Indústria do gás lacrimogêneo lucra e cresce alimentada por protestos em todo o mundo
BRASIL - Manifestações Indústria do gás lacrimogêneo lucra e cresce alimentada por protestos em todo o mundo Críticos dizem que gás não pode ser chamado de não letal, mas é a primeira opção das tropas de choque de todo mundo. Um poderosa empresa brasileira fabricante do produto tem como clientes 41 países e deve estar fazendo hora extra para atender o mercado interno. Destaque-se que especialistas dizem que vinagre não é antidoto, nem alívio para gás lacrimogêneo e até pode potencializar os efeitos. Foto: Yannis Behrakis/Reuters Postado por Toinho de Passira Em meio à crise econômica e às várias medidas de austeridade adotadas e insatisfação popular ao redor do mundo, um setor da indústria está se dando bem: os fabricantes de gás lacrimogêneo. Uma empresa brasileira a Condor Non-Lethal Technologies é uma das líderes mundiais de fornecimento do produto, presente nas mãos dos policiais e nos olhos de manifestantes de pelo menos 41 países. Desde a Primavera Árabe (iniciada no final de 2010), o mercado de segurança interna no Oriente Médio teve um aumento de 18% em seu valor, chegando próximo aos 6 bilhões de euros (R$ 17,4 bilhões) em 2012, diz a BBC Brasil. Usado por forças de segurança do mundo inteiro para dispersar manifestações, as bombas de gás lacrimogêneo também tiveram destaque recente nas imagens da evacuação do Parque Gezi em Istambul no último fim de semana e da repressão aos protestos em diversas cidades brasileiras no movimento conhecido como a Passeata dos 20 centavos, contra o aumento das tarifas de transporte público, a corrupção política, os gastos excessivos na organização da Copa do Mundo 2014, a precariedade do transporte público, do ensino, da saúde e da segurança. Egito e Tunísia estão aumentando suas compras de equipamentos para controle de distúrbios no momento em que negociam empréstimos com o FMI para cobrir seus buracos orçamentários. Na zona do euro, afetada pela crise financeira, as coisas não são muito diferentes. O orçamento de 2012 do governo espanhol de Mariano Rajoy enfrenta cortes em praticamente todas as áreas, mas em equipamentos antidistúrbios o gasto passa de cerca de 173 mil euros a mais de 3 milhões em 2013. Durante a Primavera Árabe, empresas americanas exportaram 21 toneladas de munição, o equivalente a cerca de 40 mil unidades de gás lacrimogêneo. Foto: Marcelo Ninio/Folhapress Em termos de manejo de protestos, nada mudou com a democratização egípcia. Esse ano, o ministério Interior encomendou cerca de 140 mil cartuchos de gás lacrimogêneo ao mesmo elenco de exportadoras americanas.
Na Primeira Guerra Mundial, o gás lacrimogêneo era classificado como arma química. Mas a partir daí, entrou um cena a força do lobby industrial-militar-governamental, explica a pesquisadora Anna Feigenbaum, que investiga a história política do gás lacrimogêneo na Universidade de Bournemouth, na Grã-Bretanha. "Por pressão dos governos e das corporações, mudou-se o nome de 'arma química' a 'irritante químico' ou 'instrumento de controle de distúrbios'. Isso produziu uma normalização. O gás que começou a ser usado no 'controle de multidões' na década de 30 se generalizou a partir dos anos 60", disse. Uma pesquisa pedida pelo governo britânico sobre o uso de gás lacrimogêneo no fim dos anos 1960 na Irlanda do Norte contribuiu de forma particularmente significativa para essa normalização. A investigação concluiu que não havia perigo nem para mulheres grávidas, nem para idosos, uma afirmação duramente criticada pela Anistia Internacional e pela ONG Médicos pelos Direitos Humanos. Ambas as organizações sustentam que não é preciso ser mais velho ou estar grávida para sentir efeitos "irreversíveis" dessas armas não letais. Entre as mortes mais recentes atribuídas ao uso de gás lacrimogêneo figuram a do adolescente Ali Al-Shiek Bahrain no ano passado e a do palestino Mustafa Tamini no final de 2011. Foto: Caio Kenji/G1 Segundo o toxicologista, Flávio Zambrone de Campinas(SP), o gás lacrimogêneo que é um derivado de cloro causa reação ao entrar em contato com a água das mucosas, provocando queimaduras na pele, nariz e boca. Foto: Caio Kenji/G1 |
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