28 de mai. de 2012

Petrobras suspendeu encomenda de navios pernambucanos

PERNAMBUCO - ECONOMIA
Petrobras suspendeu encomenda de navios pernambucanos
Após a entrega festiva do petroleiro João Cândido, com atraso de 22 meses, Estaleiro Atlântico Sul (EAS) em Pernambuco, que chegou a empregar 11 mil trabalhadores, está ameaçado, com a decisão da Transpetro, subsidiária da Petrobras, em suspender o contrato de compra e venda de 16 dos 22 navios encomendados, no valor de R$ 5,3 bilhões. A Transpetro deu um prazo até 30 de agosto para o estaleiro encontrar novo parceiro tecnológico, em substituição à Samsung, que saiu do EAS no início do ano, para reverter a suspensão do contrato.

Foto: Aluísio Moreira/SEI

POLEGARES ERGUIDOS - Presidente da Transpetro, Sergio Machado; o governador de Pernambuco, Eduardo Campos e a presidente da Petrobras, Maria das Graças Silva Foster na cerimônia de lançamento do navio João Candido

Postado por Toinho de Passira
Texto de Adriana Guarda- para o Jornal do Comércio
*Acrescentamos subtítulo, foto e legenda a publicação original
Fontes: Veja, O Globo, Blog do Jamildo

A festa durou pouco para o Estaleiro Atlântico Sul (EAS). O petroleiro João Cândido mal cruzou a bacia do Porto de Suape, na última sexta-feira, e a Transpetro decidiu suspender o contrato de compra e venda de 16 dos 22 navios encomendados à empresa, com valor de R$ 5,3 bilhões. O estaleiro pernambucano terá até o dia 30 de agosto deste ano para cumprir as exigências da estatal, que incluem o contrato com um parceiro tecnológico para a construção dos navios, um plano de ação e cronograma confiável de entrega das embarcações e um projeto de engenharia para que os petroleiros atendam às especificações do contrato. Se o EAS não conseguir obedecer as exigências até o prazo, os contratos poderão ser rescindidos.

Apesar da comemoração da entrega de seu primeiro navio na sexta-feira passada, os sócios do Atlântico Sul (Queiroz Galvão e Camargo Corrêa) já sabiam da decisão do cliente, que foi tomada dois dias antes. De comum acordo, na última quarta-feira, a estatal e os sócios do empreendimento assinaram o aditivo contratual de suspensão da encomenda.

Do total de 22 navios contratados dentro do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef), apenas seis navios ficaram de fora da suspensão, porque ainda estão cobertos pelo contrato de transferência tecnológica entre o EAS e a Samsung Heavy Industries (SHI). Apesar de ter deixado a sociedade no estaleiro em março (detinham 6%), os coreanos já receberam US$ 60 milhões pela parceria técnica e terão que concluir esses seis petroleiros.

Detalhe do caderno de economia do Jornal do Comércio desta segunda-feira

Símbolo da retomada da indústria naval, EAS enfrenta avalanche de problemas:

• Estaleiro e navio começaram a ser construídos simultaneamente. O EAS foi criticado por receber encomenda enquanto ainda era virtual.
• O estaleiro contratou seus principais guindastes de uma empresa falida na China.
• Teve que refazer a compra e atrasou a construção do 1º navio.
• A qualificação da mão de obra foi um dos principais desafios. Chegou a inflar o quadro, atingindo 11 mil funcionários para dar conta das encomendas.
• A coreana Samsung deixou a sociedade em março deste ano e complicou ainda mais a vida do EAS, que enfrenta problemas de gestão.

A decisão da Transpetro coloca o EAS numa situação financeira ainda mais caótica. Durante o período de suspensão não serão aportados recursos na construção dos navios. Em nota encaminhada à imprensa a estatal também informa que não será responsável por custos incorridos pelo estaleiro em decorrência da suspensão. Em 2011, o Atlântico Sul amargou um prejuízo de R$ 1,4 bilhão e os sócios foram obrigados a fazer vários aportes para manter a operação do empreendimento.

Além de um parceiro tecnológico, o EAS espera atrair um sócio que compre participação de 30% no empreendimento e faça um aporte de US$ 400 milhões para salvar o fluxo de caixa da empresa.

Uma fonte do grupo dos sócios diz que as negociações estão acontecendo com três players japoneses do setor: Ishikawajima-Harima, Mitsui e Mitsubishi.

Segundo informações do mercado, o EAS também estaria em conversas avançadas com a empresa polonesa Remontowa e a companhia de engenharia LMG. A Remontowa entraria com tecnologia, e a LMG, com projetos.

