30 de nov. de 2012

Em Israel, vitória da Palestina no ONU
é considerado 'bofetão diplomático'

BRASIL -
Em Israel, vitória da Palestina no ONU
é considerado 'bofetão diplomático'
A aprovação na Assembleia Geral da ONU da elevação do status palestino na entidade para "Estado observador não-membro" - uma resolução a que Israel e Estados Unidos se opuseram traz consequência diferentes no Oriente Médio. De um lado os palestinos festejam, o que chamam a certidão de nascimento da sua pátria, do outro os judeus, cobram do primeiro minsitro Netanyahy, o que chamam de uma derrota vergonhosa

Foto: Marko Djurica / Reuters

Um menino palestino acena com uma bandeira Palestinain durante um comício na Cisjordânia, em Ramallah, na festa de comemoração da resolução na ONU

Postado por Toinho de Passira
Fontes: BBC Brasil, Times of Israel, Haaretz , The New York Times, G1, Ultimo Segundo com AP, Reuters e AFP

Enquanto nos territórios palestinos a população comemora o novo status de "Estado observador não-membro" nas Nações Unidas, em Israel o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu vem sendo responsabilizado pelo que os críticos consideram uma grave derrota diplomática.

Nesta quinta-feira, a Assembleia Geral da ONU aprovou por 138 votos a favor, 9 contra e 41 abstenções a nova condição para os palestinos, que os equipara à condição do Estado do Vaticano.

O respaldo ao pedido palestino por reconhecimento como Estado superou até os cálculos mais otimistas da Autoridade Nacional Palestina e de seu presidente, Mahmoud Abbas.

Mas o que para Abbas foi um grande triunfo diplomático, para Netanyahu é um revés que muitos em Israel já estão lhe cobrando.

Foto: Andrew Gombert / EPA

O presidente palestino, Mahmoud Abbas, centro, chanceler palestino Reyad al-Maliki, direito, e outros membros da delegação palestina emocionados após a votação das Nações Unidas da resolução que considerou a Palestina "Estado observador não-membro" nas Nações Unidas

'Bofetão'

A deputada Shelly Yacimovich, presidente do Partido Trabalhista, de oposição, afirmou que o resultado da votação na ONU é consequência da política externa de Netanyahu e do aprofundamento da paralisação do processo de paz com os palestinos.

Em declarações à imprensa local, Yacimovich afirmou que Netanyahy e o chanceler Avigdor Lieberman "envergonharam o país internacionalmente" e presentearam os palestinos com uma vitória histórica.

Zahava Gal On, presidente do partido pacifista Meretz, afirmou que a comunidade internacional "deu um bofetão na cara de Netanyahu", mas assegurou que o reconhecimento palestino poderia ajudar Israel a se envolver de novo no processo de paz.

A se julgar pelas declarações dos principais porta-vozes israelenses, porém, é pouco provável que o novo status palestino possa ter esse efeito.

Lieberman afirmou que o discurso de Abbas na ONU pedindo "um certificado de nascimento para a Palestina" demonstra que ele não está interessado na paz.

Foto: Issam Rimawi/Flash90

Palestinos comemorando em Ramallah

'Luz de advertência'

Em sua edição desta sexta-feira, o diário israelense Haaretz afirma que Israel sofreu uma derrota "humilhante" na ONU e diz que o resultado foi uma "luz de advertência" ao país. Segundo o diário, países "amigos" enviaram com seus votos a mensagem de que a paciência com a ocupação dos territórios palestinos está acabando.

Em um artigo no jornal, o especialista em assuntos diplomáticos Avi Issacharoff afirma que "Abbas nunca admitirá, mas deve um enorme agradecimento ao governo israelense e em particular ao chanceler Avigdor Lieberman".

"Até alguns poucos dias atrás, parecia que Abbas poderia evaporar da consciência palestina e internacional em consequência dos avanços do Hamas durante a operação Pilar de Defesa", escreveu Issacharoff, fazendo referência à recente ofensiva militar israelense contra Gaza para neutralizar os ataques com foguetes lançados por grupos palestinos.

