11 de mai. de 2012

Obama assume causa gay como tema de campanha

ESTADOS UNIDOS – ELEIÇÕES 2012
Obama assume causa gay como tema de campanha
O presidente americano, nos primeiros dias de campanha oficial pela reeleição, trouxe para debate o apoio ao polêmico tema do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Analistas dizem que foi um risco calculado: o candidato perde o voto dos conservadores, mas ganha dos liberais, dos jovens e é claro da imensa comunidade gay. A declaração segundo alguns pode até irrigar com muitos dólares extras a campanha do presidente. O provável opositor de Obama, Mitt Romney já se pronunciou em muitas ocasiões ser contra o casamento gay e não gostou nada ver o debate da campanha, deixar a seara da economia, desfavorável para Obama, para navegar na diversidade sexual.

Foto: Getty Images

O presidente Barack Obama, defendeu o casamento gay falando a ancora Robin Roberts do programa Good Morning America, no seu gabinete na Casa Branca, em Washington, nesta quarta-feira, 9

Postado por Toinho de Passira
Fontes: BBC Brasil, Washington Post, The New York Times, USA Today, The Guardian, Blog da Campanha Obama

O presidente americano, Barack Obama, declarou nesta quarta-feira ser pessoalmente a favor do casamento gay, um dia após um referendo na Carolina do Norte inserir na legislação local uma emenda proibindo uniões entre pessoas de mesmo sexo no estado.

Obama nunca havia apoiado abertamente o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Quando questionado sobre o tema, dizia que sua visão estava "evoluindo". O assunto ainda é tabu nas eleições americanas, bastante polarizadas ente setores moderados e conservadores, representado, sobretudo pelo grupo republicano Tea Party.

Na entrevista, ao programa da TV americana: “Good Morning America”, Obama disse que sempre defendeu que "os gays e as lésbicas americanas fossem tratados com Justiça".

A declaração deve fazer o tema ganhar força na campanha eleitoral. A seis meses da eleição – e com outros referendos sobre o mesmo tema agendados em outros Estados da federação –, Obama esvazia o discurso dos críticos, que até então o acusavam de querer ganhar o apoio dos dois lados ao não se pronunciar claramente sobre o assunto.

Na terça-feira, a Carolina do Norte, em referendo popular, juntando-se a outros 30 estados americanos, definiu casamento como a "união entre um homem e uma mulher", sem permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo ou sequer a união civil. O resultado mostrou que os que são contra, a causa gay, somam 58% e os favoráveis 42%.

Obama já havia, no ano passado derrubado a regra do "Não pergunte, não conte" (Don’t ask, don’t tell), que requeria que militares gays servindo nas Forças Armadas mantivessem o silêncio sobre suas preferências sexuais, mas evitava falar sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Foto: Arquivo

Os militares gays puderam pela primeira vez, ao retornar de uma missão, ser recebido nas base militares, com o afeto devido, pelos companheiros do mesmo sexo sem temer quaisquer reprimenda.

No dividido cenário político americano, agradar liberais e conservadores em temas sociais tem se tornado cada vez mais difícil. Dentro do Partido Republicano, tradicionalmente mais conservador, e adversário do Democratas de Obama, nas últimas eleições têm sido cada vez menos moderado e mais linha-dura.

As divergências entre moderados e conservadores fazem com que o quadro dos direitos homossexuais varie entre os diferentes Estados americanos.

Atualmente, o casamento gay é permitido em nove estados, sendo que sete se situam no Nordeste do país. Em outros dez é permitida a união civil ou as chamadas “parcerias domésticas” entre pessoas do mesmo sexo.

No sudeste americano, nenhum Estado permite qualquer um desses cenários. No meio-oeste, apenas três permitem um dos dois sistemas.

Comentando a derrota no referendo da Carolina do Norte, a organização Human Rights Campaign, favorável ao casamento gay, disse que o resultado foi "um revés temporário para o nosso movimento", mas isso não desfaz o "progresso tremendo e o crescente apoio (à causa) em todo o país".

Segundo a ONG, em 2004, emendas contra o casamento gay costumavam contar com uma base de apoio que ultrapassava 70% dos eleitores. Quatro anos depois, esse apoio já havia caído para a casa dos 50%.

Independentemente da opinião do presidente americano, a decisão de permitir ou não o casamento entre pessoas do mesmo sexo cabe aos Estados Mas Obama vinha sendo pressionado a dizer o que acha sobre a ideia depois que outros membros de sua equipe, incluindo o vice-presidente, Joe Biden, expressaram seu apoio à proposta.

