A oposição, com seis votos - cinco de DEM/PSDB e um do PDT (Jefferson Praia) - precisava de pelo menos oito votos dos 15 membros do colegiado para reabrir as investigações. Contava com ao menos dois votos do PT, mas o partido, pressionado pelo Planalto, foi decisivo para enterrar as investigações, com os votos de Delcídio Amaral (MS), Ideli Salvati (SC) e João Pedro (PT-AM). Coube a este último ler a nota divulgada pelo presidente do partido, Ricardo Berzoini , que orientou a bancada no Senado a votar pelo arquivamento das ações. Ele argumenta que é uma forma de "repelir" a tática da oposição "que deseja estabelecer um ambiente de conflito e confusão política".
Candidatos em 2010, Delcídio e Ideli preferiam ser substituídos no colegiado, mas o líder Aloizio Mercadante (SP) se recusou a fazer a troca. A decisão do Conselho de Ética aumentou a crise na bancada.
Mercadante recusou-se a ler a nota de Berzoini. O gesto irritou os senadores do partido que integram o colegiado, já que todos temem o impacto negativo do posicionamento do partido nas eleições de 2010.
Sarney é considerado um aliado estratégico pelo Planalto. Além de influenciar a votação de projetos de interesse do governo no Legislativo, o presidente do Senado é visto como importante peça para o fortalecimento da candidatura à Presidência da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).
Foto:Agência Senado

A postura do PT, que ajudou a enterrar as investigações contra Sarney, foi criticada até por membros do partido. O senador Flávio Arns (PR) (foto) disse que vai deixar o partido e que "o PT rasgou a página fundamental de sua constituição, que é a ética" e que a ética foi "jogada no lixo", principalmente, segundo ele, após a nota de Berzoini. Arns também cobrou dos senadores petistas que votaram pelo arquivamento a postura firmada em documento por escrito que pedia o afastamento de Sarney. A decisão ocorre no mesmo dia em que a senadora Marina Silva (AC) anunciou que deixa o PT após 30 anos de militância e estuda convite do PV.
Foto: José Cruz/ABr
O senador Pedro Simon (PMDB-RS) foi outro a lamentar a decisão do plenário
- Se o Conselho de Ética do Senado não leva isso a sério, quem vai levar? O exemplo que estamos dando é muito triste - disse.
Simon atribuiu à interferência do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva a condução da votação no Conselho de Ética. Em sua avaliação, o colegiado estava humilhado.
Nery e o senador Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE) também criticaram duramente a decisão final.
- O Conselho de Ética nesta tarde assinou o fim da ética no Senado. Com isso, tirou a esperança de milhares de brasileiros, que esperavam a abertura de processo contra Sarney - enfatizou Nery.
- Hoje, foi enterrado o Senado. Um enterro de quinta categoria - acrescentou o senador Jarbas.
No início da sessão, os parlamentares aprovaram requerimento do senador Wellington Salgado (PMDB-MG) para votar as denúncias e representações contra Sarney em blocos. O placar dos dois blocos foi o mesmo: 9 a 6.
O líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), disse entender que não cabe recurso. Segundo Jucá, o Senado precisa "virar essa página" e retomar as votações de projetos importantes.
Foto: Givaldo Barbosa/O Globo

Jovens estudantes protestavam na frente do Senado
- Acaba-se uma etapa aqui, não pode se olhar o tempo todo para trás. Pelo regimento do Conselho de Ética não cabe recurso para o plenário. Entendo que, se fizerem isso, a Mesa do Senado não dará guarida. É preciso haver a recuperação e, se possível, a ressurreição do Senado - afirmou.
O conselho rejeitou ainda, por unanimidade, o recurso do PMDB contra o engavetamento da representação contra o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM).
O tucano era acusado de manter o salário de um funcionário que estudava no exterior e receber do Senado mais do que o permitido para custear o tratamento de saúde de sua mãe.
Virgílio negou todas as denúncias e disse que devolveu o dinheiro que devia.
-O PMDB considera-se suficientemente esclarecido e acompanhará o despacho pelo arquivamento - disse o líder do partido, Renan Calheiros (AL), que havia protocolado a representação como forma de retaliar os adversários de Sarney.
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