6 de ago. de 2009

As entrelinhas de Sarney

As entrelinhas de Sarney
“Assim, agora, as acusações que me foram feitas nas diversas representações apresentadas ao Conselho de Ética, nenhuma coisa se refere relacionada com dinheiro ou prática de atos ilícitos ou desvio de dinheiro público” – disse José Sarney mentindo.

Fotomontagem Toinho de Passira sobre foto de Marcello Casal Jr/ABr

Fontes: O Globo, Blog do Noblat, Lúcia Hippolito ,

O discurso oficial que José Sarney pronunciou ontem no Senado, preparativo do arquivamento das representações de falta de decoro parlamentar que contra ele tramitava na Comissão de Ética pode ser lido na íntegra aqui.

É uma peça de impressionante cinismo e falta de decoro humano. Uma inversão de valores e lógica política. A cientista política Lúcia Hipólito diz que Sarney parecia assustado e perplexo de ter que se defender de coisas que sempre fez impunemente durante tantos anos.

Quando Sarney diz que não fez nada demais, que nunca quebrou o padrão da honra e da apropriação do dinheiro público, ele pensa que está falando a verdade, pois de tanto fazer, de tanto avançar sobre o público como se privado fosse, confundiu-se internamente com o próprio Estado.

Nas entrelinhas dizia:

Que tempos são esses? Como uma presidente do Senado Federal, aliado de Renan Calheiros e Fernando Collor de Melo, com 50 anos de vida pública, tem que explicar essas bobagens de empregar parentes, desviar um dinheirinho para compor a fortuna familiar, coisa que sempre fiz durante todo esse tempo impunemente.

O que estão estranhando? Será que como Presidente do Senado não pode empregar seus parentes, no Senado? Inclusive posso esclarecer que os genros, as noras secretas e os filhos secretos do meu filho, não são parentes?

Só faltam querer que meus familiares e protegidos, por mim nomeados, tenham que trabalhar como um assalariado qualquer.

Mesmo como integrante da base de apoio ao governo estou proibido de desviar uma verbinha da Petrobras para minha fundação e para o bolso da família?

Minha filha governadora não pode ter um mordomo pago pelo Senado?

Confesso que estou muito aborrecido com meu amigo Agaciel Maia pela democratização dos atos secretos, criados apenas para empregar meus parentes mais próximos, longe dos olhos do povo e usado sem que eu soubesse, para acomodar parentes de outros senadores, dá gratificações, criar chefias e promover gente que nada tinham a ver com os Sarneys. Um abuso.

Estão insinuando que não são corretas as contratações dos nossos parentes pelos senadores, do meu curral, como Epitácio Cafeteira e Edison Lobão. Fui eu quem os elegeu exatamente para isso. Que serventia eles teriam senão a de realizar essas pequeninas e nojentas coisas e assumir que fizeram sem meu conhecimento e sem minha expressa autorização?

Estou dando essas satisfações por que sou e sempre fui um democrata de mão cheia, principalmente de recurso público, em nenhum momento quebrei o meu padrão “ético” particular.

Não vamos tolera mais abusos da imprensa. Usaremos quantos desembargadores, quantos ministros do supremo forem necessários para calar todos que queiram nos investigar. Como viram ontem, não vamos mais tolerar abusos, também de senadores: Renan e Collor vão pegar todos aqueles que quiserem me incomodar com um monte de dossiê cuidadosamente organizado por valorosos homens como Weligton Salgado e Almeida Lima.

Jamais vamos nos licenciar, renunciar ou sair dessa cadeira. Vamos utilizar o quanto for necessário para enxotar qualquer sinal de rebeldia, usaremos suplentes dos suplentes, faremos insinuações, chantagearemos, ameaçaremos e lançaremos olhares colloridos em todos aqueles que ousem tentar atrapalhar os nossos planos.

E nada mais disse nem precisava dizer.

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

ASSEMBLÉIA DE RATOS: Duro é ver Fernando Collor, Renan Calheiros e Romero Jucá se divertindo enquanto Sarney falava no Senado, confiantes que os planos elaborados nos labirintos do Senado vão lhe aumentar o poder e garantir a impunidade geral dos integrantes da quadrilha.


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