O analista destaca que, agora, Abbas recuperou sua posição de liderança, ao menos entre os círculos políticos do mundo árabe, e conseguiu um consenso raro entre os palestinos, divididos entre os seguidores do Hamas, que controla a Faixa de Gaza, e do Fatah, de Abbas, que controla a Cisjordânia.

Foto: Ronen Zvulun / Reuters

Registro da construção no assentamento judeu na Cisjordânia, em Maale Adumim, em junho passado

'Ocupação racista'

Em seu discurso diante da Assembleia Geral, antes da votação, Abbas fez declarações duras contra Israel, acusando o país de promover "uma ocupação colonial racista" equiparável ao apartheid, o sistema de discriminação racial vigente na África do Sul até os anos 1990.

"O mundo pôde ver um discurso difamatório e venenoso, cheio de propaganda mentirosa contra o Exército israelense e os cidadãos israelenses", afirmou Netanyahu, em um comunicado divulgado após a intervenção de Abbas.

"Alguém que deseja a paz não fala dessa maneira", diz o comunicado. "Não se criará um Estado palestino que não garanta a segurança dos cidadãos israelenses", afirmou.

"O caminho da paz entre Jerusalém e Ramallah passa por negociações diretas sem condições prévias e não por decisões unilaterais na ONU", acrescentou.

Em declarações à BBC, o porta-voz do governo israelense Mark Regev afirmou nesta sexta-feira que a concessão de status de Estado aos palestinos é "um teatro político negativo" e "prejudicará a paz".

"Isso é um teatro político negativo, que vai nos tirar do processo de negociação. Vai prejudicar a paz", disse Regev.

Foto: Rina Castelnuovo/The New York Times

De sua casa em Jerusalém Oriental no ano passado, Haj Ibrahim Ahmad Hawa olhou para a barreira de separação em torno de Jerusalém com o assentamento israelense de Maale Adumim no fundo

ONU 'hostil'

Apesar de Israel ter nascido a partir da resolução da ONU pela partilha da Palestina, aprovada exatos 65 anos antes, em 29 de novembro de 1947, seus governos costumam acusar a organização de "hostilidade" contra o país e de pretender impor uma solução multilateral ao problema com os palestinos.

"Temo que a Autoridade Palestina possa usar a ONU como um clube político contra Israel", afirmou o senador republicano americano Lindsey Graham.

O republicano e outros congressistas americanos apresentaram um projeto de lei ao Congresso que retiraria os fundos que os Estados Unidos destinam à ONU se os palestinos não entrarem em "conversações significativas" para solucionar suas questões bilateralmente.

Apesar de a Casa Branca ter deixado claro que não considerava boa a ideia de mudança do status palestino na ONU, a embaixadora americana na ONU, Susan Rice, pediu que os dois lados comecem a falar de paz "e parem de se provocar em Nova York (cidade sede da ONU) ou em qualquer outra parte".

Foto: Foto: AP

Netanyahu: pressão interna às vésperas das eleições que acontecerão em janeiro

REAÇÃO

Longe de apresentar um comportamento de paz negociada, começa a ser noticiado, que em contrapartida Israel vai autorizar a construção de 3 mil novas casas em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia, em represália a aprovação do novo status da Palestina como Estado observador da ONU.

O governo conservador do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, autorizou a construção de 3 mil moradias e ordenou o "zoneamento preliminar e planejamento de (outras) milhares".

A imprensa israelense disse que o governo busca reforçar sua imagem domesticamente, em frente a rejeição sofrida após à aprovação da medida.

Israel considera toda a cidade de Jerusalém como sua capital indivisível e quer manter faixas de assentamentos na Cisjordânia sob qualquer eventual tratado de paz com palestinos.

A maioria das potências mundiais consideram os assentamentos ilegais por serem em terras capturadas por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Palestinos querem que seu Estado inclua a Faixa de Gaza, que Israel desocupou em 2005 e agora é governada por islâmicos do Hamas.

Isso tudo é mais gasolina no incêndio da relações entre Judeus e Palestinos.


Nenhum comentário: