Acossado pelo escândalo dos grampos em telefones e e-mails de milhões de pessoas, o presidente dos Estados Unidos,
, falou pela primeira vez nesta sexta-feira a respeito da invasão da privacidade do governo em nome do combate ao terrorismo. Obama procurou ressaltar que o governo não tem acesso ao conteúdo das gravações. "Ninguém está ouvindo as ligações", disse. Afirmou ainda que o Congresso sempre esteve a par dos programas secretos de espionagem do governo, revelados em reportagens do
. Obama afirmou que para ouvir o conteúdo de uma chamada telefônica, é preciso recorrer a um juiz federal.
“A NSA (Agência de Segurança Nacional) não está de olho nos nomes das pessoas nem no conteúdo das conversas, eles estão estudando os chamados ‘metadados’, que podem ajudar as autoridades a interromper potenciais planos terroristas", disse Obama em uma coletiva de imprensa, referindo-se a informações que ajudam a localizar a interpretar dados, apontando algumas tendências que podem identificar ligações terroristas. “Em relação à internet, isso não se aplica aos cidadãos americanos, nem às pessoas que vivem nos Estados Unidos”, afirmou. “As pessoas envolvidas na Segurança Nacional dos EUA levam seu trabalho muito a sério, a última coisa que eles estariam fazendo em programas desse tipo seria usá-los para ouvir as ligações telefônicas das pessoas”.
Em vários momentos, o democrata reforçou que congressistas dos dois partidos e juízes federais estavam cientes dos trabalhos. E sugeriu que o debate parlamentar sobre o tema deveria oferecer ao público alguma confiança de que a vigilância não é um caso de abuso. “Se, de fato, houve abusos, então, presumivelmente, os membros do Congresso poderiam levantar estas questões. Eles têm poder para isso”. Na quinta-feira, senadores afirmaram que
sabiam que o governo verificava os registros telefônicos de milhões de usuários da empresa
Verizon.
O presidente veio a público defender os programas depois de ter a sua retórica a favor dos direitos civis questionada pela União de Liberdades Civis dos Estados Unidos. Obama, que iniciou sua carreira como um advogado de direitos civis, é acusado agora de quebrar sua promessa eleitoral de combater o terrorismo e ao mesmo tempo proteger as liberdades individuais.
Obama já vinha sendo questionado desde o escândalo dos grampos a jornalistas da agência de notícias
Associated Press e a investigação contra um repórter da rede de televisão
Fox News . Quando era candidato presidencial em 2008, o democrata criticou as medidas antiterrorismo usadas por seu antecessor, o republicano
George W. Bush . Ao ocupar a Casa Branca, Obama manteve não só manteve as táticas antiterrorismo de Bush, como as ampliou.
Charge: Dave Granlund (USA)
VIGILÂNCIA
Este é o quarto escândalo a atingir o segundo mandato de Obama, depois do caso criminoso da perseguição do Fisco a grupos conservadores e da manipulação de informações sobre as ameaças terroristas à representação americana na Líbia. Nesta semana, o jornal britânico The Guardian revelou que a Agência de Segurança Nacional investiga telefonemas de milhões de clientes da operadora Verizon. Na sequência, o jornal americano The Washington Post divulgou que a NSA e o FBI têm acesso direto aos servidores centrais de nove das maiores empresas de internet americanas.
Sob o programa Prisma, a inteligência americana pode consultar áudios, vídeos, fotografias, conteúdos de e-mails, arquivos transferidos e logins dos usuários. O programa altamente secreto está em andamento desde 2007. Ao longo desse período, nove companhias passaram a fazer parte da operação. A Microsoft foi a primeira a entrar, em novembro de 2007. O Yahoo passou a fazer parte em 2008. Google, Facebook e PalTalk, em 2009, YouTube em 2010, Skype e AOL, em 2011, e a última, a Apple, em outubro de 2012. A PalTalk, mesmo bem menor do que as demais, registrou tráfego significativo durante as revoltas nos países árabes e também na guerra civil da Síria. O Dropbox, serviço de armazenamento de dados em nuvem, é descrito como o próximo a entrar no sistema.
Charge: Bob Englehart (USA)
VERSÃO
Algumas das empresas citadas no artigo - Google, Apple, Yahoo e Facebook - imediatamente negaram que o governo tenha tido "acesso direto" aos seus servidores centrais. A Microsoft disse que não participou voluntariamente de nenhuma coleta de dados governamentais, e que apenas cumpre "ordens de solicitações sobre contas ou identificadores específicos".
James Clapper, diretor de inteligência nacional, disse que a reportagem do Washington Post contém "numerosas imprecisões" e defendeu o Prisma e a coleta de dados telefônicos. Ele disse que as revelações sobre essas manobras são "repreensíveis" e constituem um "dano irreversível" ao país.
Charge: Steve Sack/Star Tribune (USA)
REAÇÕES
Os CEOs do Google, Larry Page, e do Facebook, Mark Zuckerberg, se pronunciaram nesta sexta sobre o escândalo. Em comunicado, Page afirmou que sua companhia não tem envolvimento com o caso e que sua empresa não tem relação com o programa Prisma. “Em primeiro lugar, nós não fazemos parte de qualquer programa que possa fornecer ao governo dos Estados Unidos – ou de qualquer outro país – acesso direto aos nossos servidores”, disse. “O governo não tem acesso às informações armazenadas em nossos centros de dados. Para falar a verdade, até ontem, nós nunca tínhamos ouvido nada sobre esse tal programa.”
Page ainda afirmou que o Google só fornece dados aos governos quando isso estiver de acordo com a lei, e que sua equipe jurídica faz uma revisão de cada caso para que não haja nenhum tipo de abuso. “Notícias de que o Google está fornecendo acesso irrestrito aos dados de nossos usuários são falsas. Ponto. Qualquer sugestão de que estamos vazando informações sobre a atividade de nossos clientes na internet é falsa.” O executivo concluiu seu texto defendendo mais transparência sobre as ações do governo. “Trabalhamos duro, dentro dos parâmetros das leis atuais, para sermos mais transparentes a respeito de todos os pedidos que recebemos. Somos a primeira companhia a oferecer um relatório de transparência”, disse. “É claro que entendemos que os EUA, e outros governos também, precisam tomar uma atitude para garantir a proteção de seus cidadãos, mas o nível de sigilo em torno dos procedimentos atuais acaba com a liberdade que todos nós lutamos para conquistar.”
O comunicado que Zuckerberg publicou em sua página no Facebook segue linha idêntica ao divulgado por Page. Ele classificou de “ultrajantes” os relatos da imprensa sobre o programa. “O Facebook não faz nem nunca fez parte de nenhum programado governo para fornecer ao governo americano ou qualquer outro acesso direto aos nossos servidores”, disse. “Nós nunca ouvimos falar do programa Prisma até ontem”. Zuckerberg também afirmou que qualquer solicitação de dados é revisada cuidadosamente para assegurar que o pedido segue toda a legislação aplicável. Só depois disso a informação é fornecida, ressaltou. “Nós vamos continuar lutando sempre para manter as informações de nossos usuários seguras”. Ele acrescentou que o Facebook “incentiva fortemente todos os governos a serem mais transparentes sobre todos os programas que têm o objetivo de garantir a segurança”. “Esta é a única forma de proteger as liberdades civis de todos e criar a sociedade segura e livre que todos nós queremos a longo prazo”.
*Acrescentamos subtítulo, foto e charges a publicação original
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