Ayres Brito, a última sessão: humor e humanidade
BRASIL – Supremo Tribunal Federal Ayres Brito, a última sessão: humor e humanidade Para o ministro Carlos Ayres Britto, a última década passou “em um piscar de olhos”. Integrante do Supremo Tribunal Federal (STF) desde junho de 2003, o magistrado presidiu nessa quarta-feira sua última sessão na Corte em meio a homenagens de colegas, parentes e representantes da advocacia. Britto, que completa 70 anos no domingo e que, por isso, terá de deixar o STF, se emocionou com os discursos de reverência e disse que se sente honrado e alegre por ter tido a oportunidade de integrar a mais alta Corte do país. Foto: Gervásio Baptista/SCO/STF Postado por Toinho de Passira O Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou a sessão desta quarta-feira com uma homenagem ao presidente da corte, Carlos Ayres Britto, que participa de sua última reunião antes de se aposentar. Britto completa 70 anos no domingo e, pela norma, precisa deixar a corte. O decano do Supremo, Celso de Mello, iniciou a sessão de elogios a Britto. Depois, fizeram o mesmo o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, e o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcante. Celso de Mello lamentou que a idade-limite para a aposentadoria não seja maior do que os atuais 70 anos. Neste caso, disse ele, "o país e particularmente o STF poderiam continuar beneficiando-se da valiosa atuação, nesta corte, do eminente ministro Ayres Britto, cujos julgamentos luminosos tiveram impacto decisivo na vida dos cidadãos desta república e das instituições democráticas deste país". O decano disse ainda que a obra de Ayres Britto vai perdurar: "Os grandes juízes nunca desaparecem. Eles permanecem presentes na memória e no respeito dos seus jurisdicionados para sempre". Gurgel destacou a "condução magnífica" dada por Britto ao julgamento do mensalão. Ophir disse que "a cidadania deste país tem muito orgulho de ter um filho, um republicano, um brasileiro como vossa excelência". A família de Britto estava presente. O presidente do tribunal chorou enquanto ouvia as homenagens. O presidente da corte disse ainda que se orgulha de sua passagem pela corte:" Eu sou um homem feliz porque estou chegando ao fim do meu mandato e do meu período no Supremo com saúde, ânimo, alegria e entusiasmo". Ayres Britto lembrou que o Supremo tem um papel cada dia mais importante na sociedade. “O STF interfere mais e mais no curso da vida. O Supremo está mudando a cultura do país a partir da Constituição”, disse o presidente. Explicou que os ministros são “os guardiões da Constituição, que é o mais legítimo dos documentos jurídicos”. O presidente também brincou com o fato de ser conhecido por causa de seu jeito tranquilo e sereno. “Dizem que sou pessoa calma e dizem que isso é uma virtude. Não vou fazer aqui autolisonja, mas, se tenho coeficiente emocional razoavelmente administrado, é por conta de algumas convicções”, disse. Para o magistrado, a sociedade tem o direito de se tranquilizar “sabendo que a sua causa está com um juiz sereno e equilibrado”. Depois das homenagens, informalmente Ayres Britto falou: - Não temos direito nem ao mau humor, tamanha a honra que é servir nosso país nessa Casa - e pregou o equilíbrio e a calma entre os ministros - Eu entendo que nossas rugas aumentam para que nossas rusgas diminuam. Derramamento de bílis e produção de neurônios não combinam. Ainda antes do começo da sessão, fora do plenário, Britto havia pedido, apoio de líderes de partidos na Câmara e no Senado pela aprovação de aumento salarial para juízes e servidores do judiciário. Segundo o ministro, há quatro anos os salários da magistratura não são atualizados e acumulam perdas inflacionárias de mais de 28%. No caso dos servidores, as perdas são superiores a 54%. Para o presidente do STF, a categoria experimenta um processo de “temerário desprestígio” e essa situação se reflete nos concursos públicos. De acordo com ele, “levas e levas” de servidores estão deixando o Judiciário para carreiras mais atraentes do ponto de vista remuneratório. - A magistratura perde poder de competitividade - disse. - Estamos nos desprofissionalizando. Isso é realidade, não é retórica. No relatório atual do Orçamento, o Executivo limitou o aumento para todas as categorias em cerca de 5% para 2013. Para os servidores do Judiciário, foram reservados de R$ 1,1 bilhão para o aumento. Em resposta a uma ação movida por associações de juízes, ministro do Supremo Luiz Fux determinou, em caráter liminar, que o orçamento de 2013 inclua o pedido de reajuste do Judiciário, fixado em 28,86%. O índice havia sido desconsiderado pelo Executivo na proposta de Orçamento enviada em agosto para apreciação do Congresso. Na sua despedida da presidência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), na véspera, Britto já havia feito discurso em defesa da corporação, ao afirmar que o Poder Judiciário é mais exigido e cobrado e o menos perdoado. Ele disse também que o Poder é o pior remunerado e que sofre privações por não poder fazer greve e nem ter cargos de confiança a seu dispor. - O Poder Judiciário é o mais cobrado, o mais exigido e o menos perdoado. E o mais sacrificado em vedações. Não pode fazer greve. Não pode se sindicalizar. Não tem hora extraordinária. Não tem cargo de confiança e não tem autonomia financeira. É o único que se aposenta obrigatoriamente aos 70 anos - disse Ayres Britto.
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