Obama disse à jornalista Robin Roberts, da rede ABC, que resolveu assumir sua posição depois de notar que membros gays de sua própria equipe eram "incrivelmente comprometidos com relacionamentos monógamos do mesmo sexo e que estão criando suas crianças juntos" e de pensar "naqueles soldados, ou aviadores, ou fuzileiros navais, ou marinheiros que estão lutando por mim, e apesar disso se sentem constrangidos".

"No fim, o que mais nos importa (a ele e à esposa, Michelle Obama) é a forma como tratamos as pessoas. Somos ambos cristãos praticantes e obviamente esta posição pode ser considerada como contrária à visão de outros. Mas quando pensamos na nossa fé, o que está na raiz não é apenas Cristo se sacrificando por nós, mas a regra de ouro, sabe, trate os outros como quer ser tratado".

Obama: "Eu penso que os casais de pessoas de mesmo sexo deveriam poder se casar".
Em 1996, quando o instituto Gallup começou a colher seus dados, 68% dos americanos eram contra o casamento gay e 27% a favor. Dois anos atrás a diferença desapareceu e hoje os que apoiam o casamento gay são ligeiramente mais numerosos dos que se opõem (50% a favor, 48% contra).

Outra pesquisa do jornal Washington Post e da rede ABC mostra que em 2004 os que eram contra o casamento gay superavam os favoráveis (55% a 41%). Hoje a relação se inverteu e os que apoiam são 55% contra 43% que se opõem.

Analistas ainda tentam avaliar o impacto que a declaração de Obama pode ter na sua candidatura. É possível que sua posição complique as chances de uma vitória em Estados-pêndulo como a Carolina do Norte – que na terça-feira reafirmou a sua proibição ao casamento gay –, Virgínia e Flórida.

Por outro lado, muitos analistas acham que é improvável que os eleitores negros, que se sentiram valorizados com a eleição de Obama, muitos deles no Sul do país, deixem de votar pela reeleição de Obama por causa de um único ponto polêmico.

Se as eleições fossem hoje, as pesquisas indicam que Obama venceria seu rival, Mitt Romney, na Carolina do Norte, por apenas 2,4 pontos percentuais. Entre os afroamericanos da Virginia, venceria por 97% a 1%.

O que tem sido apontada como benefício para Obama é a injeção de ânimo na sua base de militantes, frustrada com a insistência do presidente em declarar sua posição quando tantos representantes do partido já são favoráveis ao casamento gay.

Mitt Romney, o candidato republicano que vai enfrentar Obama, tem uma posição contrária a união legal de pessoas do mesmo sexo, através do casamento.
O analista de política e autor do blog The Fix, do Washington Post, Chris Cillizza, apontou que "a base LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) não apenas é uma grande parte da base democrata, como compreende algumas das pessoas mais politicamente ativas do partido".

Além disso, disse, "não é segredo para ninguém que, para vencer, o presidente Obama precisa de um apoio muito consolidado entre as pessoas entre 18 e 29 anos de idade – o grupo que mais apoia o casamento gay".

Análises dos financiamentos da campanha de Obama já mostraram que o candidato, além de ser movido pelas pequenas doações (abaixo de US$ 200), também recebe um de cada seis dólares que vão para o seu caixa de doadores homossexuais.

A declaração de Obama gerou reações positivas e negativas. O virtual candidato republicano à Presidência, Mitt Romney, disse que sua visão é a de que o casamento é apenas entre um homem e uma mulher, e as uniões civis são "suficientes" e "apropriadas" para contemplar os direitos dos homossexuais.

Um dos primeiros a se manifestar foi o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, um ex-Democrata que se elegeu pelo partido Republicano e agora é independente. Bloomberg disse que a decisão de Obama de declarar seu apoio ao casamento gay, que é permitido em Nova York, é "um ponto de inflexão na história dos direitos civis americanos".

The New York Times destacou que a equipe de campanha do presidente Obama, já nesta quinta-feira aproveitou a declaração de apoio ao casamento gay, do presidente para arrecadar dinheiro. Obama enviou um e-mail aos seus seguidores pedindo doações, no texto sua declaração:

"Eu acredito que, aos olhos da lei, todos os americanos devem ser tratados igualmente. E onde os estados promulgar o casamento homossexual, nenhum ato federal deveria invalidá-los ", escreveu Obama. "Se você concorda, fique comigo."

A campanha de Mitt Romney agora luta para tirar do candidato a imagem de intolerante sobre a questão e tentam retornar o debate sobre economia como o tema mais importante da campanha.

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