6 de mai. de 2012

Cinco anos depois, Cacciola está livre, leve e solto

BRASIL - CORRUPÇÃO
Cinco anos depois, Cacciola está livre, leve e solto
Pivô de um dos maiores escândalos financeiros da história do Brasil, O ex-banqueiro Salvatore Alberto Cacciola conseguiu liberdade condicional, no ano passado, após cumprir um terço da pena. Havia sido condenado 13 anos de prisão pelos crimes de gestão fraudulenta e desvio de dinheiro público. Agora, com a extinção da pena, está livre para ir e vir, inclusive para Itália sua terra natal, onde é sócio de um luxuoso hotel, possivelmente comprando com o dinheiro desviado no Brasil. Do escândalo, segundo a revista Veja, seu patrimônio saiu intacto à custa da ruína dos 1.300 investidores dos fundos do Marka.

Foto: Paula Giolito/Folhapress

O ex-banqueiro Salvatore Cacciola, 68, tornou-se um dos maiores símbolos brasileiros do empresário inescrupuloso e confiante na impunidade, quando saía do Complexo Penitenciário de Bangu, Rio de Janeiro, liberado pela justiça, após cumprir módicos três anos e 11 meses de cadeia, em agosto do ano passado.

Postado por Toinho de Passira
Fonte: O Globo , Veja

Um mês após conseguir a extinção completa de sua pena na Justiça do Rio, o ex-banqueiro Salvatore Alberto Cacciola, de 68 anos, começa discretamente a retomar uma parte da rotina que ficou para trás com o escândalo do Banco Marka, em 1999. Em entrevista ao GLOBO por e-mail, a primeira exclusiva a um jornal há pelo menos quatro anos, Cacciola diz que tem propostas de emprego e que está se “adaptando à liberdade”.

“Tenho lido tudo que posso e avaliado as propostas de trabalho que têm aparecido no Brasil e na Itália” , afirma o ex-dono do Banco Marka. “(Quero) Voltar a fazer o que faço desde os 12 anos de idade, trabalhar”.

Segundo o ex-banqueiro, nada relacionado ao mercado financeiro. Mesmo livre da pena de 13 anos de prisão, ele não pode atuar pelos próximos dez anos em atividades sob a área de fiscalização do Banco Central (BC), por condenação da própria autoridade monetária. Mas preferiu não detalhar quais seriam essas propostas de trabalho. “Como perdi o emprego no Fortyseven e a Europa está em crise, ainda não defini.”

O Fortyseven é um hotel, em Roma. Mais do que um funcionário, Cacciola tinha participação societária no hotel, mas não entrou em detalhes sobre o assunto. Seu filho, que comandava o hotel, mora novamente no Brasil. O Fortyseven tem 47 quartos e uma diária pode custar 400 a noite na suíte de luxo.

Cacciola afirma que quer recuperar sua “privacidade”. Mesmo assim, o caso Marka invariavelmente volta à tona. Em abril, a Justiça Federal condenou Cacciola e outros envolvidos a uma multa de pelo menos R$ 6 bilhões. Foram condenados também a BM&FBovespa, o BB Investimentos e ex-diretores do Banco Central. Indagado se tem meios pagar sua parcela da multa, ele diz:

“Claro que não tenho e não pretendo fazer nada diferente do que estou fazendo: me defendendo.” E acrescenta: “Se houve (prejuízo), com certeza não foi por causa do Banco Marka, mas por quem conduziu de forma desastrosa a flutuação do câmbio em janeiro de 1999.”

Os problemas de Cacciola com a Justiça começaram em 1999, quando o Marka, sediado no Rio, teve problemas na maxidesvalorização do real, em 1999. O banco fez apostas erradas no mercado de câmbio e precisou ser socorrido pelo Banco Central (BC), numa operação que causou prejuízo de R$ 1,5 bilhão aos cofres públicos, valor que considera também o resgate do banco FonteCindam. O polêmico socorro envolveu denúncias de chantagem e informações privilegiadas, além de ter sido alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).

Cacciola foi o único envolvido no caso a ser preso. Indagado sobre o porquê, ele se recusa a comentar: “Esta pergunta deve ser feita ao MP e aos juízes que me condenaram e prenderam.” O ex-banqueiro alega que não tem mais “nenhum interesse” em tentar mostrar sua versão do escândalo do banco, como fez durante a CPI dos Bancos, que investigou o socorro recebido pelo Marka e em sua autobiografia “Eu, Salvatore Cacciola, confesso.”

É na autobiografia, publicada em 2001, que Cacciola revela parte de sua vida. Ele conta, por exemplo, como se adaptou na carceragem da Polinter, no Rio, onde ficou 37 dias preso em 2000, antes de fugir do país. Cacciola chegou a cozinhar frutos do mar para os presos.

Segundo o ex-banqueiro, foi com essa capacidade de adaptação que sobreviveu aos três anos e 11 meses de prisão no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste do Rio, de onde saiu em liberdade condicional em agosto do ano passado.

“Esta é uma forte característica minha, caso contrário já teria morrido”, diz.

Sobre sua fuga do país, afirma que não tem arrependimentos. Ele saiu do Brasil em 2000, numa operação cinematográfica após receber um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal (STF). Na mesma noite que deixou a Polinter, ele viajou de carro a Paraty (RJ), de onde seguiu ao interior de São Paulo. Embarcou de avião para Santana do Livramento (RS) e cruzou a fronteira com o Uruguai. De Montevidéu, seguiu a Buenos Aires e, depois, para a Itália.

Em Roma, o ex-banqueiro permaneceu até 2007 protegido da extradição por sua dupla cidadania — ele é italiano, nascido em Milão, mas naturalizado brasileiro. E foi flagrado no país vivendo uma dolce vita. Só foi novamente preso em agosto do mesmo ano, quando foi visitar a namorada, em Mônaco. Extraditado ao Brasil, voltou a ser motivo de polêmicas em 2008. Foi acusado de ter comido lagosta na prisão, no Rio. “Claro que não (comi a lagosta), foi outra invenção da imprensa”.

Charge: IQUE - Jornal do Brail (RJ)

Cacciola, um preso cheio de regalias, satirizado por IQUE, quando da denúncia de que ele almoçava lagosta, no presídio.


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