19 de jun. de 2013

"Frigideira-power": Os chilenos inventaram o panelaço, os argentinos o transforaram em hit parade mundial"

ARGENTINA
"Frigideira-power": Os chilenos inventaram o panelaço, os argentinos o transforaram em hit parade mundial
Um panelaço é uma modalidade de protesto que consiste em bater utensílios de cozinha metálicos para gerar um barulho que tem o objetivo ser interpretado como o som da “irritação popular”. Nos últimos panelaços portenhos foi utilizada de forma intensa a garrafa de plástico, que produz um som seco também adequado para expressar irritação. A vantagem das garrafas é que não estraga as panelas de casa, além de ser mais leve.

Foto: Blog Ariel Palacios

“El Cacerolazo” (O Panelaço): Denominação da barulhenta modalidade de protesto que consiste em bater de forma rítmica utensílios metálicos de cozinha, principalmente as “cacerolas” (panelas). Os participantes: batem panelas nas janelas de suas casas e apartamentos, ou saem às ruas para bater panelas enquanto marcham rumo a um ponto de concentração de protestos.

Postado por Toinho de Passira
Texto de Ariel Palacios, para O Estado de S. Paulo
Fonte: Blog do Ariel Palacios

A História dos panelaços mostra que os utensílios de cozinha não possuem ideologia política, já que os primeiros panelaços surgiram no Chile paraprotestar contra o presidente socialista Salvador Allende em 1973. No entanto, em 1986 e 1989 os panelaços chilenos foram direcionados contra o ditador de extrema direita, o general Augusto Pinochet.

Em 1996 foi a vez da Argentina tornar-se o cenário de panelaços acompanhados por apagões para protestar contra a política do presidente Carlos Menem.

Em 2001 e 2002 essa modalidade de protesto teve seu apogeu de forma quase diária contra os presidentes Fernando De La Rua, Adolfo Rodríguez Sáa e Eduardo Duhalde. Na época os panelaços argentinos obtiveram fama mundial.

A retomada do crescimento econômico, em 2003, com o presidente Nestor Kirchner fez os panelaços desaparecerem. Mas este modus operandide protestar contra o governo de plantão voltou quando a presidente Cristina Kirchner teve o conflito com o setor ruralista em 2008. Os portenhos, rosarinos, santafecinos e cordobeses, entre os habitantes de várias cidades argentinas, saíram às ruas para respaldar os ruralistas contra a administração Kirchner.

Os panelaços retornaram mais uma vez no ano passado com o crescimento dos problemas econômicos, especialmente a disparada da inflação, além dos escândalos de corrupção. De quebra, segundo afirmou ao Estado a analistade opinião pública Mariel Fornoni, o tom agressivo dos últimos discursos da presidente Cristina irritou diversos setores da população, servindo de combustível para os panelaços de setembro, novembro e abril passados.

Na lista das reclamações também estava o gasto da presidente Cristina Kirchner com assuntos lúdicos-políticos: as transmissões estatizadas dos jogos de futebol, o denominado“Futebol para todos”, que consumiram US$ 1,06 bilhão dos cofres públicos desde 2009.

Foto: Divulgação

Cristina Kirchner não gostou nada dos panelaços realizados contra sua gestão e acusou os manifestantes de “oligarcas”. Na foto, a presidente e seu Rolex Lady Date Just de ouro e brilhantes, avaliado em 42 mil dólares.

MAGNITUDE DOS PANELAÇOS – O governo Kirchner, que está com a popularidade em baixa desde o início do ano passado, foi alvo de um panelaço no dia 13 de setembro, que levou 200 mil pessoas às ruas de Buenos Aires. Na ocasião, outras 100 mil manifestaram-se nas principais cidades do interior da Argentina. Total de participantes nas ruas do panelaço de setembro no país: 300 mil pessoas.

Um novo panelaço foi realizado no dia 8 de novembro. No entanto, dessa vez a proporção de manifestantes superou as expectativas, com mais de 700 mil pessoas na capital. Os cálculos da Polícia Federal indicam que no resto do país os panelaços reuniram outras 500 mil pessoas.Total do panelaço de novembro 1,2 milhão pessoas.

No dia 19 de abril meio milhão de portenhos marcharam pelas ruas da capital para exigir uma mudança drástica na política econômica e o julgamento dos corruptos. Os cálculos indicam que outras 200 mil protestaram no interior. Total de pessoas mobilizadas nas ruas no panelaço de abril: 700 mil pessoas.

O governo da presidente Cristina Kirchner fez malabarismos para negar a magnitude dos panelaços, além de acusar os cidadãos que participaram dos protestos de“golpistas”. Os aliados da presidente indicaram nas ocasiões dos panelaços que a modalidade de protesto era“ilegítima”e que os manifestantes deveriam esperar as próximas eleições para indicar sua contrariedade com o governo.

A única agressão registrada foi contra um repórter do canal de TV C5N, cujo dono Cristóbal López, o “tzar” dos cassinos argentinos é amigo da presidente Cristina. O governo usou esse único ato para indicar que a manifestação, como um todo, havia sido “violenta”.

O repórter levou um brutal soco de 1 dos 700 mil manifestantes. O ato de violência isolado foi repudiado pela totalidade dos meios de comunicação, aliados ou críticos do governo.

OUTRAS MODALIDADES DE PROTESTOS NA ARGENTINA

♦PIQUETE:
Bloqueio de avenidas, ruas e estradas por grupo de pessoas como modus operandi de protesto. No início, quando eram poucos, os piqueteiros bloqueavam com pneus em chamas e escombros. Atualmente, com excedente de manifestantes, os bloqueios são feitos com “barreiras humanas”.

Acessórios dos piqueteiros: lenços cobrindo parte do rosto, que podem ser úteis na hora do gás lacrimogêneo (e também para proteger sua identidade das forças policiais). Há dez anos eram comuns varas de madeira, barras de ferro, canos de PVC com cimento dentro, utilizados tanto para a defesa pessoal, para o ataque, ou simplesmente para intimidar. No interior do país eram frequentes os estilingues. Mas, atualmente são raras as manifestações com estes objetos de intimidação. Os piquetes possuem o acompanhamento musical dos bumbos (instrumento originário das mobilizações do Peronismo). Esta modalidade, ocasionalmente, inclui atos de violência. Mas não é sine qua non.

♦ESCRACHO: É um protesto personalizado, realizado na frente das residências das pessoas-alvo da manifestação. A modalidade, além de incluir gritos contra as pessoas “escrachadas” contempla o arremesso de objetos contundentes sobre a residência da pessoa. Ou, em uma versão mais light, o arremesso de tinta ou lama contra as janelas e paredes da residência.

Alvos dos escrachos:

- Entre 1997 e 2001 os alvos primordiais eram ex-integrantes da ditadura. Com os escrachos os manifestantes revelavam aos vizinhos do militar que ali residia uma pessoa que havia cometido crimes durante a ditadura.

- Em 2001 e 2002 eram primordialmente os integrantes da equipe econômica, governadores, prefeitos e parlamentares.


*Ariel Palacios é jornalista, correspondente do O Estado de S.Paulo e da Globo News, em Buenos Aires

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