17 de ago. de 2009

Salve! Dom Saburido, o novo Arcebispo de Olinda e Recife

Salve! Dom Saburido, o novo Arcebispo de Olinda e Recife
Dom Fernando Saburido assumiu a Arquidiocese de Olinda e Recife, no domingo 16, na Igreja da Madre de Deus. Em entrevista bateu nos líderes de Igrejas tipo Universal que “constrói fortuna às custas da fé do povo”

Foto: Guga Matos/JC Imagem

Os católicos recifenses receberam dom Saburido, o novo Bispo, como um libertador das garras do raivoso Cardoso Sobrinho

Texto base de Vanessa Beltrão
Fontes: Jornal do Comercio On Line, Diário de Pernambuco, pe360graus, O Globo

A era dom José Cardoso Sobrinho terminou oficialmente às 17h15 de ontem quando ele entregou o bastão de arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife ao seu sucessor, dom Antônio Fernando Saburido, na Igreja da Madre de Deus, Bairro do Recife.

Num gesto simbólico, o novo arcebispo depositou um beijo no bastão de prata e, com o repique dos sinos, o ergueu em direção ao público, formado por cerca de 750 convidados que acompanharam a cerimônia de posse. Pela manhã, em entrevista a jornalistas, dom Fernando criticou a comercialização da fé e avisou que a arquidiocese estará aberta a todos.

Dom Fernando, beneditino, chegou à Igreja da Madre de Deus às 16h30, num Lincoln, carro aberto de modelo antigo, acompanhado do abade do Mosteiro de São Bento, dom Felipe Silva. Uma multidão aguardava sua chegada desde as primeiras horas da tarde. A recepção calorosa que recebeu traduz a alegria e a expectativa dos fiéis com os novos tempos que se iniciam agora.

Foto: Alexandro Auler/JC Imagem

Aplaudido e ovacionado pelo povo, o religioso retribuiu o carinho com simpatia. Ficou de pé no carro, acenou para o rebanho e apertou a mão de homens e mulheres no curto trajeto até a porta da igreja, onde o aguardavam o núncio apostólico, dom Lorenzo Baldicere (representante do papa no Brasil), o arcebispo emérito de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, bispos, padres, freiras e autoridades governamentais. Entrou ao som do hino religioso “Vós sois meu pastor, ó Senhor, nada me faltará, se me conduzis”.

No caminho até o altar-mor, em meio aos cumprimentos, abraçou o padre da Igreja de Casa Forte, José Edwaldo Gomes, punido por dom José Cardoso por ter concelebrado missa ecumênica quando comemorou 50 anos de ordenação sacerdotal, em dezembro 2006. A transmissão de cargo começou com a despedida de dom José. “Este é um momento de emoção, histórico”, declarou.

Foto: Alexandro Auler/JC Imagem

Antes de receber o bastão – báculo de dom Vital, que esteve à frente da Arquidiocese de Olinda e Recife no século 19 e morreu em 1878 – dom Fernando ouviu a leitura da bula papal (em latim e em português), documento de nomeação escrito e assinado pelo papa Bento XVI. O núncio apostólico definiu o cajado com o qual o bispo vai governar a Igreja como “o símbolo do pastor que cuida do rebanho”.

Foto: Alexandro Auler/JC Imagem

Dom Lorenzo e dom José passaram o báculo às mãos de dom Fernando, o 8º arcebispo de Olinda e Recife. O núncio agradeceu a dom José pelo trabalho realizado nos últimos 24 anos.

Referiu-se a dom Fernando como “o bom pastor que conhece seu rebanho”, por sua origem pernambucana e pelos cargos que exerceu – vigário-geral e bispo auxiliar de dom José. Sentado na cátedra, o novo arcebispo foi saudado por bispos das Regionais Nordeste I e II da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

O arcebispo de Fortaleza, dom José Antônio Aparecido Tosi Marques, falando pela Regional Nordeste I, (dom Fernando era bispo de Sobral), desejou um “pastoreio abençoado, fecundo e feliz”. Dom Antônio Luiz Fernandes, arcebispo de Maceió, representou a Nordeste II e lembrou que há cem anos, nesta mesma diocese, foi ordenado o Padre Ibiapina (1806-1883), cearense de Sobral que a regional “acalenta o sonho de colocá-lo no altar”.

