14 de set. de 2013

O dedão do meio da mão, do principal adversário de Angela Merkel, pode definir a eleição alemã

ALEMANHA – Eleições 2013
O dedão do meio da mão, do principal adversário
de Angela Merkel, pode definir a eleição alemã
O rival de Angela Merkel, o social democrata Peer Steinbrück, até esta sexta-feira, ameaçava de perto a liderança da atual chanceler, nas eleições do próximo dia 22, mas de repente um gesto, publicado numa revista de grande circulação pode ter mudado a história e facilitado a vida candidata do União Democrata-Cristã (CDU)


Edição de sexta-feira do "Süddeutsche Zeitung Magazin" , com a polêmica foto de Steinbrück, o candidato a chanceler, exibindo o dedão, que pode mudar a história da eleição

Postado por Toinho de Passira
Fontes: Liberátion, Publico, Spiegel, Süddeutsche Zeitung Magazin, G1, Deutsche Well, Die Welt, Euronews

No próximo dia 22, os alemães vão eleger a composição do Bundestag, o parlamento nacional. Os eleitores terão de escolher um representante do seu domicílio eleitoral e votar num dos partidos, o que for o mais votado, elegerá o novo Chanceler. Com esses dois votos, os alemães decidirão que tipo de Governo que vai tomar conta da Alemanha nos próximos 4 anos. Um governo que, ao que tudo o indica, será uma vez mais condicionado, após a eleição, a coligações entre o mais votado e partidos menores, que reunidos lhe proporcione a maioria parlamentar necessária.

Será que União Democrática Cristã, de Merkel, irá garantir um terceiro mandato ou os sinos de mudança vão soar no Bundestag?

A campanha eleitoral foi dominada pela crise europeia, pelo nível mínimo dos salários no país, pela política trabalhista, pela guerra na Síria e possíveis intervenções e pelo escândalo internacional de espionagem da NSA, a agência de segurança dos Estados Unidos.

Mais todas essas grandes questões, de repente podem ter ficado para trás, por causa de um dedo.

Se um gesto pode decidir uma eleição, ainda não se sabe, diz a manchete do jornal conservador conservador Die Welt em seu site. Mas ele tem, sim, capacidade de agitar uma campanha até então marcada pelo marasmo, e de dar-lhe novo viço, a nove dias da ida às urnas.

Nesta sexta-feira (13/09), o principal adversário da chanceler federal Angela Merkel nas eleições legislativas, Peer Steinbrück, do Partido Social Democrata (SPD), causou alvoroço ao aparecer com o dedo médio em riste na capa da revista de um dos jornais de maior tiragem do país, o Süddeutsche Zeitung.

A foto é parte de uma seção da revista em que o entrevistado responde apenas com gestos. O dedo erguido foi a resposta do candidato à pergunta sobre se ele se importava com a série de apelidos que havia ganhando ao longo da campanha, como "Peerlusconi" ou "Peer-Problema".

POLÊMICAS EM SÉRIE

Por si só polêmica, a foto ganhou ainda mais relevância num país onde o gesto é pouco tolerado. Em 1994, o então astro do futebol Stefan Effenberg foi cortado da Copa do Mundo dos Estados Unidos por exibir o dedo médio aos torcedores. Quem faz o mesmo no trânsito pode pagar multa de até 4 mil euros.

"Foi um risco calculado, ou só mais um, talvez decisivo, erro às vésperas das eleições?", questiona o jornal conservador Frankfurter Allgemeine Zeitung.

Foto: Deutsche Well

Na entrevista, o candidato a chanceler respondia às perguntas através de gestos

O próprio Steinbrück autorizou a publicação da foto, apesar das insistentes advertências de seus assessores. O que ele não sabia, porém, é que ela estaria estampada na capa da revista. A decisão pode custar caro a um candidato que muitos acusam de não possuir o autocontrole necessário para ser chefe de governo. Sua campanha foi até aqui marcada por uma série de gafes.

Desde finais do ano passado, o social-democrata causou polêmica, por exemplo, ao dizer que só consumia vinhos de mais de cinco euros e por reclamar que o salário de chanceler federal na Alemanha, de 220 mil euros anuais, era baixo demais. Também incomodou muitos ao atribuir a popularidade de Merkel a um "bônus feminino".

A polêmica desencadeada nesta sexta-feira não demorou a ser politizada por seus adversários. Philipp Rösler, chefe do Partido Liberal Democrático (FDP) e provável parceiro de Merkel numa coalizão de governo, considerou o gesto "inadmissível" para um candidato ao governo. O ministro da Saúde Daniel Bahr, correligionário de Rösler, manifestou-se de forma parecida: "Isso não pode ser o estilo de um chanceler federal".

"Qualquer um que faça tal coisa antes de uma eleição realmente não quer vencer", disse, por sua vez, o deputado Wolfgang Bosbach, do partido de Merkel, a União Democrata Cristã (CDU).

Foto: Sean Gallup / Getty Images

Cartaz de campanha mostra só as mãos de Merkel, em seu gesto típico durante discursos. O chamado diamante de Merkel

ÚLTIMAS PESQUISAS

A revista Der Spiegel fez uma enquete online sobre o tema. Dos cerca de 20 mil que responderam, quase a metade achou que Steinbrück demonstrou coragem. Outros 36% consideraram que o gesto impróprio a alguém que almeja à Chancelaria Federal.

Em rápidas declarações paralelas a um comício em Munique, Steinbrück disse que o gesto não passava de "atuação teatral". "Espero que os alemães tenham senso de humor para entender essa expressão facial e esse sinal relacionado à pergunta da revista", tentou contemporizar.

O dedo médio em riste de Steinbrück ilustra também as diferenças entre ele e Merkel, cujo hábito de falar com as duas mãos juntas na altura da cintura virou uma marca. E, juntamente com as últimas pesquisas de opinião, ajudou a movimentar a campanha.

A mais recente sondagem publicada pelo canal público ZDF aponta uma vantagem cada vez mais precária para a coalizão de Merkel. Segundo a pesquisa, a CDU obteria 40%, o que, somado aos 6% do FDP, seriam suficientes para a formação de um governo, porém por margem apertada.

A sondagem atribui ao SPD de Steinbrück 26%, que se somariam aos 11% dos verdes, com quem a aliança é certa. A Esquerda receberia 8% e, aliando-se ao bloco, poderia garantir um total de 45% dos votos. Mas o próprio líder dos social-democratas já deixou claro que não quer na coalizão os esquerdistas, em grande parte dissidentes de seu partido.

Especula-se que se o SPD conseguir mobilizar os eleitores que ficaram em casa nas últimas eleições, Merkel poderá ver-se obrigada a dirigir de novo uma grande coligação direita-esquerda, como fez no seu primeiro mandato, de 2005 a 2009.

Por outro lado, ainda é cedo para se saber o tamanho do prejuízo que o dedo de Peer Steinbrück, pode ter lhe causado.

Foto: AFP

Caminhão leva a imagem da chanceler candidata pelas estradas alemãs

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