12 de nov. de 2012

Nada é por acaso, por Ricardo Noblat, para O Globo

BRASIL - Comentário
Nada é por acaso
“Dilma não decepcionou a plateia no seu papel aclamado de presidente sempre à beira de um ataque de nervos.”

Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Postado por Toinho de Passira
Texto de Ricardo Noblat , para O Globo
Fontes: Blog do Noblat

O jantar fora razoavelmente bem, já que a comida servida no Palácio da Alvorada tem fama de ser pobre em sabor.

Tomava-se cafezinho e jogava-se conversa fora sentados em confortáveis poltronas – a anfitriã Dilma Rousseff e as estrelas mais reluzentes do PMDB e do PT. Lula não compareceu.

Foi quando o senador Valdir Raupp (RO), presidente do PMDB, protagonizou o único momento de tensão do encontro.

Avisados com antecedência da indigestão que o assunto causaria na presidente, os convidados haviam evitado falar a respeito de qualquer coisa que lembrasse reforma ministerial.

O assunto pairava sobre eles como se fosse uma nuvem. E como uma nuvem se dissiparia mais tarde não fosse Raupp.

Alguém falou sobre Minas Gerais e Raupp mandou a prudência às favas:

- Não seria hora de robustecer a presença de Minas no governo? - perguntou.

A conversa cessou de repente.

Lorota! Quem tinha esse costume era Tancredo Neves, o presidente eleito que morreu sem tomar posse em 1985.

Dilma não decepcionou a plateia no seu papel aclamado de presidente sempre à beira de um ataque de nervos.

Apenas esqueceu os palavrões usados em despachos com subalternos.

“A hora não é essa e eu não pretendo tratar tão cedo de mudanças no governo. É assunto que abordarei no momento apropriado “, encaixou Dilma.

Sabe quem ali, na frente dela, olho no olho, ousou contestá-la? Adivinhe...

Ninguém.

Sarney salvou a pátria e o jantar. “Contaram-me uma piada nova”, disse ele.

Enquanto Dilma se recompunha, os demais circunstantes se mostraram vivamente interessados em ouvir a piada. Aí Sarney contou-a.

- Quando Hebe Camargo chegou no céu, o anjo que a recebeu indagou: “Uai! Cadê o Sarney?”

As risadas foram intermináveis. Até Dilma sorriu.

O encontrou chegou ao fim sob a atmosfera de “estamos juntos até a vitória em 2014”.

Estamos juntos em termos...

O PMDB continua se achando sub-representado no governo.

Michel Temer é o vice-presidente? E daí? Só ele ganha com isso.

O partido paga para que Temer possa morar no Palácio do Jaburu, a poucos metros do Palácio da Alvorada.

Renan Calheiros deverá suceder Sarney na presidência do Senado? E daí?

Somente ele tem a ganhar com isso.

Somente Henrique Eduardo Alves tem a ganhar se suceder Marco Maia (PT) na presidência da Câmara dos Deputados. Henrique e seu fiel parceiro, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Edison Lobão (PMDB-MA) é o ministro das Minas e Energia. Mas quem manda de fato no pedaço dele é a própria Dilma.

O PP tem o Ministério das Cidades. E somente esse ministério vale mais do que todos os ministérios do PMDB reunidos.

Ocorre o mesmo com o PSB, que comanda o poderoso da Integração Nacional.

"Os ministérios que temos não garantem a eleição de um só vereador", exagera um dos líderes do PMDB.

Se Dilma não der um jeito nisso, mas chegar em 2014 pronta para se reeleger, a maior fatia do PMDB ficará com ela. A menor com a oposição.

Caso Dilma não chegue bem, o PMDB simplesmente poderá trocá-la por Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco, aspirante à eleição presidencial.
*Acrescentamos subtítulo e foto da publicação original

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