O governador do Ceará, Cid Gomes, disse que sentia alegria, orgulho e privilégio por ter conhecido dom Fernando. Eduardo Campos, governador de Pernambuco, recebeu aplausos ao destacar a convivência do novo arcebispo com dois cearenses ilustres: dom Helder Câmara, arcebispo emérito de Olinda e Recife, e Miguel Arraes de Alencar, ex-prefeito e ex-governador de Pernambuco. Para o prefeito do Recife, João da Costa, “a Igreja tem um peso grande na cultura da cidade. Pela sua trajetória e compromisso, dom Fernando vai contribuir para construção de um diálogo permanente de paz e solidariedade”.

Foto: Alexandro Auler/JC Imagem

Saburido, o bispo pop star, aclamado por seu rebanho

Após a cerimônia, às 18h10, segurando o cajado, dom Fernando conduziu padres e bispos numa procissão da Igreja da Madre de Deus até a Praça do Marco Zero, onde celebrou a primeira missa como arcebispo de Olinda e Recife. A Polícia Militar estimou o público em dez mil pessoas. Para esse rebanho, dom Fernando disse que era um privilegiado, por ter sido ordenado por dom Helder, a quem chamou de grande profeta, que caminhava além do seu tempo.

Dom Fernando lembrou sua ordenação como bispo, feita por dom José Cardoso, presente à missa, e confirmou sua preferência pelos pobres. “Sei que a expectativa é grande em torno do novo arcebispo. Usarei prudência e paciência para jamais ceder às tentações do imediatismo.” Ele prometeu construir seu plano de ação pastoral com participação e baseado em três alicerces: experiências passadas, desafios e prioridades. “Isso não se faz da noite para o dia.”

Foto: Alexandro Auler/JC Imagem

Em entrevista coletiva concedida na manhã da posse (16), no Mosteiro de São Bento, em Olinda, o novo arcebispo de Olinda e Recife, Dom Antônio Fernando Saburido já havia dado amostras de uma postura mais amena em relação a temas nem sempre bem-vindos às autoridades religiosas.

Adiantou que homossexuais não serão discriminados, embora a comunhão continue condicionada ao abandono dessa orientação.

Ele também comentou favoravelmente sobre a Renovação Carismática, movimento adotado por alguns padres em que as celebrações saem um pouco do tradicional e defendeu um tempo mais longo para as igrejas permanecerem abertas.

E por falar em abertura, Saburido prometeu estar mais próximos dos fiéis no Palácio dos Manguinhos, em Casa Forte. Ele estará na Cúria todas as manhãs para atender quem precisa.

A importância do Arcebispo de Olinda e Recife
Parece estranha que a mudança de um bispo faça tanto sucesso num domingo de Recife? Por aqui é assim mesmo

Foto: Alexandro Auler/JC Imagem

O boneco gigante de Dom Helder compareceu a posse de Dom Saburido, usado muitas vezes para incomodar Dom Cardoso

Quem não conhece o jeito de ser dos pernambucanos há de estranhar tanta importância, afluência e destaque na posse de um novo Bispo. Acontece que o cargo de Arcebispo de Olinda e Recife, sempre foi uma figura de destaque além do caráter meramente religioso, sendo influente na política e na história do Estado, desde tempos imemoriais.

Dom Helder Câmara, que já era conhecido nacionalmente quando assumiu o cargo, deu uma dimensão ainda maior ao posto religioso, como figura internacionalmente conhecida por resistir aos governos militares de forma firme e pacífica.

Foto: Alexandro Auler/JC Imagem

Para realçar tudo isso, a figura do sucessor de Don Helder, dom Fernando Cardoso Sobrinho, (foto) intolerante, mal humorado, sorumbático e polêmico era o oposto de tudo que representava o seu antecessor.

A igreja pôs no seu lugar, agora, Dom Saburido, que tem um perfil, muito mais Dom Helder e muito longe de Cardoso, por isso, virou pop star, mesmo antes de assumir.



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