Procurado ontem pela reportagem, o EAS disse que ainda vai avaliar se o pronunciamento sobre o assunto será feito pela diretoria do empreendimento ou pelos sócios.

Foto: Aluísio Moreira/SEI

DISCURSO DE EDUARDO CAMPOS - "São centenas de filhos de cortadores de cana-de-açúcar que entregam o maior e melhor navio feito pelo talento do povo brasileiro", disse o governador diante dos 5 mil funcionários do EAS, que agora estão com os empregados ameaçados. Eduardo procurado por jornalistas não quis se pronunciar sobre a suspensão do contrato.

O silêncio da presidente da Petrobras Maria das Graças Foster durante a solenidade de entrega do João Cândido, na última sexta-feira, foi um prenúncio dos maus ventos para o Estaleiro Atlântico Sul (EAS). Entrou muda e saiu calada, evitando o constrangimento de fazer festa quando, na verdade, se formava uma tempestade.

Graça recebeu carta branca da presidente Dilma Rousseff para pressionar os estaleiros a avançar com as encomendas nacionais. Foi ela quem intermediou a fracassada negociação com os coreanos da Samsung Heavy Industries (SHI), na tentativa de que eles aumentassem de 6% para 30% sua participação no EAS.

Na festa em Suape, deixou o discurso para o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, prestes a deixar a presidência da estatal.

Segundo informações do mercado, Machado estaria com os dias contados na presidência da Transpetro (que ocupa desde o primeiro governo Lula), porque não conseguiu fazer o Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef) deslanchar. Lançado há 7 anos, o programa que encomendou 49 embarcações a estaleiros brasileiros, com investimento de R$ 10,8 bilhões, só conseguiu entregar dois navios: o Celso Furtado (no Rio, em novembro de 2011) e o João Cândido.

Os dois sofreram grandes atrasos. O petroleiro fluminense com 13 meses e o pernambucano com 20 meses. Fabricar navios no País foi uma das bandeiras do governo Lula e continua sendo na gestão de Dilma, que chegou a ser batizada de madrinha” da indústria naval por seu empenho para fazer emergir o setor, ainda durante o governo de seu antecessor.

Foto: Arquivo

Dilma não quis participar da inauguração que se seguiria da má notícia, mas esteve por aqui participando da inauguração fajuta, há dois anos, durante a pré-campanha presidencial

A decisão de Sérgio Machado de suspender as encomendas do EAS e de criar um sistema de fiscalização dos estaleiros com encomendas seria uma reação, diante das pressões de Graça Foster. Durante a cerimônia no EAS, o ex-senador cearense chegou a afagar a chefe com elogios, repetindo título de madrinha” da indústria naval para ela, que sequer esboçou um sorriso ao ouvir o comentário.

Prestes a completar 9 anos à frente da Transpetro no próximo dia 17, Machado é um dos poucos remanescestes da diretoria da Petrobras pré-Graça Foster. A expectativa era que ele deixasse o cargo logo após a entrega do João Cândido, apesar de sua ligação com o PMDB e de gozar de bom trânsito entre os líderes do partido no Senado.

Em nota encaminhada ontem à imprensa, a Transpetro diz que vai criar o Setor de Acompanhamento dos Processos de Produção (SAP), que terá como função estimular os estaleiros a melhorarem seus padrões de produtividade, a partir de acompanhamento e auditoria de todas as etapas da linha de montagem dos navios. Até agora, a fiscalização estava focada em aspectos de qualidade, prazos e pagamentos. O SAP vai acompanhar o processo de forma mais ampla, apontando gargalos e soluções para que os prazos de construção no Brasil sejam reduzidos progressivamente.

Foto: Guga Matos/JC Images

Funcionários do Estaleiro Atlântico Sul festejam a entrega do navio em Suape

Durante a festa de entrega do João Cândido, Machado se limitou a dizer que o EAS foi multado por conta do atraso na entrega do petroleiro, mas não informou o valor da multa e disse que a diretoria do empreendimento teria 30 dias para justificar os motivos. Pelo contrato, dependendo da argumentação, a penalidade pode ser suspensa ou ter o valor reduzido. O governador Eduardo Campos, que esteve presente em todas as solenidades festivas do EAS, evita comentar as dificuldades da empresa.

Questionado se acreditava que o EAS entregaria os próximos navios com intervalos de até quatro meses (conforme garantiu em seu balanço), o presidente da Transpetro respondeu de forma evasiva. “Não tenho dúvida. O estaleiro tem tecnologia e um povo com coração pulsando para trabalhar. (esses problemas) não vão matar a indústria naval, minimizou. O momento era de festa e ele deixou a má notícia chegar depois aos pernambucanos.


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