Delator do sistema de vigilância é de empresa encarregada de segredos da segurança dos EUA
ESTADOS UNIDOS Delator do sistema de vigilância é de empresa encarregada de segredos da segurança dos EUA Edward J. Snowden, o executivo americano que revelou no domingo passado ter sido a fonte do recente vazamento de documentos relacionados à segurança nacional dos EUA, falando da espionagem dos telefones e da internet por parte do Governo Federal, trabalha numa empresa que vende serviços de consultoria e de tecnologia e fornece mão de obra para a Agência de Segurança Nacional (NSA) e para outras agências federais de inteligência dos EUA Foto: Mary F. Calvert/ The New York Times Postado por Toinho de Passira A Booz Allen Hamilton, empresa onde Edward J. Snowden trabalha, tornou-se uma das maiores e mais rentáveis companhias dos Estados Unidos. E isso após atender quase que exclusivamente um único cliente: o governo norte-americano. Ao longo da última década, grande parte do crescimento da empresa foi gerado pela venda de serviços de consultoria e de tecnologia e pelo fornecimento de mão de obra para a Agência de Segurança Nacional (NSA) e para outras agências federais de inteligência dos EUA. A Booz Allen faturou US$ 1,3 bilhão, ou 23% da receita total da empresa, ao realizar serviços de inteligência durante o último ano fiscal. Desde 2001, o governo dos EUA aumentou significativamente seus gastos com a coleta de informações realizada com o auxílio de alta tecnologia, e tanto o governo Bush quanto a administração Obama optaram por confiar em empresas privadas como a Booz Allen para realizar grande parte desse trabalho. Milhares de pessoas que antes eram funcionárias do governo e tinham autorização para lidar com informações confidenciais agora fazem essencialmente o mesmo trabalho para empresas privadas. Snowden, que revelou no domingo passado ter sido a fonte do recente vazamento de documentos relacionados à segurança nacional dos EUA, é uma dessas pessoas. Como prova da estreita relação da Booz Allen com o governo, o chefe de inteligência do governo Obama, James R. Clapper Jr., é ex-executivo da Booz. O funcionário que ocupava esse cargo no governo Bush, John M. McConnell, também trabalha atualmente para a Booz. "O aparato de segurança nacional tem sido cada vez mais privatizado e entregue a prestadores de serviços", disse Danielle Brian, diretora-executiva do Project on Government Oversight (Projeto de Supervisão do Governo), grupo sem fins lucrativos que analisa contratos firmados com o governo federal dos EUA. "A maior parte dos norte-americanos não sabe que mais de 1 milhão de empresas privadas têm permissão para lidar com questões altamente delicadas". Segundo Danielle, esse tipo de situação tem ido tão longe que até mesmo o processo de concessão de autorizações de acesso é muitas vezes realizado por companhias contratadas, o que possibilita que essas empresas concedam autorizações de acesso do governo a funcionários que atuam no setor privado. Empresas como a Booz, a Lockheed Martin e a Computer Sciences Corporation também atuam diretamente na coleta de informações e no fornecimento de análises e consultoria para funcionários do governo. Os empregados da Booz trabalham dentro das instalações da NSA, que é uma das agências de inteligência mais secretas dos EUA. A empresa também tem vários prédios de escritórios localizados perto da sede da agência, situada em Fort Meade, no estado de Maryland. Foto: Ewen MacAskill /The Guardian/Associated Press A Booz emprega cerca de 25 mil pessoas, e quase a metade desses funcionários possui autorização para lidar com informações altamente confidenciais --credenciais que fornecem "acesso a informações que poderiam causar 'danos excepcionalmente graves' para a segurança nacional se divulgadas ao público", de acordo com documentos de prestação de contas apresentados pela Booz à Securities and Exchange Commission (SEC, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA).
"A segurança é tão rígida, e os procedimentos são tão rigorosamente aplicados que isso é realmente uma surpresa", disse ele sobre os vazamentos promovidos por Snowden. "Isso terá de ser totalmente investigado, dentro e fora da empresa, para descobrirmos o que aconteceu. Houve algum sinal de alerta? Ele tinha algum antecedente em seu histórico profissional e pessoal, algo indicando que seria capaz de roubar informações?" Stewart A. Baker, que atuou como advogado-geral da NSA na década de 1990 e que, mais recentemente, atuou como alto funcionário do Departamento de Segurança Interna dos EUA, disse temer que a dependência de fornecedores externos possa, pelo menos de certa forma, tornar o governo dos EUA mais vulnerável a vazamentos. "Dentro do governo há estruturas projetadas para garantir que as pessoas entendam que elas podem alertar para o caráter ilícito de determinadas atividades por meio de vários canais existentes", disse Baker. "É possível alertar o inspetor-geral ou os comitês de inteligência e não é necessário violar o sigilo nem expor segredos nacionais para chamar a atenção de funcionários do alto escalão sobre suas preocupações em relação à segurança. Mas isso é um pouco menos óbvio para os funcionários dessas prestadoras de serviços". A Booz Allen, que afirmou em documentos de prestação de contas apresentados à SEC que seu negócio pode ser prejudicado por vazamentos, reconheceu em um comunicado que Snowden tinha sido seu funcionário. Foto: Kevin Lamarque/Reuters A principal função da empresa, com sede no estado da Virgínia, é fornecer serviços de tecnologia. A Booz Allen registrou um faturamento de US$ 5,76 bilhões no ano fiscal encerrado em março passado, e ocupa a 436ª posição na lista das 500 maiores empresas de capital aberto da revista Fortune. O governo dos EUA foi responsável por 98% desse faturamento, informou a empresa. Tradução de Cláudia Gonçalves, para UOL *Acrescentamos subtítulo, foto e legenda a publicação original |
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