbio enfrentam uma pena potencial "entre 2 e 12 anos de prisão". E lembra que Lula não foi diretamente envolvido no caso. Negando conhecimento do esquema, ele "permanece uma figura muito popular na vida política brasileira".

O The Washington Post dos Estados Unidos publicou notícia da agência Reuters, assim como o Financial Times, o jornal argentino El Clarin, como o árabe Al Jazeera. O texto lembra que se condenou ontem o homem que "já foi considerado o mais forte competidor para suceder Lula" na presidência.

Detalhe dos sites do El Clarin, El Pais, Aljazeera