17 de set. de 2013

Confirmado:Dilma não vai mais visitar Obama

BRASIL – ESTADOS UNIDOS
Confirmado: Dilma não vai mais visitar Obama
Sem clima para manter a visita de Estado aos EUA, marcada para outubro, a presidente Dilma Rousseff decidiu nesta terça-feira adiar oficialmente o compromisso, sem estabelecer uma nova data para ele. Obama tentou manter a visita até a última hora. Mas Dilma, de olho nas repercussões eleitorais decidiu não ir, para tentar passar uma "imagem positiva de altivez e força".

Foto: Gustavo Miranda O Globo

Dilma e Obama em Brasília, 2011

Postado por Toinho de Passira
Fontes: BBC Brasil, White House, Reuters, G1, Agência Brasil

Oficialmente, durante o telefonema de 20 minutos, entre o presidente Barack Obama e Dilma Rousseff, ficou decidido adiar a viagem da presidenta aos Estados Unidos, que estava marcada para fins de outubro. Na realidade, Obama sabendo da proximidade da decisão da presidenta, em não viajar, tentou com o telefonema convencer a presidenta a manter o compromisso, depois de ter condicionado a visita a explicações convincentes para as acusações de espionagem da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) tendo como alvo a Petrobras e as comunicações do Planalto com ministros.

A visita de Dilma seria a única recepção de Estado oferecida pela Casa Branca a um líder estrangeiro neste ano. Essas honrarias são escassas e têm como objetivo demonstrar a fortaleza da relação bilateral. O último presidente brasileiro a receber o tratamento foi Fernando Henrique Cardoso, em abril de 1995.

Em uma nota divulgada ao mesmo tempo, a Casa Branca disse que "o convite do presidente Obama à presidente Rousseff para a primeira visita de Estado do seu segundo mandato é um reflexo da importância que ele coloca nesta crescente parceria global e da proximidade dos laços entre os povos americano e brasileiro".

"O presidente disse que entende e lamenta as preocupações que a revelação das supostas atividades de inteligência dos EUA gerou no Brasil, e deixou claro que está comprometido em trabalhar junto com a presidente Rousseff e seu governo por meio dos canais diplomáticos para superar esta fonte de tensão no nosso relacionamento bilateral."

O comunicado da Casa Branca também sugere que a visita poderia ser retomada uma vez superadas estas tensões envolvendo as denúncias de espionagem.

"O presidente Obama espera receber a presidente Rousseff em Washington em uma data a ser decidida mutuamente. Outros mecanismos importantes de cooperação, incluindo os diálogos presidenciais em cooperação política, econômica, energia e defesa, continuarão." – diz a nota a Casa Branca.

A visita de Dilma seria o ápice da reconstrução das relações Brasil-EUA, que começou com uma visita do presidente Obama ao Brasil em 2011.

Dilma retribuiu a cortesia em abril do ano passado, em uma visita de trabalho a Washington e Boston. Na época, a Casa Branca foi criticada por não conceder-lhe a honraria.

A presidente brasileira herdou de seu predecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, relações tensas com os norte-americanos, resultado das rusgas após Brasil e Turquia terem negociado um acordo com o Irã a respeito do programa nuclear iraniano, em 2010.

O acordo foi costurado com a bênção americana, mas mesmo assim os EUA desautorizaram o entendimento tão logo saiu a público. No Conselho de Segurança da ONU, a então secretária de Estado americana, Hillary Clinton, que havia sido informada em primeira mão do acordo, fez pressão e obteve mais uma rodada de sanções contra Teerã.

Dilma e Obama vinham, entretanto, conseguindo manter uma agenda positiva para a relação. O Brasil, por exemplo, espera enviar 20% dos seus 100 mil bolsistas do programa Ciência Sem Fronteiras para universidades americanas.


Detalhe da nota de Obama no site da Casa Branca

Os dois países mantêm diálogos de alto nível em campos que o Brasil considera estratégicos, como inovação, práticas governamentais e educação.

As trocas comerciais bilaterais ficaram próximas de US$ 60 bilhões em 2012 – mais que o dobro do volume comercializado uma década antes. Esse patamar não apenas se manteve como aumentou mesmo durante a crise econômica, dada a presença de bens de mais alto valor agregado.

Segundo o governo americano, incluindo comércio e serviços, as trocas entre Brasil e EUA superam US$ 100 bilhões por ano.

Com sua decisão, a presidente deixa clara a sua insatisfação com as explicações dadas para as denúncias contra a NSA. Apesar disso, o comunicado diz que o governo brasileiro "tem presente a importância e a diversidade do relacionamento bilateral, fundado no respeito e na confiança mútua". "Temos trabalhado conjuntamente para promover o crescimento econômico e fomentar a geração de emprego e renda. Nossas relações compreendem a cooperação em áreas tão diversas como ciência e tecnologia, educação, energia, comércio e finanças, envolvendo governos, empresas e cidadãos dos dois países."

O comentarista político da Reuters, Anthony Boadle, disse que a viagem visava ser uma plataforma de negócios em exploração de petróleo e tecnologia de biocombustíveis.

Foto: Divulgação

Caça F-18, produzido pela Boeing, sonho de consumo da FAB

Ressalta, porém, que o principal prejuízo, para os EUA, causado pela espionagem americana e o cancelamento da viagem, foi a drástica redução de chances do compra por parte do Brasil dos caças de fabricação americana, 36 unidades, de F-18, da Boeing, um contrato com o Ministério da Defesa brasileiro no valor de US $ 4 bilhões.

Segundo a Reuters, as autoridades brasileiras disseram que o Brasil não pode comprar essa aeronave estratégica de um país não pode confiar.

Gerson Camarotti, da Globo News, acrescenta que além da questão diplomática, pesou na decisão da presidente Dilma Rousseff de adiar a visita de Estado a Washington a campanha eleitoral de 2014.

Para os conselheiros de Dilma, entre eles Lula, “a visita oficial de Dilma aos Estados Unidos sem os devidos esclarecimentos da Casa Branca poderia passar uma imagem de fraqueza”.

Já o cancelamento da viagem, depois de graves denúncias de espionagem praticada pela agência de segurança norte-americana, transmite uma imagem de altivez e de força, de acordo com a avaliação dos conselheiros.

A presidente, não visitará Obama, mas irá aos EUA na semana que vem, para discursar na abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York. O discurso dela, na terça-feira, certamente enfocará de forma dura, a necessidade de manter a neutralidade da internet e coibir o uso da rede para ações de espionagem. Obama falará em seguida.

Para evitar mais constrangimentos diplomáticos o Planalto informou à Casa Branca do teor áspero e crítico do discurso que Dilma proferirá na abertura da Assembléia Geral da ONU.

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