Único clérigo entre os seis candidatos que disputaram a Presidência do Irã neste fim de semana, Hassan Rouhani, de 64 anos, foi declarado vencedor ao obter mais de 18 mihões de votos logo no primeiro turno. Experiente, ele já ocupou postos importantes e pretende dar vazão a propostas reformistas, entre elas a potencial retomada do diálogo com os Estados Unidos, maior inimigo da República Islâmica.
O resultado surpreendeu os analistas, que esperavam a definição do pleito em eventual segundo turno. Um dos favoritos na corrida presidencial, o prefeito de Teerã, Mohammad Baqer Qalibaf, ficou num modestíssimo em segundo lugar.
O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, ainda terá de confirmar o resultado das eleições no próximo dia 3 de agosto. Em seguida, o novo presidente deverá ser empossado no Parlamento.
A participação da população foi estimada em 72%. Cerca de 50 milhões de iranianos estavam aptos a votar.
A expectativa é que Rouhani, que já criticou abertamente o atual líder Mahmoud Ahmadinejad, tente colocar em prática sua agenda de reformas, embora no país o presidente não estabeleça as políticas mais importantes, como o programa nuclear, as relações com o Ocidente ou as ações militares – áreas sob o comando de clérigos chefiados pelo aiatolá.
Em debates televisivos, durante a campanha, ele levantou assuntos polêmicos, como o isolamento do Irã na comunidade internacional, a crise econômica e os efeitos das sanções das potências e o programa nuclear.
Ele sinalizou também a intenção de retomar o diálogo com o maior inimigo da República Islâmica, os Estados Unidos, país com o qual Teerã cortou relações diplomáticas em 1979.
Foto: Wik-Commons
Khamenei, possivelmente incomodado com a vitória de Rohani
FIGURA DE DESTAQUE
Figura-chave na política iraniana, Rouhani já ocupou diversos postos parlamentares no país, como o de vice-presidente do Congresso e representante de Khamenei no Conselho Nacional de Segurança Supremo.
Sob o governo do ex-presidente Mohammad Khatami (que o apoiou nas eleições), ocupou o importante cargo de negociador-chefe para assuntos nucleares. Atualmente chefia um importante conselho estratégico nacional que assessora o líder supremo.
Fala inglês, alemão, francês, rússo e árabe, e possui um doutorado em direito pela Universidade Glasgow Caledonian, na Escócia.
Durante as manifestações de estudantes que protestaram contra o fechamento de um jornal reformista, em 1999, Rouhani adotou uma posição rígida, declarando que aqueles que tinham sido presos por sabotagem e pela destruição de patrimônio público deveriam receber a pena de morte caso fossem condenados.
Em 2009, no entanto, apoiou os manifestantes que protestaram contra o resultado das eleições que deram vitória a Mahmoud Ahmadinejad, e criticou o governo pela repressão aos protestos.
Sobre o controverso presidente Mahmoud Ahmadinejad, Rouhani já teceu críticas diretas, dizendo que suas "observações sem estudo, sem cálculo e irresponsáveis" já custaram muito ao país.
Foto: Stefan Wermuth/Reuters
Iraniana, no Consulado do Irã, em Londres, mostra o dedo manchado de tinta, comprovante que votou nas eleições do seu país
APOIO MACIÇO
O ministro do Interior do Irã, Mostafa Mohammad Najjar, anunciou que Rouhani venceu as eleições presidenciais com 18,613,329 dos 36,704,156 de votos, ou 50,68% do total.
Najjar também afirmou que qualquer candidato descontente com os resultados teria três dias para registrar suas reclamações no Conselho dos Guardiães, órgão do sistema político iraniano cuja função é garantir que as leis aprovadas pelo Parlamento estejam em concordância com a Constituição e com a lei islâmica (sharia).
No Irã, para ser declarado vencedor e evitar um segundo turno, um candidato deve ter mais de 50% dos votos, válidos e inválidos.
O término da votação foi adiado por cinco horas na noite de sexta-feira para permitir que mais pessoas fossem às urnas.
O apoio maciço a Rouhani veio após Mohammad Reza Aref, o único reformista entre os candidatos à corrida presidencial, ter anunciado na última terça-feira que estava desistindo de sua candidatura seguindo um conselho do ex-presidente Mohammad Khatami, também visto como liberal.
Por causa disso, Rouhani ganhou guarida de dois ex-presidentes – Khatami e Akbar Hashemi Rafsanjani, este último desqualificado das eleições pelo poderoso Conselho de Guardiães, formado por 12 teólogos e juristas.
Além de Rouhani, disputaram as eleições presidenciais Mohammad Qalibaf, Saeed Jalili, Mohsen Rezai, Akbar Velayati e Mohammad Gharazi.
Qalibaf e Jalili eram vistos como candidatos ‘linha-dura’. O primeiro é visto como um conservador pragmático e um habilidoso negociador nuclear. O segundo é tido como muito próximo do líder supremo, o aiatolá Khamenei.
Completam a lista Rezai, o antigo chefe da Guarda Revolucionária, o ex-primeiro-ministro Velayati e o ex-ministro das Telecomunicações Gharazi.
Foto: Abedin Taherkenareh / European Pressphoto Agency
Partidários do presidente recém-eleito do Irã, Hassan Rohani, comemoram nas ruas de Teerã, neste sábado, após o anúncio de sua vitória
INTIMIDAÇÃO
Após a última eleição presidencial, em junho de 2009, milhões de iranianos foram às ruas para forçar a convocação de uma eleição após o líder supremo ter negado investigar as acusações de fraude protocoladas por três candidatos derrotados.
Dois deles, o ex-premiê Mir Hussein Mousavi e o clérigo Mehdi Karroubi, tornaram-se líderes de um movimento de oposição nacional conhecido como ‘Movimento Verde’, batizado em alusão à sua cor.
A eleição atual não contou com observadores internacionais e houve preocupações quanto ao tratamento destinado aos jornalistas durante a cobertura.
Na quinta-feira, a BBC acusou as autoridades iranianas de "níveis sem precedentes de intimidação" às famílias dos funcionários da emissora.
O Irã teria alertado as famílias de 15 membros da Seção Persa do Serviço Mundial da BBC que deveriam parar de trabalhar para a emissora ou suas vidas em Londres estariam em risco. Teerã não se pronunciou.
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